Usuários de lan-houses são foco de pesquisa e projeto da TV Cultura

Conexão Cultura vai oferecer pela Internet conteúdo educacional específico a esse público

qua, 11/02/2009 - 13h07 | Do Portal do Governo

Pesquisa pioneira foi base para a criação de um novo produto na Fundação Padre Anchieta, o Conexão Cultura. Ferramenta desenvolvida para integrar as lan-houses de todo o Brasil, por meio de ação de cunho educacional, o projeto tem como meta o estímulo ao uso de material de informação qualificada na Internet.

Para isso, a TV Cultura investiu na elaboração de um aplicativo, para as lan-houses disporem em seus terminais, que permite o acesso à informação de qualidade, entretenimento e serviços com um único clique. Sua atuação baseia-se em três premissas: conteúdo qualificado, recompensa aos internautas e desenvolvimento social, estimulando a formação da cidadania.

Proprietários e internautas serão incentivados a usar o Conexão Cultura através de um sistema de premiação, ainda em estruturação. A iniciativa entra em fase de testes ainda este mês e está prevista para começar a funcionar dentro de três meses. A expectativa é de que atinja dois milhões de frequentadores desses espaços no Brasil. Na cidade de São Paulo, foi firmada parceria com a prefeitura para a instalação do aplicativo em todos os computadores de mais de 300 telecentros.

Há cerca de 90 mil lan-houses em funcionamento no País. Na Grande São Paulo, 34% dos internautas navegam nesses locais. A grande procura por esses espaços estimulou a equipe da Fundação Padre Anchieta a promover investigação sobre seus usuários.

Campus Party – No mês passado, o presidente da instituição, Paulo Markun, divulgou o resultado da pesquisa, que traça o perfil desses internautas na cidade de São Paulo. As informações sobre o Conexão Cultura foram apresentadas ao público no palco da Campus Party, considerado o maior evento de inovação tecnológica e entretenimento eletrônico em rede do mundo. Vários proprietários de lan-houses estiveram presentes.

“Nosso estudo mostra que está mais do que sólido na cabeça das pessoas que a Internet é uma ferramenta indispensável. Uma vez que o acesso se dá principalmente por esses centros, é fato que quem faz a chamada inclusão digital hoje são as lan-houses”, afirmou Markun.

Segundo ele, a intenção de levar o Conexão-Cultura a esses espaços é suscitar a discussão de como eles podem ser importantes para a formação do cidadão. “À medida que a banda larga se socializa em residências, é natural que o movimento das lan-houses caia. Os empresários desse setor precisam conscientizar-se de que o próximo passo é embutir responsabilidade social e cultural no seu produto. Caso contrário, por que o indivíduo vai pagar para acessar a Internet se tiver em casa ou no trabalho?”, destacou durante a palestra o coordenador do Laboratório Brasileiro de Cultura Digital, Cláudio Prado.

O proprietário de lan-house Marco Aurélio Gabriel compartilha da opinião. Ele afirmou que muitas mães ainda veem com preconceito o funcionamento do seu estabelecimento, por terem a falsa ideia de que lojas como a sua são centros de distribuição de drogas e de consulta a sites de pornografia. Para Markun, ações como o Conexão Cultura são formas de desmistificar essa visão. “É importante que instituições abram os olhos para a questão e invistam nessa maneira de incluir digitalmente a população, com qualidade”, concluiu.

Perfil dos usuários – Para vencer o desafio de conhecer um pouco mais sobre o comportamento do público das lan-houses, os pesquisadores da Cultura Data, área de pesquisas da Fundação, usaram um questionário com perguntas abertas e fechadas. Foram ouvidos 349 internautas e 27 donos de lojas de vários bairros, de 10 a 17 de dezembro de 2008.

Uma das principais conclusões que os dados permitiram é que embora os videogames ainda não tenham sido destronados nas lan-houses paulistanas, perdem cada vez mais espaço entre as preferências de seus frequentadores, que agora buscam também comunicação, informação, pesquisa e relacionamento.

A comunicação é a principal atividade, já que nove em cada dez entrevistados (93%) se conectam para trocar mensagens. Usam a Web para enviar e receber e-mails (83%), participar de sites de relacionamento (76%) e, mesmo os que têm computador em casa, usam o serviço com frequência. A maioria tem até 24 anos, pertence às classes C e D e, além de trocar mensagens, costuma assistir aos vídeos/filmes (23%) e ouvir rádio/ver TV, em tempo real (19%).

Os internautas visitam as lojas pelo menos uma vez por semana e ficam conectados por mais de uma hora. O resultado indica ainda que as lan-houses são procuradas também para pesquisas escolares (31%), de cursos de qualificação (14%) e oportunidades de emprego (18%).

Inclusão digital – A pesquisa revelou ainda que o uso das lan-houses está-se incorporando ao hábito dos entrevistados, independentemente ou não de contar com outras possibilidades de acesso. Dos usuários consultados, 17% as têm como única forma de acesso. Para 40% ele é feito também na casa de amigos e, para mais 17%, na própria casa, enquanto 15% usam a Web no trabalho e 12% na escola.

Isso tem vínculo com o fato de que mais da metade dos usuários (55%) assimilou o custo do acesso e cerca de um em cada três (36%) acha barato o valor que paga pelo uso dos equipamentos, que varia de R$ 1,50 a R$ 2,00 a hora.

A maioria desses internautas é jovem. Mais da metade dos frequentadores tem até 24 anos (57%), enquanto apenas 9% têm acima de 45 anos. Os sites mais acessados em geral são os de relacionamento MSN e Orkut, o de busca Google, e os de notícias que também são provedores, como UOL e Terra.

Todas as classes sociais estão presentes nas lan-houses: 47% são da AB, 50% da C e 3% das D e E. Os homens são pequena maioria nesse público (56%).

Comunicação – 93%
Lazer – 80%
Informações/Serviços on-line – 40%
Serviços Financeiros – 15%
Treinamento/Educação – 34%

Lan-house: dez anos de trajetória

O presidente da Associação Brasileira dos Centros de Inclusão Digital, Mário Brandão, é um entusiasta do projeto da TV Cultura. Por isso se diz empenhadíssimo na adaptação do Conexão Cultura às lan-houses. “Estamos trabalhando em conjunto para criar formas de promover o conteúdo,” conta.

Para explicar a importância da iniciativa, Brandão considera essencial contextualizá-la, tomando como base a trajetória das lan-houses.

Elas surgiram há dez anos, no vácuo dos fliperamas, então em plena decadência. Por isso, na época, 95% da receita dessas casas advinham dos jogos. Em 2002, a Internet começou a se tornar popular e passou a monopolizar a atenção dos usuários de computador. Isso gerou novo modelo de consumo nas lan-houses e os sites de relacionamento tornaram-se campeões de acesso.

“Porém, a partir de 2007, é possível observar a definição de novo perfil para esses espaços. Eles estão virando centros de socialização e de múltiplos serviços”, afirma Brandão. Ele explica que é por isso que mesmo as pessoas com Internet disponível em casa as frequentam, porque em muitos casos elas têm o papel de facilitadoras de acesso, promovendo a inclusão digital.

“Aí é que entra a TV Cultura, com a proposta inovadora, que observa nessa multiplicidade de usos da lan-house a oportunidade para a disseminação de cultura, com oferta de informação selecionada”, destaca.

Maria Lúcia Zanelli – Da Agência Imprensa Oficial