USP cria competição de veículos com energias limpas

Carro brasileiro participará do World Solar Challenge, na Austrália

qua, 16/01/2008 - 21h17 | Do Portal do Governo

USP Solar ajuda a criar competição nacional de veículos com energias limpas

Júlio Bernardes, especial para o USP Online

jubern@usp.br

A Equipe USP Solar, sediada no Departamento de Engenharia Mecatrônica e Sistemas Mecânicos da Escola Politécnica (Poli), prepara um veículo para participar da próxima edição da World Solar Challenge, a mais importante competição de carros movidos a energia solar do mundo, realizada na Austrália. Associada a outros especialistas, a equipe pretende organizar corridas de carros com energias alternativas produzidos no Brasil.

O carro solar possui 2 metros de altura por 6 de comprimento, e pesa 262,5 quilos – um carro de passeio mede cerca de 2 por 4,5 metros e pesa em torno de uma tonelada. Possui espaço para duas pessoas. A energia do Sol, captada por um painel com 1100 células fotovoltaicas, move um motor elétrico de 2 hp (os carros convencionais têm no mínimo 50 hp). Construído em alumínio de alta resistência, kevlar (tipo de polímero) e equipado com três rodas de fibra de carbono, o veículo atingiu a velocidade de 86 quilômetros por hora em uma competição disputada na Grécia, durante os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. 

“Esse desempenho é conseguido porque o carro solar é leve, aerodinâmico e eletricamente eficiente”, explica o engenheiro Vinicius Rodrigues de Moraes, que coordena a equipe, com a supervisão do professor Julio Cezar Adamowski, da Poli. O motor, do tamanho de uma bola de futebol, mais de 90% de eficiência, contra 70%, dos motores elétricos comuns. “O veículo é sustentável, pois pode atuar de forma contínua, utilizando à noite a energia captada durante o dia”.

A próxima edição da World Solar Challenge acontece no ano que vem. O percurso é de 3.021 quilômetros, entre as cidades de Darwin e Adelaide, na Austrália. “A competição australiana é a que mais atrai equipes estrangeiras, mas existe o plano de criar um circuito internacional com a disputa australiana e as provas que são realizadas nos Estados Unidos, Japão e, a partir deste ano, na África do Sul, bem como uma etapa no Brasil a ser criada pela própria Equipe USP Solar”, afirma o engenheiro.

Equipe

A equipe USP Solar envolve alunos de graduação, pós-graduação, professores e funcionários da Poli e também do Instituto de Física (IF), da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e da Faculdade de Direito (FD) da USP. “O pessoal de Direito, por exemplo, auxilia em questões legais relativas a tributos e importação de equipamentos”, conta Vinícius. A equipe foi criada em 1995, com o nome de Poli Solar, formada por sete alunos de engenharia mecatrônica, coordenados pelo professor Adamowski.

A primeira participação do Brasil na World Solar Challenge aconteceu em 1993, com um veículo construído pelo empresário Eduardo Bomeisel. “Hoje, esse veículo está na Poli”, ressalta o engenheiro. Em 1996, com a participação de dois carros, um deles desenvolvido na USP, pela primeira vez um veículo brasileiro terminou a prova. Depois de alguns anos sem competir por falta de patrocínios, o projeto da Poli foi retomado em 2002. Em 2004, por intermédio de Marcelo da Luz, brasileiro que construiu um veículo solar em Toronto (Canadá), o carro solar participou de uma competição na Grécia, durante os Jogos Olímpicos.

 

Corrida

Em outubro, aconteceu o primeiro encontro brasileiro de especialistas em veículos solares, realizado no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (interior de São Paulo). Ao final da reunião, os participantes divulgaram uma carta enumerando 83 projetos e metas a serem atingidas até 2014, como construção de veículos e quebra de recordes nacionais e mundiais. Os três carros solares existentes no Brasil, que estão na Poli e no Centro Técnico Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos, deverão ser reunidos e modernizados, para rodarem simultaneamente.

“O essencial do plano é fazer pesquisa e desenvolvimento de energias limpas, provar sua viabilidade, divulgar e ensinar a fazer”, resume Vinicius. “Para alcançar esses objetivos, serão organizadas corridas com veículos movidos a energias alternativas no Brasil”.Além dos grupos que trabalham com veículos solares, a competição deverá reunir equipes que participam de maratonas de eficiência energética (carros de economia de combustível), corridas de carros elétricos (ecomaratonas) e guerras de robôs.

“Para viabilizar a competição, vão ser diminuídas barreiras de entrada técnicas e financeiras, pois os grupos interessados estão sendo ensinados a fazer veículos de custo menor dos que os usados em competições internacionais”, planeja o engenheiro. O custo de produção de cada veículo deverá ser de aproximadamente 10 mil dólares (os veículos usados do exterior custam no mínimo 100 mil dólares). “Também serão chamados grupos que lidam com futebol de robôs, mini baja e aerodesign, reunindo todos aqueles que atuam em competições tecnológicas acadêmicas”. A primeira corrida brasileira utilizando energias limpas deverá acontecer em 2009.