Usina começa a produzir biodiesel com tecnologia desenvolvida pela Unicamp

Usina em construção no Mato Grosso deverá produzir cerca de 60 milhões de litros de biocombustível por ano

sex, 20/04/2007 - 7h00 | Do Portal do Governo

Um catalisador de alto desempenho, capaz de transformar gordura animal e óleos vegetais em biodiesel, é objeto de um contrato de licenciamento tecnológico firmado entre a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a BioCamp Indústria e Comércio de Biodiesel Ltda., com sede em Campo Verde, Estado de Mato Grosso. Por meio do acordo, a empresa poderá explorar comercialmente, pelo prazo de 20 anos, a nova tecnologia. A expectativa é que a usina construída pela companhia, que entra em operação no dia 30 de abril, venha a produzir até 60 milhões de litros de biocombustível ao ano. A produção inicial será de 10 mil litros por dia. Como o contrato não confere exclusividade à BioCamp, a mesma tecnologia poderá ser objeto de novos licenciamentos.

A tecnologia objeto do contrato de licenciamento foi desenvolvida pelo professor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, Antonio José da Silva Maciel, em parceria com seu aluno de doutorado, Osvaldo Candido Lopes. Mas, segundo o docente, a pesquisa não teria avançado sem a colaboração de outros professores da universidade, como Lireny Aparecida Guaraldo Gonçalves e Renato Grimaldi, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), além de Matthieu Tubino e Pedro Faria dos Santos Filho, do Instituto de Química (IQ).

O catalisador desenvolvido pelos pesquisadores da Unicamp tem a função de promover o que os especialistas chamam de transesterificação. De maneira simplificada, o processo cumpre as seguintes etapas. Primeiro, é adicionado um álcool simples (etanol, no caso) à matéria-prima. Depois, junta-se à mistura o catalisador. Em seguida, uma reação química quebra a cadeia de carbono da gordura animal ou do óleo vegetal, dando origem a dois produtos nobres distintos: biodiesel e glicerina. Esta última é muito utilizada pelas indústrias farmacêutica e de cosméticos. Segundo o professor Maciel, a tecnologia em questão apresenta duas significativas vantagens sobre os métodos convencionais de produção de biodiesel.

Normalmente, explica o docente, as técnicas disponíveis proporcionam um rendimento inferior a 95%. Além do mais, os catalisadores presentes no mercado induzem a formação de resíduos indesejados, como sabão ou emulsão. “No caso do nosso catalisador, isso não ocorre. Além disso, o rendimento obtido nos testes que realizamos ficou na casa dos 99%”, assegura Maciel.

Após a transferência da tecnologia do catalisador para o setor produtivo, um dos principais objetivos do professor Maciel é a implantação, na Unicamp, de um laboratório para a certificação de biodiesel. Seria o primeiro do gênero em uma universidade pública paulista. De acordo com ele, a missão do laboratório seria prestar serviços à indústria por meio da análise do biocombustível, além de ter um forte caráter acadêmico, pois possibilitaria a realização de inúmeras pesquisas. A certificação, diz, asseguraria tanto aos fabricantes quanto aos consumidores a qualidade final do produto. O projeto está sendo formatado e conversações nesse sentido estão sendo mantidas com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).Emprego e renda – Em razão do contrato de licenciamento a ser firmado com a Unicamp, a BioCamp ergueu em Campo Verde, em tempo recorde, uma usina para a produção de biodiesel considerada modelo. Os trabalhos de construção da planta contaram com a consultoria do professor Maciel. A estimativa dos sócios da empresa é que o empreendimento gerará aproximadamente 120 empregos diretos a partir do momento em que as máquinas forem ligadas.

A usina também ajudará a impulsionar a agricultura familiar da região, segundo a BioCamp. Cerca de 700 famílias de agricultores estarão envolvidas na produção do biodiesel. A empresa doará perto de 100 quilos de pinhão manso para o plantio. Depois, comprará a safra, que servirá de matéria-prima para a geração do biocombustível. Inicialmente, explica o professor, a produção será feita a partir do óleo de girassol. “Entretanto, a usina poderá se valer de qualquer óleo vegetal, como mamona ou soja. Poderá aproveitar, inclusive, óleo usado de cozinha. No caso da BioCamp, como um dos sócios é proprietário de frigorífico, um dos principais insumos para obtenção do biodiesel será o sebo bovino”, informa.Paulo Henrique de Andrade

Da Agência Imprensa Oficial

(R.A.)