USP: Programa usa inteligência artificial para monitorar oleodutos com precisão

Software foi testado em tubulações com água e ar, simulando óleo e gás

sex, 17/02/2006 - 11h37 | Do Portal do Governo

Um programa de computador que detecta vazamentos em oleodutos, com base em inteligência artificial, foi criado por pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP. O software, desenvolvido pelo grupo coordenado pelo professor da EESC, Paulo Seleghim Júnior, identifica as condições de escoamento e alerta para problemas no funcionamento das tubulações com acerto de 100%.

Seleghim conta que os testes do programa foram feitos em tubulações com água e ar, simulando óleo e gás. “Por meio das medidas de pressão, o sistema é ‘treinado’ para identificar as várias condições de operação normal do oleoduto, ou seja, quando não há vazamento”, explica. “Após o ‘aprendizado’, o software passa a monitorar a tubulação e ao verificar qualquer problema emite um sinal de alerta.”

Segundo o professor, “os sistemas atuais de monitoramento de oleodutos são mecanicistas, baseados em equações de escoamento dos fluidos genéricas e com muita incerteza nos resultados, o que leva a um alto índice de alarmes falsos.” O uso de inteligência artificial tornou o acompanhamento mais preciso. “O programa foi calibrado e testado com três mil simulações de escoamento, feitas em um oleoduto piloto com vazões ar-água, o que levou a um índice de acerto de 100%.”

Indústrias

Todo o programa foi desenvolvido com vistas à aplicação nas indústrias, onde o nível de pressão é mais usada para identificar vazamentos. “Os dados sobre pressão são obtidos por meio de sensores comerciais disponíveis no mercado”, diz Seleghim. “O programa utilizado hoje no monitoramento de oleodutos, baseado em modelos mecanicistas, custa cerca de U$500 mil, enquanto o programa de inteligência artificial poderá substituí-lo ao custo aproximado de U$100 mil.”

Com o término dos testes na tubulação experimental da EESC, o software será submetido a testes de campo. “É necessário verificar as condições de funcionamento em oleodutos reais, onde existem misturas bifásicas de óleo e gás”, destaca o pesquisador. “Para aplicar o programa, foi organizada uma empresa para tentar viabilizar sua utilização pela Petrobrás e buscar financiamento para os protótipos.” O sistema foi desenvolvido durante a elaboração da tese de doutorado do engenheiro Marcelo Selli.

Entre as aplicações das técnicas de inteligência artificial desenvolvidas no Núcleo de Engenharia Térmica e Fluidos (NETEF) da EESC estão um sistema de detecção de vazamentos de água, em testes no Serviço Autônomo de Água e Esgotos (SAAE) de São Carlos, e um programa para controlar o transporte pneumático de bagaço de cana. “Também foi criado um ‘degustador’ de gasolina, aparelho que detecta adulterações no combustível diretamente nas bombas”, conclui Seleghim.

Júlio Bernardes / Agência USP