USP: Engenheira de São Carlos pesquisa produtos para tratamento da água

Combinação de cloro com ozônio são alternativas ao tratamento convencional da água para consumo humano

seg, 12/06/2006 - 12h33 | Do Portal do Governo

Existe a possibilidade de o ozônio, o ácido peracético ou a combinação de cloro com ozônio serem alternativas ao tratamento convencional da água para consumo humano, feito atualmente apenas com cloro. Experiência de doutorado realizada por Jeanette Beber de Souza, da Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, indicou que as substâncias têm, em maior ou menor escala, poder de oxidação e inativação de bactérias, protozoários e vírus e são apropriadas para tratamentos com essa finalidade. A engenheira Jeanette diz que desde a década de 70 estudos internacionais mostram que o cloro em contato com a água – que contém certos tipos de matéria orgânica – é capaz de gerar subprodutos com potencial cancerígeno.

Para analisar a eficácia de diferentes produtos, Jeanette preparou água em condições especiais e a tratou para retirar previamente possíveis microorganismos. Depois, acrescentou outros micróbios na quantidade desejada para manter controle sobre o experimento. Foram usados nos testes as bactérias Escherichia coli e Clostridium perfringens (esta é indicadora de protozoários) e o vírus colifagos. Os microrganismos foram cultivados cada um em seu meio de cultura (material nutritivo no qual se multiplicam) e adicionados à água ao mesmo tempo. O procedimento permite verificar a atuação de cada desinfetante num ambiente com microorganismos de diferentes naturezas.

Resultados eficientes 

A pesquisadora explica que o cloro agiu melhor sobre vírus e bactérias. O ozônio foi mais eficaz contra os vírus, e o processo combinado mostrou maior eficiência contra protozoários. O ácido peracético foi bastante efetivo contra os três tipos de organismos. Jeanette diz que o ozônio é muito utilizado na Europa, mas no Brasil ainda não é viável, em razão dos altos custos. Os resultados apresentados pelo peracético foram interessantes, em sua opinião, porque não é comumente usado no tratamento de água para consumo humano. “Até hoje, o produto é destinado ao tratamento de efluentes e nas indústrias farmacêutica, médica e alimentícia”, informa. Uma das vantagens que ela atribui ao ácido é que ele não reagiu com a matéria orgânica presente no meio de cultura, como o cloro. O fato de atuar primeiramente nos microorganismos propiciou maior potencial de inativação.

O processo combinado (ozônio e cloro) é inovador e pode ter seu uso viável a curto ou médio prazo. Diz a pesquisadora que, primeiramente, o ozônio é adicionado à água porque não produz trihalomethanos (substâncias com potencial cancerígeno), ao contrário do que ocorre com a adição de cloro. Depois de realizada a inativação dos microorganismos, adiciona-se pequena quantidade de cloro para garantir a segurança no transporte da água desde a estação de tratamento até o consumidor. Isso é feito porque, ao final da desinfecção, não restam partículas de ozônio que possam combater eventuais contaminações. “Apenas o cloro é capaz de deixar os resíduos necessários para essa segurança”, justifica a pesquisadora.

Renata Moraes

Da Agência USP