USP: Lama negra de Peruíbe possui efeitos terapêuticos para tratamento de artrite

Estudo foi realizado pela Faculdade de Medicina

qua, 22/03/2006 - 14h11 | Do Portal do Governo

Estudo realizado na Faculdade de Medicina (FM) da USP mostra que a utilização da lama negra de Peruíbe, cidade do litoral Sul de São Paulo, apresentou efeito antiinflamatório em ratos com artrite experimental. “Houve uma diminuição da resposta inflamatória nos animais”, conta a biomédica Zélia Maria Nogueira Britschka, autora da pesquisa.

A biomédica teve a idéia de estudar a lama para obter uma comprovação científica dos seus efeitos terapêutico, já propagados pela população local. “Há alguns anos, um médico da cidade fazia demonstrações na praia, com imersões e cataplasmas (aplicações concentradas) da lama em pacientes com problemas de artrite. As pessoas foram tratadas diariamente por três semanas, e tiveram os sintomas da doença aliviados de 3 a 6 meses” conta Zélia.

No Laboratório de Inflamação da Reumatologia da FM, a biomédica estudou o assunto, em seu programa de doutorado, num caráter mais científico e menos empírico. Além disso, a possível confirmação dos efeitos benéficos da lama poderia acabar com as ressalvas das pessoas que viam os resultados positivos apenas como um efeito placebo.

Modelo experimental

A fangoterapia (aplicação da lama para efeitos terapêuticos) é muito utilizada em países da Europa e da Ásia, como uma modalidade de terapias de Spa. Nessa situação, pode haver outros efeitos, como o relaxamento e a aplicação de outras terapias, que influenciem no resultado positivo. Por isso, a biomédica decidiu utilizar em seus estudos um modelo experimental, onde esses parâmetros são anulados.

A intenção foi reproduzir o que era colocado em prática pelo médico de Peruíbe, com as mesmas condições, mas em animais. “Os testes foram feitos com ratos submetidos a uma indução do quadro de artrite e posterior exposição à lama. O processo se repetiu diariamente por 15 dias, em períodos de 30 minutos, à 40º C”, conta a biomédica.

Os animais andavam sobre a lama, que era colocada em suas gaiolas. Foi observada uma redução na resposta inflamatória crônica, ocorrendo diminuição da presença de células brancas no líquido sinovial da cavidade articular com artrite (não existem glóbulos brancos em articulações saudáveis), além de uma melhora na destruição de tecidos da articulação.

Controle científico

Além dos ratos submetidos ao tratamento com a lama, foi utilizado um grupo de animais chamado “de controle”. Eles foram tratados nas mesmas condições, mas com água quente no lugar da lama. “Esse procedimento foi necessário. Na literatura médica há indícios de que o efeito terapêutico da lama vem de sua capacidade de manter a temperatura”, descreve Zélia. “Com a maior exposição ao calor, ocorre uma reação ao estresse térmico, com aumento de cortisol, um reconhecido antiinflamatório”. Esse grupo de animais se comportou praticamente como os animais com artrite induzida, mas com uma diminuição menos significativa da resposta inflamatória.

Deste modo, fica claro que além da temperatura, há algo mais na lama negra de Peruíbe, penetrável na pele, que faz com que os efeitos da artrite sejam amenizados. A biomédica pretende continuar as pesquisas em seu pós-doutorado, e diz que “o tratamento com a lama não substitui totalmente a medicação para artrite, mas pode ser coadjuvante, utilizado em parceria com os remédios tradicionais em pacientes que não respondem bem aos efeitos colaterais da medicação normal”.