USP: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto lidera equipe em ação na Amazônia

Em atividade do Projeto Rondon, alunos e professores da Escola de Enfermagem prestaram assistência médica à população local

seg, 15/05/2006 - 17h32 | Do Portal do Governo

Em plena selva amazônica, a 360 quilômetros de Manaus, fica a cidade de Caapiranga, com 10 mil habitantes, 6 mil dos quais distribuídos em comunidades ribeirinhas ao longo do Rio Solimões. Construída sobre o mangue do rio, vive do cultivo extrativista da juta e da malva e sem nenhum conhecimento do que seja economia sustentável. Foi ali que atuou, por duas semanas, no mês de fevereiro, equipe multidisciplinar liderada pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP), da USP, em mais uma edição do Projeto Rondon.

Peixe e farinha constituem a base da alimentação local, e a abundância de frutas ricas em ferro, como o açaí, faz com que não haja anemia entre os habitantes. O padrão de beleza das mulheres é ser “fortinha”, por isso é comum pedirem “remédio para engordar” aos agentes de saúde. Apesar da generosa extensão territorial onde vivem, as crianças sofrem com a falta de espaço para brincar, cercadas pelo mangue e pela selva. Não há o tradicional quintal, típico das pequenas cidades, o que também pode influenciar no desenvolvimento intelectual, segundo a professora Sandra Pillon, do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da EERP.

Caapiranga foi notícia no final de 2005, como centro da pior seca que atingiu a região nas últimas décadas. Seus efeitos ainda são sentidos: as crianças do município estão com vacinas atrasadas em função do isolamento a que foram submetidas durante o período de estiagem.

Cooperativas e associações

A cidade tem razoável estrutura física de saúde, um hospital e bom número de pessoas na equipe médica. O Programa Saúde da Família foi instituído, mas não consegue manter o atendimento contínuo aos ribeirinhos, porque as visitas da equipe só ocorrem a cada três meses. Há graves problemas de saneamento básico e, em decorrência disso, são inúmeras as doenças que comprometem a qualidade de vida da população.

A distribuição de remédios é outra dificuldade enfrentada pelos moradores, que têm acesso a medicamentos considerados caros, como antiinflamatórios, mas sofrem com a falta de remédios básicos como, por exemplo, para verminoses. A distribuição de anticoncepcionais foi também interrompida, o que prejudica o planejamento familiar. Para o profissional de saúde que trabalhar na região, é fácil entender a necessidade de ser um médico generalista.

Com todos esses problemas, a população está preocupada com ou futuro e começa a se organizar em cooperativas e associações. Outro indicador desse movimento são os constantes relatos dos mais velhos sobre como era e como está a região, na tentativa de conscientizar os jovens quanto a importância de preservar a comunidade.

Sugestões

O grupo de professores e estudantes atuou de acordo com plano de trabalho chamado Bem-Estar. O objetivo é capacitar agentes em saúde da família, saúde ambiental e doenças endêmicas locais; formar multiplicadores em saúde sexual e reprodutiva de adolescentes e jovens, na prevenção da prostituição infantil e do uso do álcool e drogas; treinar multiplicadores também em ações de incentivo ao esporte; e promover a criação de atividades comunitárias solidárias.

Depois de saírem de Brasília, onde participaram da abertura do Projeto Rondon com outros mil estudantes e cem professores, os integrantes voaram para Manaus para receber treinamento de sobrevivência na selva. De lá viajaram mais 120 quilômetros num caminhão da Força Aérea e outros 240 quilômetros de barco, até Caapiranga.

Bastou os rondonistas desembarcarem para encontrar realidade diferente da que conhecem na região em que vivem. Apesar da natureza exuberante e da beleza do Rio Solimões, o grupo viu de perto as conseqüências da falta de saneamento básico, com esgoto e lixo a céu aberto, analfabetismo, desemprego e pauperização. “Muitas dessas condições de vida são encontradas também nos centros urbanos mais desenvolvidos, mas com grande diferença: a população está totalmente isolada e dependendo única e exclusivamente da boa vontade do poder público”, observa a aluna Mônica Franco, participante da equipe.

Uma das principais ações foi a de estimular o trabalho em rede, de interação, valorização e respeito pelo trabalho do outro. Para isso foram utilizadas dinâmicas de grupo nas oficinas oferecidas diariamente. Foram abordadas questões como conscientização sobre o uso correto de medicamentos. “Em Caapiranga, é comum o uso indiscriminado de antibióticos e, nas comunidades, a prescrição de medicamentos fica por conta do agente comunitário de saúde, que chega a realizar suturas”, comenta Sandra. A equipe deixou sugestões às autoridades locais de planejamento do serviço nas Unidades Básicas de Saúde e controle dos profissionais contratados por intermédio dos conselhos regionais.

Rosemeire Talamone

Do Jornal da USP