USP: Câmbio, transporte e desinformação dificultam exportações de micro e pequenas empresas

Pesquisa da FEA revela que empresários desconhecem procedimentos necessários para exportar

qua, 17/05/2006 - 12h29 | Do Portal do Governo

A instabilidade do câmbio, a logística de transporte de mercadorias e a falta de informação sobre procedimentos de exportação representam os maiores entraves para as micro e pequenas empresas (MPEs) brasileiras exportarem seus produtos. Responsáveis por apenas 2,4% do total das exportações do Brasil (2003), essas empresas têm como maior motivação para a exportação a diversificação de clientes e a perspectiva de maiores lucros.

Em sua pesquisa de mestrado sobre o tema, apresentada na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, o engenheiro e consultor em administração Fernando Martinson Ruiz entrevistou 102 micro e pequenos empresários por meio de um questionário (survey) e realizou entrevistas mais amplas em nove empresas dos setores têxtil, calçadista e odontológico.

Segundo ele, “as exigências dos clientes estrangeiros favorecem a melhoria tecnológica dos produtos e o custo do capital diminui com empréstimos a juros menores que no mercado brasileiro.”

A política de câmbio dificulta a expansão das exportações, ressalta o pesquisador “O maior problema não está no valor baixo do dólar, mas na instabilidade das cotações, que torna a perspectiva de ganhos menos atraente”, ressalta. “As deficiências em portos, estradas, ferrovias e aeroportos também criam gargalos logísticos que tornam mais complicada a internacionalização das empresas.”

Desinformação

Ruiz alerta que a desinformação aumenta o receio dos empresários em lidar com os trâmites burocráticos envolvidos nas exportações. “Muitas empresas não têm conhecimento do processo e não possuem pessoal com domínio do idioma inglês, exigido no preenchimento da documentação.”

As MPEs representam 7.000 das 11.200 empresas que exportam no País, aponta o pesquisador, lembrando que a falta de continuidade nas exportações dificulta a inserção no exterior. Ele contabiliza que o índice de descontinuidade chega a 70% nas empresas de pequeno porte e 61% nas microempresas. “O índice de MPEs que exportam há mais de dez anos é de 34%.”

De acordo com Ruiz,O mercado mais procurado pelas MPEs é o Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai) “As empresas começam a exportar por essa região, pois os custos de envio são menores e se trata de países mais próximos culturalmente do Brasil”.

Entre os setores que mais exportam estão o têxtil e o calçadista. “Nestas áreas, além dos problemas cambiais, há uma grande competição com a China, o que exige mercadorias muito baratas”, diz o pesquisador. “O setor de instrumentos odontológicos cresceu apostando na qualidade e na diferenciação de seus produtos.”

Uma solução pesquisada por Ruiz para ampliar a presença das MPEs no exterior é a formação de consórcios e associações de exportadores, adotado por empresários de Birigui e Ribeirão Preto. “Somando forças, é possível reduzir os custos de divulgação internacional dos produtos, por exemplo”.

Júlio Bernardes

Da Agência USP