USP: Soja é a matéria-prima mais viável para produzir biodiesel

Pesquisa estimou o preço do litro do combustível em cinco regiões com a utilização do girassol, mamona, dendê e caroço de algodão

qua, 24/05/2006 - 16h38 | Do Portal do Governo

A soja é a matéria-prima mais viável para a utilização imediata na produção de biodiesel. Segundo uma pesquisa realizada no Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, a estrutura da produção, distribuição e esmagamento dos grãos torna seu uso vantajoso. O estudo permitiu verificar que o preço do biodiesel com essa matéria-prima comprada no mercado variou entre R$ 0,902 por litro, na região Norte, e R$ 1,424, no Sul do Brasil.

A pesquisa estimou o preço do litro do combustível em cinco regiões do País com a utilização da oleaginosa e também de girassol, mamona, dendê e caroço de algodão, para unidades com produção de 34.800 litros por ano. Segundo o pesquisador Mauro Osaki, da Esalq, no Nordeste a matéria-prima mais barata para produção do combustível é o caroço de algodão, que levaria a um custo de R$ 0,712 por litro.

“A oferta, porém, depende da demanda pela produção de fibras, de onde se origina o resíduo de algodão usado na elaboração do biodiesel”, explica Osaki. “O preço da soja estava baixo também devido à queda da cotação no mercado internacional e a desvalorização do dólar”.

De acordo com o pesquisador, o óleo de girassol é o que tem mais potencial para uso em biodiesel. “Comprando a matéria-prima, o litro do combustível custaria R$ 0,859 no Sudeste e R$ 0,889 no Sul do Brasil”, Na região Centro-Oeste, que possui clima mais favorável, se o plantio fosse incorporado à cadeia produtiva do biodiesel, o preço do litro seria de R$ 1,034.”

Alternativas

Osaki ressalta, porém, que o girassol precisará de um investimento a longo prazo em pesquisa de sementes, tecnologia de plantio e logística de distribuição para ampliar a escala de produção.”O governo deve investir em um plano de oferta de oleaginosas para evitar a dependência de uma única fonte”, explica. “No Centro-Oeste, por exemplo, seria possível fazer a colheita da soja no verão e, do girassol, na ‘safrinha’, gerando oferta de duas oleaginosas no primeiro semestre.”

O pesquisador alerta que a mamona, planejada para ser fornecida por meio de cultivos familiares no Nordeste, ainda possui um custo de produção elevado. “A produção é barata, mas o cultivo na região ainda é em pequena escala e com baixa produtividade, o que elevaria o preço do litro de biodiesel para R$ 1,585”, calcula.

Nos últimos cinco anos, a média de produção nordestina foi de cerca de 672 quilos de óleo por hectare, enquanto em São Paulo é de 1,7 tonelada por hectare. “Os óleos de mamona, dendê e amendoim são considerados nobres e vendidos mais para consumo humano, o que encarece seu valor de mercado”, relata Osaki.

O uso de amendoim no Sudeste do Brasil faria o litro do biodiesel custar R$ 1,874 e a compra de mamona fora da cadeia de produção no Nordeste levaria a um preço estimado de R$ 2,219 por litro. “Além de melhorar a produtividade das matérias-primas existentes, é necessário pesquisar o potencial de outras espécies, como o pinhão-manso nordestino.” A pesquisa, coordenada pelo professor da Esalq, Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, foi realizada em colaboração com o Pólo Nacional de Biocombustíveis, sediado em Piracicaba, e a empresa Dedini Indústrias de Base S/A.

Júlio Bernardes

Da Agência USP