Usuários dos bicicletários da CPTM aprovam serviço

Usuários de Itapevi e Mauá estão satisfeitos, mas reivindicam ajuste de horário e ciclorrede

sáb, 05/07/2008 - 13h40 | Do Portal do Governo

Há 12 anos, o ajudante de caminhoneiro João Rogério Alexandre Silva, de 29 anos, utiliza as composições da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) para ir e vir do trabalho. De onde mora, em Mauá, na Grande São Paulo, até a estação local são quatro quilômetros. Antes, ia e voltava de ônibus. Tinha de sair mais cedo de casa, enfrentava ônibus lotados e chegava a esperar 20 minutos no terminal para embarcar. Há três anos, começou a utilizar bicicleta para esse percurso. “Além de fazer exercício, chego mais cedo em casa”, comemora.

Morador de Ermelino Matarazzo, zona leste da capital, o vigilante Ailson Gomes, 35 anos, também usa o trem para se deslocar ao trabalho. Até então, percorria a pé ou de ônibus um quilômetro para chegar à estação local. Agora, aderiu à bicicleta. Isso, segundo ele, facilitou a sua vida: “Economizo tempo e dinheiro”.

Silva e Gomes fazem parte de um número crescente de passageiros da CPTM que aderiram a bicicleta para chegar às estações da companhia. Tem contribuído para isso a instalação de bicicletários ao lado das estações nos últimos meses. Atualmente, há 12 em funcionamento que dispõem de 3.850 vagas.

Esses espaços se localizam em Mauá (com 1,7 mil vagas), USP-Leste (270), Autódromo (255), Jurubatuba (255), Interlagos (250), Itaim Paulista (250), Jardim Helena–Vila Mara (250), Comendador Ermelino (200), Grajaú (180), Pinheiros (90), Itapevi (70 vagas) e Caieiras (65). Até o final do ano, a previsão é criar mais 14. As contempladas serão as estações Várzea Paulista, Perus, Pirituba, Carapicuíba, Socorro, Ribeirão Pires, São Caetano, Santo André, Ipiranga, Dom Bosco, José Bonifácio, Guaianases, Suzano e Jardim Romano (a ser inaugurada).

O motorista José Carlos Santana, 43, conta que, no bloco de apartamentos em que mora, da CDHU de Ermelino Matarazzo, cerca de 20 pessoas optaram pela bicicleta. O número só não é maior porque “há gente que tem medo de ser atropelada na Assis Ribeiro”, avenida bastante movimentada que dá acesso à estação da CPTM. Antes do bicicletário, Santana lembra que deixava sua bike presa no guard rail da Assis Ribeiro.Desrespeito dos motoristas – Para conhecer um pouco mais sobre esses ciclistas, a CPTM acaba de realizar uma pesquisa. Os resultados devem contribuir para a adequação dos bicicletários e dos que se encontram em planejamento. Foram ouvidos usuários das estações Itapevi, Mauá, Comendador Ermelino, Caieiras, Grajaú e Interlagos. Mas só os dados relativos a Itapevi e Mauá foram tabulados até o momento. Posteriormente, a intenção é estender a pesquisa às outras seis estações que oferecem esse serviço.

Em Itapevi, por exemplo, o objetivo de 97% dos usuários é tomar o trem para chegar ao trabalho. Para os 3% restantes, o motivo é o estudo. Perguntados se gostariam de contar com outro meio de locomoção, 53% responderam “sim” e 47%, “não”, ou seja, a maioria parece satisfeita com o uso de bicicleta e trem.

José Alcalay, chefe da Assessoria de Planejamento Empresarial da CPTM, informa que, a partir dos depoimentos obtidos, a empresa objetiva promover alguns ajustes nos bicicletários, como horário de funcionamento, que terá de seguir o das estações. Como abrem às 6 horas, não atendem os que embarcam para trabalhar ou estudar antes disso. Quem retorna depois das 21 horas, também não consegue utilizá-lo.

A pesquisa apontou que 56% dos ciclistas consideram o desrespeito dos motoristas como a maior dificuldade que encontram durante o trajeto até a estação. “Por isso, para incentivar o transporte por bicicleta é preciso instruir ciclistas e, principalmente, motoristas”, considera Alcalay. A CPTM mantém relacionamento com outros órgãos, como Secretaria Municipal de Verde e Meio Ambiente e Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). O objetivo é implantar uma ciclorrede, para dar acesso seguro e organizado aos ciclistas até as estações da CPTM, onde há bicicletário.

A pesquisa, ainda em andamento, ouviu cerca de 200 pessoas. Em Itapevi, 99% dos usuários são homens com idade média de 34 anos. Em Mauá, a presença feminina também é muito baixa, mas há mais mulheres que em Itapevi. O porcentual de homens atinge 97%, a idade média também é de 34 anos com renda aproximada de R$ 930. Assim como em Itapevi, 97% usam bicicleta para chegar ao trabalho.Único pago – O bicicletário de Itaim Paulista, já no primeiro dia de funcionamento, em maio deste ano, teve todas as suas vagas ocupadas. Daí em diante, vem mantendo a média de 80% a 100% de ocupação. Esse índice contrasta, por exemplo, com o de Pinheiros, cujo nível de ocupação fica em torno de 8%.

José Alcalay, da CPTM, acredita que, à medida que esse serviço for mais divulgado e as pessoas reconhecerem seus benefícios, a tendência – mesmo numa estação como a de Pinheiros – é aumentar o nível de ocupação.

Os usuários não pagam para deixar as bicicletas nesses espaços da CPTM, que contam com funcionário para fazer a segurança. Para utilizá-los, basta fazer o cadastro (mediante apresentação do RG) e levar um cadeado para prender o veículo. O único bicicletário pago é o de Mauá, mantido pela Associação dos Condutores de Bicicletas (Ascobike). Os ciclistas têm de contribuir com taxa diária de R$ 1 ou R$ 10 por mês para os associados. O espaço, cedido pela CPTM, passa atualmente por reformas.

Ciclistas não utilizam capacete

João Rogério Silva já viu muitos acidentes com ciclistas em Mauá. Uma de suas reclamações é com relação ao desrespeito dos motoristas. “Acham que quem anda de bicicleta é coitado, não tem dinheiro”. Mesmo assim, não usa capacete. “Aqui, é muito difícil alguém respeitar esta lei. Acho que falta informação. E, quando usa, os próprios ciclistas tiram sarro”. Ajudante de armazém geral, Pedro Dias de Souza, 45, algumas vezes teve de se lançar com a bicicleta sobre a calçada para não ser atropelado. Os vilões são, geralmente, os ônibus. Também de Mauá, utiliza o bicicletário há seis anos. De sua casa até o local, são 15 minutos. Depois, embarca no trem da CPTM rumo ao Ipiranga, na capital. Faz o trajeto em direção ao bairro paulistano e à vizinha São Caetano há 20 anos. Dono de uma modesta bicicleta, Souza gostaria que o patrão investisse na melhoria das condições do veículo. Capacete, por exemplo, ele sabe que é ideal, mas não utiliza a proteção.

Residente em Ermelino Matarazzo, José Carlos Santana, 43, considera correto o uso do capacete, mas também não o faz. Acha que o percurso até a estação é curto. Motorista, Santana trabalha no Canindé. Vai até o bairro de ônibus e, às vezes, de trem. Chega às 5 horas no bicicletário e, normalmente, só retorna para retirar o veículo depois das 21 horas. No bicicletário de Ermelino já há adequação de horário com a estação: funciona das 4 às 24 horas.

Como o caminho que percorre é tranqüilo, Ailson Gomes também acha que o capacete é dispensável. A solicitação do vigilante é que a CPTM disponibilize mais um funcionário no bicicletário de Ermelino. O grande afluxo de usuários, principalmente pela manhã, causa demora na hora de estacionar as bikes.

Para o oficial de torneiro mecânico Manoel da Costa Silva Filho, 23, a cidade não oferece condições adequadas aos ciclistas. “Precisaria de uma via só para bicicletas”, reivindica. Ele percorre diariamente seis quilômetros até a Estação Mauá, de onde embarca rumo ao Ipiranga. “Se de bicicleta gasto 15 minutos, com o ônibus demoraria meia hora”.

Da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)