USP Ribeirão cura o câncer de pele com creme, nanotecnologia e luz

O tratamento já foi testado em 350 pacientes

dom, 07/09/2008 - 12h42 | Do Portal do Governo

O combate ao câncer ganha mais um aliado: um creme desenvolvido com o auxílio da nanotecnologia, associado à aplicação de luz visível para ativá-lo. Produto demonstrou 95% de eficiência na cura do câncer de pele e lesões pré-cancerígenas. O tratamento, desenvolvido pelo Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP Ribeirão Preto, já foi testado, desde o início dos estudos, em três ambulatórios do País, em 350 pacientes. O próximo passo da pesquisa prevê a adoção de novos fármacos, para tratamento da pele e de outros tipos de câncer, e a busca de apoio para a expansão do atendimento em outros hospitais e centros de referência do País, como política pública de saúde.

Antônio Cláudio Tedesco, coordenador do grupo de Fotobiologia e Fotomedicina da USP Ribeirão Preto, enfatiza que apenas o creme não é capaz de curar o câncer de pele. É necessário seu emprego conjunto com a luz visível (laser ou led, na faixa vermelha). O método provoca menos efeitos colaterais que outros adotados atualmente: quimioterapia e radioterapia. A restrição é que essa terapia não serve para o tratamento de melanomas.

O inovador na pesquisa é a associação da nanotecnologia no desenvolvimento do creme, explica o pesquisador. A nanotecnologia é a utilização de componentes 70 milhões de vezes menores que um fio de cabelo. Empregados no creme, esses componentes melhoram em muito a ação dos medicamentos e sua especificidade sobre a lesão, objetivando acabar com cânceres mais profundos.

Inédita também no Brasil e fora dele é a associação da nanotecnologia com uma nova terapêutica para o câncer, conhecida como Terapia Fotodinâmica (TFD). Desenvolvida há mais de 35 anos no mundo e utilizada há 13 pela equipe da USP Ribeirão Preto, essa terapêutica, que usa luz visível (pois não causa danos ao homem), é responsável pela ativação dos fármacos presentes no creme aplicado sobre a lesão. Segundo Tedesco, o Brasil está à frente de outros países, em termos dessa utilização conjunta da nanotecnologia com TFD.

Radicais livres – O primeiro passo no tratamento desenvolvido pela USP é a aplicação do creme. O acúmulo do fármaco fotoativo sobre a lesão, dependendo do tipo de composto usado, pode levar de 30 minutos a 3 horas. A seguir, o local é submetido a doses de luz. O paciente recebe de 10 a 15 minutos de irradiação apenas sobre as partes comprometidas. Depois disso, é liberado. A resposta fotodinâmica, ou seja, a destruição das células doentes que receberam o fármaco e a luz ocorre posteriormente.

O princípio por trás da TFD é o seguinte: ao receber a dose de luz, o fármaco a absorve. Depois de uma seqüência de reações em cascata, há produção de grande quantidade local e específica de radicais livres (moléculas instáveis, que buscam um elétron para se estabilizar). Trata-se dos mesmos radicais que se comportam como vilões responsáveis pelo envelhecimento e, em casos extremos, pela indução do câncer de pele, por exposição a radiações solares ultravioleta.

A produção altamente localizada de radicais livres sobre as lesões tem, entretanto, efeito diverso. Esses radicais sinalizam para as células doentes que elas precisam desaparecer, e não mais se reproduzirem indiscriminadamente. Com isso, as células tumorais morrem. Em alguns casos, esses radicais levam à necrose dos vasos que alimentam o tumor, o qual morre por falta de nutrientes.

Interesse em parcerias – A nova terapêutica é indicada para todos os diagnósticos de câncer de pele e lesões pré-cancerígenas, menos os do tipo melanoma, e não tem contra-indicações. De acordo com Tedesco, já existem também muitos bons resultados para tratar outros tipos de câncer, como bexiga, próstata e mama. “Precisamos de estudos pré-clínicos, médicos e hospitais parceiros para transformarmos isso numa alternativa de tratamento a esses tipos de tumores”, observa o pesquisador.

Como precisa estar associado ao emprego da luz para a sua efetividade, o creme nunca será comercializado em farmácias. Em breve, assim que o Departamento de Química da USP de Ribeirão Preto conseguir parceiros industriais, o novo produto poderá estar disponível nos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) e em outras instituições. “Isso é só o começo. Há muitos outros fármacos fotoativos que poderão ser desenvolvidos para outros tipos de câncer”, garante. Mas é preciso, segundo ele, que os profissionais de cada área específica demonstrem interesse em parcerias para pesquisa e parte clínica. Além disso, é necessário que existam hospitais parceiros e que seus comitês de ética em pesquisa aprovem estudos desse tipo.

Primeiro ambulatório do País

Com o desenrolar das pesquisas, o grupo do Departamento de Química da  Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP Ribeirão montou, no Hospital das Clínicas local, o primeiro ambulatório brasileiro para esse tipo de tratamento. A empreitada envolveu pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas do mesmo câmpus e o Grupo de Dermatologia do HC.

Em 2006, foi criado um ambulatório em Brasília, em cooperação com a Universidade de Brasília (UnB) e com o Hospital Regional da Asa Norte (HRAN). No ano passado, foi a vez da Escola Paulista de Medicina e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aderirem à iniciativa.

Segundo Antônio Cláudio Tedesco, o grupo está sempre aberto a novas parcerias e a transferir aos centros de atendimento à população tudo o que produziu e desenvolveu.

SERVIÇO
Mais informações sobre a nova terapia pelo e-mail atedesco@usp.br ou pelo telefone (16) 3602-3751

Paulo Henrique Andrade, da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)