USP desenvolve sistema que trata água sem usar energia elétrica e produtos químicos

Água tratada pode ser utilizada em irrigação e para descarga em vasos sanitários

qua, 16/09/2009 - 13h00 | Do Portal do Governo

Tratar a água utilizada em residências sem produtos químicos, por meio de um reservatório com cultivo de plantas, é possível com uma técnica pesquisada na Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo. O sistema, conhecido como “wetlands”, não utiliza energia elétrica e disponibiliza a água para reúso não potável, principalmente em irrigação. O método testado pelo ecólogo Rodrigo Cesar de Moraes Monteiro ainda é pouco conhecido no Brasil. 

O efluente tratado pelo sistema, conhecido como “água cinza”, é originário de chuveiros, lavatórios e da lavagem de roupas. Á agua é conduzida por uma tubulação para um reservatório com material inerte. “Na pesquisa, utilizou-se brita e areia, mas também é possível usar garrafas pet amassadas ou cacos de telha, entre outros elementos”, conta Rodrigo. “O material vai servir de sustentação para os microrganismos e plantas que vão interagir com a água e realizar o tratamento”. 

No reservatório, são cultivadas plantas do tipo macrófitas, mais conhecidas como plantas de brejo. “São espécies adaptadas à saturação de água nas raízes, pois conduzem oxigênio numa taxa maior para que elas não se deteriorem”, explica o ecólogo. Para aumentar a resistência e resilinência do sistema, são utilizados vários tipos de plantas, como o papiro, a sombrinha-chinesa, a taboa, o copo-de-leite, a cavalinha, a lágrima-de-maria, a pontedéria e o mini-papiro. 

Em contato com o material de enchimento e as raízes das plantas, os microorganismos existentes no efluente se desenvolvem. “A diversidade de bactérias associadas é grande, já que no reservatório existem ambientes anaeróbios, na brita e na areia, e aeróbios, junto às raízes”, diz o pesquisador. “Desse modo, é possível tratar a água e torná-la disponível para reúso não potável”. 

Tratamento 

A pesquisa mostra que o sistema é apto para o controle da eutrofização da água, atuando na remoção de nutrientes, especialmente fósforo, e de matéria orgânica. Os indicadores de contaminação fecal foram reduzidos em 90%. Todo o tratamento é realizado sem uso de energia elétrica ou de produtos químicos. “Se a captação do efluente acontecer em um local mais elevado que a unidade de tratamento, também não haverá necessidade de bombeamento”, acrescenta Rodrigo. 

A água tratada pode ser empregada em irrigação, ou também para descarga em vasos sanitários. O sistema é indicado para qualquer local com área disponível, especialmente pequenas cidades e comunidades, além de condomínios e propriedades rurais. “Numa comunidade carente, por exemplo, além de tratar a água, seria possível comercializar plantas e flores cultivadas no tanque, e também usar as fibras vegetais para artesanato”, aponta o pesquisador. 

A pesquisa é descrita na dissertação de mestrado em Engenharia Sanitária de Rodrigo, orientada pelo professor Ivanildo Hespanhol, da Poli. As experiências com o sistema foram realizadas no Centro Internacional de Referência em Reúso de Água (Cirra), ligado à Poli e à Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica (CTH). 

De acordo com o ecólogo, os sistemas tipo “wetlands” são muito usados para o tratamento de efluentes na Europa e nos Estados Unidos. “No Brasil, porém, o método é pouco conhecido”, ressalta. “Entretanto, o potencial de uso no País é grande, devido a disponibilidade de espaços e ao clima adequado para a atividade dos microrganismos envolvidos no tratamento”, diz. 

Da USP