Vacina produzida por universidades paulistas pode acabar com a tuberculose

Vacina, que vem sendo testada desde 1992 em animais de laboratório, demonstrou ter capacidade tanto de prevenir quanto de curar a moléstia

qui, 22/02/2007 - 17h25 | Do Portal do Governo

Uma pesquisa conduzida por cientistas da Unicamp e da USP está abrindo novas perspectivas para o combate da tuberculose, doença que provoca a morte de três milhões de pessoas a cada ano no mundo, a maioria delas de baixa renda. O objetivo da cooperação foi desenvolver, com a ajuda de recursos da nanotecnologia, um sistema que permitisse a veiculação e a liberação controlada de uma vacina de DNA no organismo humano.

A vacina, que vem sendo testada desde 1992 em animais de laboratório, demonstrou ter capacidade tanto de prevenir quanto de curar a moléstia. A expectativa dos pesquisadores é que, caso os ensaios clínicos sejam positivos, o biofármaco chegue ao mercado num prazo ligeiramente superior a cinco anos. Estão envolvidos no trabalho especialistas do Núcleo de Pesquisas em Tuberculose (NPT) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, vinculada à USP, e do Departamento de Processos Biotecnológicos da Faculdade de Engenharia Química (FEQ), ligada à Unicamp.

De acordo com o coordenador do NPT, professor Celio Lopes Silva, os resultados dos testes realizados até o momento com a vacina de DNA, também conhecida como gênica, são altamente promissores. Ele destaca que o processo de desenvolvimento do biofármaco já foi devidamente patenteado.

A vacina de DNA, conforme Celio Silva, é considera mais eficaz e segura que a vacina convencional, normalmente preparada a partir de uma parte atenuada do agente causador da doença. Em ambos os casos, o objetivo é induzir o sistema imunológico humano a produzir defesas contra o bacilo da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis), mais conhecido por “bacilo de Koch”, por ter sido identificado pela primeira vez em 1882 pelo cientista alemão Robert Koch. No que se refere à terapêutica gênica, porém, a ação do biofármaco cumpre um processo mais complexo. No lugar de uma proteína, ele veicula a informação genética extraída do microorganismo.

Apesar dos resultados animadores proporcionados pelos testes, os pesquisadores da USP tinham um problema a resolver. Eles precisavam de um veículo que pudesse a um só tempo proteger, transportar e liberar o biofármaco de forma controlada no interior das células. Do contrário, o DNA se degeneraria muito rapidamente e perderia sua capacidade de ação. Ou seja, tinham a necessidade do suporte da Engenharia Química.

Para atender a essas necessidades, o professor Celio Silva associou-se à professora Maria Helena Andrade Santana, do Departamento de Processos Biotecnológicos da FEQ, para a condução de um projeto de pesquisa conjunto. Com experiência no desenvolvimento de micro e nanopartículas que se prestam ao carreamento de fármacos, a docente da Unicamp assumiu, junto com sua equipe, a responsabilidade de criar um veículo específico para o transporte da vacina gênica. Assim, eles projetaram e produziram nanopartículas lipídicas, denominadas lipossomas, para cumprir essa tarefa.

O uso de micro e nanopartículas para o transporte e liberação controlada de fármacos já está consolidado no mundo inteiro e constitui, segundo os pesquisadores, uma tendência irreversível.

Nos ensaios realizados em laboratório, os lipossomas desenvolvidos pelos pesquisadores da Unicamp demonstraram cumprir com eficiência essa missão. Resta agora produzir um lote-piloto dessas partículas, seguindo as mesmas condições que seriam encontradas na indústria. Ato contínuo, serão iniciados os testes clínicos em humanos. A primeira etapa deve durar cerca de dois anos e a segunda, mais três. “Durante esse período, saberemos qual o grau de toxicidade do preparado e se ele de fato pode vir a se transformar num produto comercial. Caso tudo corra bem, a vacina de DNA pode vir a ser um importante recurso para o esforço de erradicação da tuberculose no mundo”, analisa o professor Celio Silva. De acordo com a professora Maria Helena Santana, o processo de produção dos lipossomas está sendo patenteado.

O desenvolvimento de medicamentos de liberação controlada seria impossível se não houvesse a interação entre pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento.  As pesquisas em torno da vacina de DNA já deram origem a uma dissertação de mestrado e uma tese de doutorado, elaboradas respectivamente por Rogério Silva Rosada e Lucimara Gaziola de la Torre.

Os trabalhos contam com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

País tem 130 mil novos casos/ano

A tuberculose é um flagelo milenar. Atualmente, ela atinge com maior freqüência os integrantes das camadas mais carentes da população. O professor Celio Lopes Silva, do Núcleo de Pesquisas em Tuberculose (NPT) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), explica que as pessoas subnutridas são mais suscetíveis à doença. Atualmente, 2 bilhões de pessoas encontram-se infectadas pelo bacilo de Koch, número que equivale a um terço da população mundial. Destas, cerca de 8 milhões vão desenvolver a enfermidade, sendo que 3 milhões morrerão.

No Brasil, são registrados anualmente 130 mil novos casos. Conforme dados do Ministério da Saúde, o país ocupa o 15º lugar entre as 22 nações responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo.

(Manuel Alves Filho)

Da Unicamp

C.M.