USP: Música pode influenciar julgamento do paladar e estado de ânimo de crianças

Pesquisadora da USP fez provas de soluções de sabores doces e amargos

seg, 16/10/2006 - 20h14 | Do Portal do Governo

A audição de músicas populares durante a ingestão de alimentos pode influenciar o julgamento gustativo e o estado de ânimo em crianças. A constatação é da psicóloga Viviane Freire Bueno, que efetuou provas de soluções de sabores doces e amargos, com e sem a presença de música, em 83 crianças de 5 a 10 anos de idade. Segundo a pesquisadora, quando as músicas eram tristes, a avaliação sobre o sabor modificava-se da original, sem música.

Em seu estudo de mestrado pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP, Viviane pretendeu avaliar a percepção de emoção na música com crianças, além da modificação de seu julgamento de sabor. Para tanto, os pequenos provaram duas soluções diferentes: uma à base de sacarose e outra de cafeína, em situações sem ouvir qualquer melodia, e escutando músicas tristes e músicas felizes. A pesquisa envolveu crianças atendidas em duas creches que mantém parceria com a Prefeitura de São Paulo.

“Para despertar o interesse nos sucos, como foram chamadas as soluções, foi contada uma historinha na qual um mago teria produzido aquelas bebidas para que as crianças provassem”, explica a psicóloga. Na ausência de música, elas tinham que dizer, após a prova, se o suco era amargo ou doce, e gostoso ou não gostoso, de acordo com duas faces representativas de alegria e tristeza.

Com música, a criança fazia duas provas: ouvindo duas melodias pré-qualificadas como alegres e depois duas tristes. Foi pedido para que elas prestassem atenção na música e no suco, e que identificassem se a música era alegre ou triste e se o sabor era gostoso ou não gostoso. “Quando a música era triste, a avaliação de gostoso ou não gostoso era alterada”, conta Viviane. “Além disso, uma das tristes foi horrível para todas as crianças, enquanto uma das alegres fez com que elas se mantivessem felizes mesmo ao provar o suco amargo”.

Contextos

A psicóloga observou que a música exerce efeitos sobre o estado de ânimo principalmente em situações contrastantes, ou seja, suco amargo com melodia alegre, ou suco doce com melodia triste. “Além disso, a criança reporta ao seu contexto de vida para dizer se é ruim ou bom, tanto o sabor quanto a música. Mesmo estímulos simples podem despertar estados de ânimo e as crianças respondem a isso”, explica.Outra avaliação foi em relação ao motivo do julgamento, a música, o sabor, ou ambos. “Os estímulos desagradáveis influenciam mais nos motivos das crianças”, explica Viviane. Em situações congruentes (suco doce com música alegre e suco amargo com música triste), observou-se que as crianças acima de 7 anos identificavam o sabor e a melodia como os responsáveis pela alegria ou tristeza, ao contrário das mais novas, que se prendem a apenas um estímulo. “Isso demonstra um maior desenvolvimento sensorial nesta idade”, conclui.

Da USP