USP: Calouros autodeclarados pretos, pardos e indígenas chegam a 25%

Em 2019, o numero de estudantes que se declaram PPI aumentou em cursos de graduação da Universidade de São Paulo

ter, 19/03/2019 - 17h25 | Do Portal do Governo

Em 2019, o número de calouros autodeclarados pretos, pardos e indígenas (PPI) nos cursos de graduação da Universidade de São Paulo (USP) aumentou. Neste ano, dos 10.779 alunos ingressantes, segundo dados referentes à quarta chamada da Fuvest e segunda chamada do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), 2.734 são estudantes pertencentes a esse grupo, o que representa 25,7% do número total de vagas, independentemente da modalidade de concorrência.

No ano passado, o índice foi de 18,5%. De acordo com informações da Pró-Reitoria de Graduação, 36,7% desses alunos não utilizaram o sistema de reserva de vagas para ingressar na universidade – 702 entraram na modalidade Ampla Concorrência, 302 na modalidade Escola Pública e 1.730 estudantes foram admitidos por meio da modalidade EP-PPI (Escola Pública – Pretos, Pardos e Indígenas).

“O resultado nos mostra que a USP está se tornando cada vez mais representativa da sociedade brasileira. Um terço dos candidatos optou por concorrer em outras categorias para além da reserva de vagas, o que mostra que nossas políticas de inclusão estão sendo efetivas para estimular esses estudantes a fazerem parte da nossa Universidade”, destaca o reitor, Vahan Agopyan.

Para o reitor, outro dado que chama a atenção é o fato de 41,8% dos alunos ingressantes terem cursado todo o Ensino Médio em escolas públicas, contra os 49,7% vindos de instituições particulares. “Estamos diante de um marco histórico da nossa universidade e caminhando a passos largos para que essa proporção chegue a 50% até 2021”, acrescenta.

Os demais 8,5% dos ingressantes cursaram o ensino médio parte em escola pública, parte em escola privada ou, ainda, em escolas particulares com bolsas e em fundações.

Perfil

Uma alteração importante no perfil dos ingressantes diz respeito à situação socioeconômica da família. Em 2019, 45% dos calouros têm renda familiar bruta entre um e cinco salários mínimos e 55% têm renda acima dos cinco salários mínimos. Em 2017, esses índices foram de 39% e 61%, respectivamente.

“A inclusão social e étnica é um importante instrumento para oferecer oportunidade de ascensão social a estudantes que não provêm dos segmentos mais abastados da sociedade. Com esses dados, fica claro que a USP é uma universidade acessível para todos”, salienta Vahan Agopyan.

No último ano de colégio, Juan Andrew Diniz Comamala estava focado no objetivo de cursar uma universidade pública. Ele aproveitava ao máximo as aulas e complementava fazendo cursinho aos sábados. Em 2017, não foi aprovado. Então, no ano seguinte, decidiu estudar sozinho e o resultado foi o melhor possível: ingressou no tradicional curso de Direito.

Ele se lembra de que acordava cedo, fazia as tarefas de casa pela manhã e, assim, passava o resto do dia estudando. “Eu estudava de cinco a seis horas por dia, em geral, mas também já cheguei a estudar de dez a doze horas”, conta. Nos fins de semana, o estudante fazia provas antigas do Enem e também os simulados.

Juan decidiu concorrer apenas ao Enem e conseguiu uma vaga na USP por meio do Sisu, na modalidade PPI. “Quando saí da prova, eu achei que tinha ido muito mal”, conta. O estudante revela que a maior motivação foi a convicção sobre ensino público. “Eu acredito que o acesso à educação é um direito meu. Nunca pensei em pagar por ela”, diz.

O sonho de cursar Direito surgiu aos 13 anos, enquanto assistia a um programa de televisão. Juan não tem certeza ainda do que gostaria de seguir no futuro, mas cogita virar um promotor.

Meta

Em 2019, a USP alcançou a meta estabelecida pelo Conselho Universitário para a reserva de vagas destinadas a alunos de escolas públicas (EP) e autodeclarados PPI nos cursos de graduação, com mais de 40% de alunos matriculados oriundos de escolas públicas e, dentre eles, 40,1% na modalidade PPI.

Esse foi o maior índice de alunos de escolas públicas alcançado pela USP nos últimos anos. Até o vestibular de 2014, a proporção de estudantes desse grupo ingressantes na USP variou na faixa de 24% a 27%. Entre 2015 e 2017, esse índice ficou entre 34% e 37% e, em 2018, chegou a 39%.

Este é o segundo ano em que a USP adota a reserva de vagas, que vem sendo feita de forma escalonada: no ingresso de 2018, foram reservadas 37% das vagas de cada Unidade de Ensino e Pesquisa; em 2019, a porcentagem é de 40% de vagas reservadas de cada curso de graduação; para 2020, a reserva das vagas em cada curso e turno deverá ser de 45%; e no ingresso de 2021 e nos anos subsequentes, a reserva de vagas deverá atingir os 50% por curso e turno.

Nessa reserva, também incide o porcentual de 37,5% de cotas para estudantes autodeclarados PPI, índice equivalente à proporção desses grupos no Estado de São Paulo verificada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Uma das mudanças do vestibular deste ano foi a adoção, pela Fuvest, das inscrições por modalidades de vagas já a partir da primeira fase do vestibular. Assim como já ocorre no Sisu, a partir de 2019, ao escolher a carreira e o curso, o vestibulando tem três opções: Ampla Concorrência (AC), Ação Afirmativa Escola Pública (EP) e Ação Afirmativa Preto, Pardo e Indígena (PPI). Com a institucionalização da reserva de vagas, a concessão de bônus na Fuvest deixou de existir.

Levantamento

De acordo com levantamento feito pela Pró-Reitoria, dos 183 cursos oferecidos pela USP, 168 cumpriram a meta, atingindo 40% ou mais das vagas preenchidas por alunos de escolas públicas. Os 15 restantes ainda estão em fase de preenchimento das vagas resultantes das últimas chamadas da Fuvest e do Sisu.

Entre os PPI ingressantes segundo a modalidade EP-PPI, 150 cursos cumpriram a meta de, no mínimo, 37,5% das vagas destinadas a esse grupo. Outros 33 cursos ainda estão em fase de preenchimento das vagas resultantes das últimas chamadas da Fuvest e do Sisu.

Em 56 cursos, o porcentual de autodeclarados PPI dentre os alunos oriundos de escola pública foi de, pelo menos, 50%, destacando-se os cursos de Odontologia (Bauru), com 52%; Direito (São Paulo e Ribeirão Preto), com 56%; Relações Internacionais e Ciências Biológicas (Ribeirão Preto), ambos com 73%; e Geografia (noturno), com 83%.

Os cursos de Medicina oferecidos nos campi de Ribeirão Preto e de Bauru tiveram, entre os matriculados, 43% de alunos PPI oriundos de escolas públicas. Em São Paulo, esse índice foi de 39%.

No caso dos cursos de Engenharia, a Escola Politécnica (Poli), a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) e a Escola de Engenharia de Lorena (EEL) tiveram a média de 44% de alunos EP-PPI.

Inspiração

Alice Vitória Rocha Silva é uma sergipana de 16 anos, famosa no mundo literário e agora caloura na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

Aos cinco anos, iniciava o Ensino Fundamental, entrando direto no segundo ano. Ao mesmo tempo, escrevia seu primeiro livro, “O monstro de chocolate”, publicado em quatro idiomas. Foi estrela mirim da Bienal Internacional do Livro em São Paulo, em 2010, e, em 2013, sua obra foi exposta no The London Book Fair, na Inglaterra, considerada uma das mais importantes feiras literárias do mundo.

Sua inspiração para a literatura, diz, foi a escritora Ruth Rocha, especialmente. Aos onze anos, Alice publicou a segunda obra, “A bruxinha boazinha e os ratinhos de circo”, com prefácio de Maurício de Sousa. Em abril próximo sairá o seu quinto livro, “Saída discreta pelas portas do fundo”, em parceria com o ator Kaique Pereira. O texto fala sobre o preconceito racial nas redes sociais.

A jovem escritora e bibliófila acredita que tenha lido até hoje cerca de 3 mil livros, o que, na opinião dela, foi o diferencial no Enem e lhe rendeu aprovação na USP. “Na prova, saber interpretar é fundamental. Mesmo que você não saiba muito do assunto, sabendo interpretar, dá para responder”, afirma.

“Ao analisar as instituições que ofereciam o curso, vi que a USP é considerada a melhor da América Latina. Li sobre a infraestrutura, o currículo e o peso no mercado de trabalho. Tudo isso me chamou a atenção e também recebi grande incentivo da minha mãe, pedagoga e socióloga, para optar pela USP”, enfatiza a aluna.

Ela chegou ao campus acompanhada do pai, André Jorge Silva, um jornalista e radialista de Olinda, Pernambuco. Ela disse gostar do espaço arborizado e da arquitetura e que espera que o ensino na USP seja tão bom quanto ouviu falar.

Vem pra USP! aprova alunos na Fuvest

Mais de 350 estudantes do Ensino Médio público, incluindo treineiros, que participaram da Competição USP de Conhecimentos (CUCo) foram aprovados no vestibular da Fuvest. As áreas que tiveram mais aprovados da CUCo foram as Engenharias, Ciências Exatas e da Terra, Administração/Economia, Farmácia, Direito, Enfermagem, Letras e Educação Física.

A CUCo é uma competição que integra o programa “Vem pra USP!”, uma parceria com a Secretaria Estadual da Educação para valorizar os estudantes da rede pública, incentivá-los a estudar na USP e prepará-los para o vestibular.

Em 2018, a competição contou com cerca de 50 mil alunos inscritos procedentes de 528 municípios do Estado e, do total de 2.743 escolas, foram premiados 4.233 estudantes.

“O Vem pra USP! tem como principal diretriz a valorização do mérito centrada em cada escola e para as três séries do ensino médio. Com isso, você enaltece a escola pública e o aluno que se inscreve espontaneamente. Nosso objetivo é incluir com mérito, prestigiando o esforço individual do estudante”, destaca o vice-reitor da USP e idealizador da CUCo, Antonio Carlos Hernandes.

Monitoria

Além da isenção da taxa da Fuvest, os estudantes premiados na competição tiveram monitoria de Matemática pela internet, onde podiam esclarecer suas dúvidas on-line com monitores da USP, obter dicas de como se organizar para estudar e conversar com outros usuários em um fórum de interação.

Na premiação da CUCo deste ano, a USP entregou R$ 64 mil para onze escolas, sendo seis estaduais e cinco técnicas, além de certificados. Para as escolas técnicas que tiveram os maiores índices de participação, os prêmios foram aos grêmios estudantis.

No caso das estaduais, o cálculo primeiro foi para saber, entre as 91 diretorias regionais de educação, quais foram as cinco com maior índice de participação. Depois de definidas as regionais, foi a vez de escolher as escolas mais participativas. Os prêmios incluíram as escolas e os grêmios estudantis delas.

Toda região que ultrapassasse 7% dos alunos fazendo a prova da segunda fase elegeria uma escola para ganhar o prêmio para o grêmio estudantil. Em 2018, a USP investiu no programa mais de R$ 500 mil em prêmios, incluindo as isenções na taxa da Fuvest, para as escolas, os professores e os alunos envolvidos na competição.