USP desenvolve método inovador para medir pressão intracraniana

Procedimento simples e minimamente invasivo para medir a pressão interna do cérebro tem diversas aplicações

sáb, 13/08/2011 - 20h00 | Do Portal do Governo

O professor Sérgio Mascarenhas, coordenador do Instituto de Estudos Avançados de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), costuma dizer que, de “maldita”, a doença rara e de difícil diagnóstico que sofreu há cerca de seis anos – a hidrocefalia de pressão normal – se tornou “bendita”. Inconformado na época em que recebeu o diagnóstico com o fato de que a medicina moderna ainda tivesse que perfurar o crânio das pessoas com a doença para medir a pressão intracraniana, Mascarenhas desenvolveu um método simples e minimamente invasivo para medir a pressão interna do cérebro de pacientes com hidrocefalia e traumatismo craniano. Método que pode ter diversas aplicações.

Composto por um chip, que é colocado externamente à cabeça do paciente por meio de uma pequena incisão, e um monitor externo, que recebe e registra as informações sobre a deformação óssea do crânio – que é proporcional à pressão interna do cérebro -, o método recebeu apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para ser difundido no Brasil e em toda a América Latina.

“A ideia do Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos, é que o método seja utilizado no Brasil nas ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), para que se possa avaliar o estado da pressão intracraniana de vítimas de acidentes de trânsito e obter um diagnóstico de urgência”, disse.

Em 2009, por meio do projeto intitulado “Desenvolvimento de um equipamento para monitoramento minimamente invasivo da pressão intracraniana”, apoiado pela FAPESP, o método, que foi tema do projeto de doutorado do pesquisador Gustavo Henrique Frigieri Vilela, começou a ser testado em pacientes com traumatismo cerebral internados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.

Posteriormente, passou a ser testado para diversas outras aplicações, como no diagnóstico e acompanhamento de pacientes com acidente vascular cerebral (AVC).

“Com o método, é possível que os profissionais de saúde possam acompanhar os impactos neurológicos de um AVC e tomar providências no prazo de duas horas, que são cruciais para salvar ou diminuir as sequelas nos pacientes”, explicou Mascarenhas.

O dispositivo também está sendo estudado no acompanhamento de pacientes com tumor cerebral – que aumenta o volume interno do cérebro e a pressão intracraniana -, além de no diagnóstico de morte encefálica, quando desaparece a pressão intracraniana. Outras possíveis aplicações do equipamento é em farmacologia, para medir os efeitos de drogas que atuam sobre desequilíbrios químicos do cérebro que alteram a pressão intracraniana – como a enxaqueca – e em veterinária, para medir a pressão intracraniana de animais de grande porte, como boi e porco, para avaliar a presença de encefalite – que aumenta o encéfalo e a pressão intracraniana.

Mas, de acordo com o pesquisador, os maiores avanços na aplicação do método foram obtidos no diagnóstico e acompanhamento de traumatismos cranianos e de epilepsia. “Pela primeira vez foi possível ver o que ocorre com a pressão intracraniana de um paciente epilético durante uma convulsão. Porque não se pode perfurar a cabeça do paciente para observar isso”, disse Mascarenhas.

Da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia