USP: Esforço intenso não implica em melhor qualidade de vida

Atletas mais rápidos têm menor grau de escolaridade

sex, 29/12/2006 - 22h00 | Do Portal do Governo

Realizar esforço intenso em atividade física não é garantia de melhor qualidade de vida. Estudo da Faculdade de Medicina (FM) da USP que comparou corredores mais velozes e mais lentos da corrida São Silvestre de 2002 mostra que, além de mais jovens e menos escolarizados, os competidores que concluíram a prova em menor tempo e, portanto, com maior esforço, apresentaram pior resultado no aspecto ambiental do questionário da Organização Mundial da Saúde (OMS) que avalia qualidade de vida.

Em seu doutorado, o médico e professor do Hospital das Clínicas (HC) da FM, Joel Tedesco, quis investigar se o esporte (no caso, a corrida de longa distância) melhora ou não a qualidade de vida de quem o pratica. A São Silvestre foi escolhida por reunir grande número de participantes e possibilitar conhecer o esforço físico realizado, por meio do tempo de prova.

Tedesco selecionou 962 corredores, sendo 815 homens e 147 mulheres – diferença de amostragem que ocorre pelo fato de que “um terço do total de participantes da São Silvestre é do sexo feminino”, explica o pesquisador. Essas pessoas foram divididas em cinco grupos, de acordo com o tempo gasto para finalizar a corrida. O grupo 1 foi composto pelos corredores mais velozes e o grupo 5, pelos mais lentos.

Quanto mais rápido, pior

Além de obter dos participantes recrutados suas medidas antropométricas (medidas corporais) e o Índice de Massa Corporal (IMC), que mede a relação peso e altura, Tedesco aplicou o questionário WHOQOL-abreviado, elaborado pela OMS para avaliar a qualidade de vida. As 26 questões que o compõem estão distribuídas em quatro domínios: físico, psíquico, social e ambiental – no qual houve diferenças entre os grupos.

O domínio ambiental investiga aspectos relacionados com o meio em que a pessoa vive. Suas perguntas envolvem segurança, saúde do ambiente físico, aspecto financeiro, acesso a informações, satisfação com o acesso a serviços de saúde e com o meio de transporte. “Os corredores com melhor desempenho não estão satisfeitos com, pelo menos, um desses aspectos”, afirma Tedesco. “Mas, como não foi feita uma análise detalhada, não foi possível saber qual deles teve maior influência no resultado”. Por outro lado, os corredores que levaram mais tempo para concluir a prova não demonstraram essa insatisfação.

Além de apontarem uma pior qualidade de vida em relação aos outros grupos, os corredores mais velozes são mais jovens (média de 31 anos), treinam em média 5,45 vezes por semana, possuem menor IMC (média de 21,93) e a mais baixa escolaridade (entre ensino fundamental e médio). Já os homens que compuseram o grupo 5 possuem, na sua maioria, nível de ensino superior.

O quadro é semelhante para as mulheres: as que formaram o grupo 1 também possuem pior qualidade de vida em relação ao aspecto ambiental, são mais jovens (média de 30 anos), treinam em média 6,03 vezes por semana e apresentam IMC mais baixo (média de 20,25). Apenas o nível educacional não sofreu variações significativas entre os grupos, mantendo-se, porém, baixo. “O esporte ajuda a melhorar a qualidade de vida, mas o esforço físico intenso parece não contribuir para isso. Para um resultado positivo, uma intensidade de leve a moderada parece ser a melhor recomendação”, conclui o pesquisador.

São Silvestre

A prova de longa distância, que está na 82ª edição, ocorre sempre no dia 31 de dezembro e “põe para correr” 15.000 participantes. O percurso de 15 quilômetros parte do Museu de Arte de São Paulo (MASP) – localizado na Avenida Paulista, nº1578, em São Paulo – e termina no número 900 dessa mesma avenida, em frente ao prédio da Fundação Cásper Líbero.

Aline Moraes

Da Agência USP