USP faz 75 anos com projetos de ser a universidade do século 21

Criada em 1934, a USP tem hoje 80 mil alunos e 5,4 mil professores e figura entre as melhores do mundo

qui, 18/09/2008 - 8h17 | Do Portal do Governo

No dia 25 de janeiro de 2009, a Universidade de São Paulo (USP) completará 75 anos. Embora a data concentre eventos significativos, como a apresentação da Orquestra Sinfônica da USP no Teatro Alfa, as comemorações já começaram e se estenderão até outubro do próximo ano. O início oficial ocorreu dia 2 de setembro com o lançamento do logotipo e página na Internet alusivos ao tema.

A evolução da universidade e a posição que ocupa hoje no Brasil e Exterior (ver na página seguinte) justificam essa comemoração, segundo Suely Vilela, reitora da USP. Mas a intenção não é apenas realizar eventos festivos. “Queremos agregar o espírito científico que permeia todas as atividades da universidade e recuperar, inclusive, a origem da USP, que foram as missões estrangeiras”, revela a reitora.

Essas missões se referem a um grupo de professores e pesquisadores de alto nível, contratados no exterior, de acordo com o livro Universidade de São Paulo: Alma Mater Paulista – 63 anos, co-edição da Edusp e Imprensa Oficial do Estado. O objetivo era implementar estudos de ciências básicas e humanidades na nova Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, durante a implantação da USP.

A organização das atividades dos 75 anos ficou a cargo de dois grupos: a Comissão de Honra e a Comissão Executiva. A primeira estabeleceu as diretrizes que nortearão a programação: visibilidade, contribuições para o futuro e reconhecimento às pessoas que contribuíram, de algum modo, para a instituição. A Comissão Executiva será a responsável por coordenar a aplicação das diretrizes e organizar atividades específicas relativas ao jubileu.

Tesouros da USP – Em termos de visibilidade, o objetivo é mostrar à sociedade (não só a paulista, mas a brasileira) o patrimônio científico e cultural que a instituição construiu ao longo de décadas, explica Solange Oliveira Rezende, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP São Carlos e presidente da Comissão Executiva. Além disso, a intenção é revelar o impacto e conquistas gerados por esse patrimônio.

A visibilidade abrange desde atividades de caráter acadêmico, que ressaltam o espírito científico da instituição, até ações que remontam à história da universidade, desde a sua criação. Nessa linha, um dos destaques, segundo Solange, é a apresentação da Orquestra Sinfônica da USP, no Teatro Alfa, no dia 25 de janeiro de 2009. Outra atividade relevante é a exposição Tesouros da USP, que será realizada na OCA, do Parque Ibirapuera, entre 1º de agosto e 1º de outubro do próximo ano.

Cada câmpus prepara também exposições, concertos e uma série de eventos, que ocorrerão a partir de agora. Dia 25 deste mês, por exemplo, o câmpus de Lorena comemorará a data, na Casa de Cultura do município, durante a 2ª Semana de Arte e Cultura da Escola de Engenharia de Lorena. Dia 10 de outubro deste ano, o câmpus de Piracicaba apresentará, no Teatro Municipal Dr. Losso Netto, a Orquestra Paulistana de Viola Caipira. De 1º a 9 de março de 2009, o câmpus de São Carlos promoverá, no Shopping Center São Carlos, a exposição Tesouros do Nosso Câmpus.

Internacionalização – O delineamento das ações futuras virá, principalmente, do workshop Planejando o Futuro: USP 2034, já realizado nos dias 3 e 4 de setembro e cujo segundo módulo está previsto para 14 e 15 de outubro. Os temas debatidos foram selecionados a partir de consulta às unidades de ensino e pesquisa, a respeito dos pontos centrais para se traçar os rumos da universidade nos próximos 25 anos. Os palestrantes são de todas as áreas do conhecimento.

De acordo com a reitora, os desafios da universidade, no âmbito acadêmico, são avançar significativamente na diversidade, cosmopolitismo e empreendedorismo. Nos dois primeiros casos, o propósito é investir na internacionalização da USP. Em termos de empreendedorismo, a intenção é formar alunos, na graduação e pós-graduação, com esse perfil. Ou seja, indivíduos que tenham formação multidisciplinar (com conhecimentos de informática, idiomas) e, principalmente, atitude. Ao mesmo tempo, a meta é que a universidade se torne mais empreendedora, participando efetivamente do processo de transferência do conhecimento.

Na parte administrativa, o grande desafio é a descentralização. Segundo Suely Vilela, pela dimensão que a universidade adquiriu, ela precisa investir ainda mais nesse sentido, não só criando estruturas nos câmpus do interior, mas principalmente delegando competências a eles, de forma a possibilitar maior agilidade nos processos.

Lévi-Strauss – Com relação à terceira diretriz, Solange salienta que é muito importante que se prestem homenagens a quem constribuiu para a pujança da instituição. Um dos pontos altos, nesse sentido, será a reunião do Conselho Universitário que, excepcionalmente, ocorrerá no Memorial da América Latina, em 26 de janeiro de 2009. Na pauta do dia, o reconhecimento a pessoas que se dedicaram à construção da universidade.

As homenagens, porém, não se restringirão à ocasião. Um dos nomes já definidos é o do antropólogo e filósofo francês Claude Lévi-Strauss, que neste ano completa 100 anos. Integrante da missão francesa entre os anos de 1935 e 1938, ele receberá o título de Doutor Honoris Causa. A intenção também é trazer alguns laureados com o Prêmio Nobel. O primeiro deles, hoje, é o americano Oliver Smithies, ganhador do prêmio de Fisiologia ou Medicina em 2007. Um dos objetivos é proporcionar a discussão científica com alguns pesquisadores da instituição, dentro da série Fronteiras do Conhecimento: Presente e Futuro.

Integrantes dessa diretriz são ainda os seminários e exposição itinerante Fundadores da USP que, além de resgatar figuras importantes, pretende abordar momentos marcantes da história da universidade. Relevante também é o ciclo de conferências Sentidos de Lévi-Strauss, que será realizado de 9 de outubro a 27 de novembro deste ano, no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) e Centro Universitário Maria Antônia. A iniciativa, que faz parte do evento Fundadores da USP, tem por finalidade refletir sobre a contribuição da obra de Lévi-Strauss para a antropologia e outras áreas do conhecimento.

Em relação aos fundadores da USP, a Editora da Universidade de São Paulo (Edusp) vai publicar obras vinculadas a alguns deles. Duas já confirmadas são Navette Literária França-Brasil (A Crítica de Roger Bastide), em dois volumes, com organização de Glória Carneiro do Amaral, e Fidelino de Figueiredo: visto por ele mesmo e pelos outros, cujo organizador ainda está em definição.

No dia 15 deste mês, o Jornal da USP lançou edição sobre os 75 anos. Também estão em preparação a publicação USP em Postais (contendo imagens recentes, em formato de postais, de todos os câmpus), o Guia da USP (como os de viagem, com fotos e informações sobre instituições da universidade), um vídeo institucional e programas especiais da TV e Rádio USP.

Uma história composta por desafios

O decreto estadual nº 6.283, que criou a Universidade de São Paulo (USP), é de 25 de janeiro de 1934, mas a história da instituição começa bem antes disso. A Faculdade de Direito, por exemplo, que sempre se manteve no Largo São Francisco, inicia suas atividades em 1827. Com a formação da universidade, é dessa unidade que provém o primeiro reitor, Reynaldo Porchat, do mesmo modo que é nela que se instala, inicialmente, a reitoria.

Na transição para o século 20, São Paulo acompanha a criação de várias outras instituições que iriam integrar a USP. Uma delas é a Escola Livre de Farmácia de São Paulo. Fundada em 1898, ela se desmembraria, posteriormente, em Faculdade de Odontologia e Faculdade de Ciências Farmacêuticas. A Escola Agrícola Prática de Piracicaba, hoje Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), surge em 1901, e o Laboratório de Higiene de São Paulo, que originaria a Faculdade de Saúde Pública, em 1918.

Dez unidades, além de instituições de caráter técnico e científico, como o Museu Paulista e o Instituto Butantan, fazem parte da universidade quando ela é criada. A aquisição de uma área (no bairro do Butantã) para instalação do câmpus só ocorre em 1941. Já o surgimento dos demais, no interior, se dá a partir de 1948, com a criação, por exemplo, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Faculdade de Farmácia e Odontologia de Bauru (atual Faculdade de Odontologia de Bauru) e Escola de Engenharia de São Carlos. Mas a expansão da universidade não pára por aí.

Entre as melhores do mundo – Hoje, a USP compreende sete câmpus: capital (Cidade Universitária), Bauru, Lorena, Piracicaba, Pirassununga, Ribeirão Preto e São Carlos. Tem um total de quase 80 mil alunos (57 mil na graduação), mais de 5,4 mil docentes e 15,4 mil servidores não-docentes. A instituição oferece 231 cursos na graduação, que abrangem de Astronomia a Artes Cênicas, de Ciências Moleculares a Relações Internacionais, de Engenharia de Petróleo a Têxtil e Moda. Na pós-graduação são 225 programas, também englobando todas as áreas do conhecimento.

Além de 40 unidades de ensino e pesquisa, a universidade conta com 20 órgãos centrais de direção e serviço (como o Sistema Integrado de Bibliotecas e o Centro de Computação Eletrônica) e sete institutos especializados (por exemplo, Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, centro de excelência em pesquisas sobre doenças tropicais e saúde internacional). Na parte de prestação de atendimento na área de saúde, a instituição dispõe de dois hospitais e dois serviços anexos. Em termos culturais, são quatro museus (como o Paulista), 43 bibliotecas (com acervo de mais de 7,2 milhões de publicações), Cinema (Cinusp), Estação Ciência e outros espaços culturais.

O Webometrics Ranking of World classifica a USP na 113ª posição entre as melhores universidades do mundo, destacando-a em primeiro lugar entre as brasileiras. A pesquisa analisou 15 mil instituições acadêmicas de todo o planeta. A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), outras instituições nacionais de destaque, ocupam, respectivamente, a 213ª e 330ª posição. O ranking elaborado pelo Institute of Higher Education da Shanghai Jiao Tong University (China) classificou a USP como a 121ª melhor universidade do mundo. É única brasileira entre as 200 melhores do mundo.

Comprometida com os desafios – Como universidade pública, a USP tem compromisso com o desenvolvimento sustentável do Estado de São Paulo e do País, destaca a reitora Suely Vilela. A contribuição da instituição se dá, segundo ela, em três vertentes principais: na formação de recursos humanos (na graduação e pós-graduação), produção científica e relação com a sociedade. Na área de pós-graduação, por exemplo, a USP responde atualmente por 21% dos doutores formados no País, o que significa 2,2 mil títulos concedidos anualmente. É a universidade que mais forma doutores, por ano, no mundo. “Temos estudo a respeito”, observa a reitora. Algumas das principais universidades americanas ficam na faixa de 750.

“Formar doutores é estratégico, porque é deles que depende o desenvolvimento científico e tecnológico do País”, observa Suely. “Há, inclusive, uma relação entre o número de doutores e a evolução da produção científica brasileira”, aponta. Atualmente, a USP é responsável por 28% da produção científica nacional.

Em termos de relacionamento com a sociedade, o compromisso não se restringe a cursos de educação continuada, para reciclagem de profissionais. A instituição conta com programas específicos para a terceira idade, como o Universidade Aberta à Terceira Idade. Além disso, ela está comprometida com o desafio do País, que é vencer o descompasso existente entre a capacidade acadêmica e o desenvolvimento de produtos e processos nas indústrias, observa a reitora. “A USP tem também a missão de auxiliar o Brasil para que o conhecimento produzido na universidade seja transferido para a sociedade”, destaca.

Em relação à transferência de conhecimento, a universidade tem participação, por exemplo, em quatro dos cinco parques tecnológicos desenvolvidos pelo governo estadual. Esses parques são espaços onde se concentram empresas de tecnologia de ponta, universidades e institutos de pesquisa, favorecendo a troca constante de conhecimentos. Também faz parte de 20 redes temáticas de pesquisa em parceria com a Petrobras.

As pesquisas da USP abrangem as mais variadas áreas do conhecimento. Vão de biocombustíveis a tecnologias para tratamento do câncer utilizando luz laser (Fototerapia Dinâmica contra o Câncer), de TV Digital a novos fármacos para tratamento da doença de Chagas, da área de anomalia craniofaciais e síndromes raras correlatas às anomalias a Tanque de Provas Numérico (TPN). Esse último, por exemplo, consiste em um laboratório pioneiro, com sofisticado sistema computacional, cujo objetivo principal é simular o comportamento dinâmico de estruturas flutuantes, como as plataformas marítimas de petróleo.

Pesquisas e demandas – Um dos grandes desafios da USP hoje é combinar o que pretende ser com o que a sociedade espera que ela seja, analisa Glaucius Oliva, diretor do Instituto de Física de São Carlos e presidente da Comissão de Planejamento da universidade. Ou seja, conciliar a sua característica principal, que é a pesquisa, com as demandas da sociedade, que é por formação de pessoas e realização de pesquisas aplicadas ao desenvolvimento econômico e social do País.

Outro aspecto a considerar, segundo ele, é como a mudança mundial, no que diz respeito ao acesso ao conhecimento, afeta a maneira de ensinar. “A formação acadêmica que damos hoje aos estudantes é, às vezes, ainda com currículos clássicos, e as demandas da sociedade são muito mais flexíveis, multidisciplinares, mais focadas no indivíduo e menos na informação que ele tem.” Para Oliva, a USP cumpriu com a sua missão de uma grande universidade do século 20. “Precisamos agora ter certeza de que ela consiga ser uma grande universidade do século 21.”

SERVIÇO
Mais informações sobre os 75 Anos da USP: www.usp.br/75anos

Paulo Henrique Andrade, da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)