Urbanistas discutem futuro das metrópoles em SP

Urban Age reúne especialistas e líderes municipais de mais de 25 cidades de 14 países

sex, 05/12/2008 - 10h38 | Do Portal do Governo

Sustentabilidade, qualidade de vida, mobilidade, ocupação do espaço urbano e meio ambiente estão presentes nas agendas da sociedade civil e dos governos. Esses temas começaram a ser discutidos ontem em São Paulo, durante o Urban Age 2008. O encontro, que reúne especialistas em diversas áreas, pesquisa o futuro das cidades e as políticas adotadas para minimizar os problemas e evitar que eles se tornem ainda mais graves.

As edições anteriores foram realizadas em Nova York, Londres, Xangai, Cidade do México, Johannesburg, Berlim e Mumbai. A conferência Urban Age América do Sul, em São Paulo, será a maior e a mais complexa da série e reunirá 80 especialistas e líderes municipais de mais de 25 cidades de 14 países. O evento contempla um ano de pesquisas e uma série de workshops realizados em Londres e São Paulo, bem como a coleta de informações a partir do material inscrito para a segunda edição do Prêmio Deutsche Bank Urban Age Award, criado em 2007 para reconhecer as soluções criativas encontradas para dar conta dos desafios que as cidades enfrentam. 

Tendências urbanas – Além de tratar de mudanças estruturais significativas que afetam a maior cidade e a maior potência econômica do Brasil — com uma população crescente de mais de 19 milhões de habitantes, São Paulo é hoje a 5ª maior cidade do mundo —, a Urban Age explorará tendências urbanas no Rio de Janeiro, Buenos Aires, Bogotá e Lima, oferecendo uma perspectiva regional em questões sociais, espaciais e econômicas fundamentais, subjacentes ao crescimento urbano na América do Sul.

Iniciativa da Alfred Herrehausen Society, fundação patrocinada pelo Deutsche Bank e a London School of Economics, o evento foi organizado em associação com o Estado de São Paulo, a cidade de São Paulo, a Universidade de São Paulo (USP) e o Centro de Estudo de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas.

Em 2007, o projeto Urban Age voltou suas atenções para as cidades da Índia. Em 2009, o foco recairá sobre Istambul (Turquia) e sobre o desenvolvimento urbano no Sudeste da Europa. Em seguida, serão realizadas a Cúpula Urbana e uma grande mostra em Berlim, em 2010.

Para o evento, “a Imprensa Oficial imprimiu e traduziu cadernos especiais (em português) que discutiam os problemas das cidades de Londres, cidades alemãs, Cidade do México, Xangai, Mumbai e Nova York, entre outras”, explica Cecília Scharlach, coordenadora editorial da Imprensa Oficial. Foram impressos 5 mil exemplares de cada cidade para serem distribuídos durante os dois dias do encontro e depois para bibliotecas e outras instituições.

O governo do Estado de São Paulo lançará, também, um livro (a ser editado pela Imprensa Oficial) sobre os projetos que participaram do concurso Deutsche Bank Urban Age Award. “É uma maneira do grande público conhecer os projetos sociais que existem em São Paulo”, finaliza Helena Maria Gasparian, assessora internacional do governo do Estado.   

Vencendo barreiras 

A noite de 3 de dezembro foi marcante na vida de quatro participantes do concurso Deutsche Bank Urban Age Award. O projeto “Do Cortiço da Rua Sólon ao Edifício União” foi o vencedor da segunda edição do Deutsche Bank Urban Age Award, concorrendo com outros 132 projetos que trataram da área metropolitana de São Paulo. É o dobro do número de inscritos na primeira versão do prêmio concedido em 2007, em Mumbai (Índia). Mereceu, pela vitória, um prêmio de US$ 100 mil. “O número de inscrições refletiu o interesse e a criatividade dos paulistanos para resolver os desafios urbanos e sociais enfrentados pela maior e mais complexa cidade da América do Sul”, diz Wolfgang Nowak, diretor da Alfred Herrhausen Society do Deutsche Bank.

O júri, composto por especialistas em urbanismo de renome internacional e formadores de opinião regionais reuniu-se em São Paulo, nos dias 9 e 10 de novembro, para avaliar os projetos. Raí, estrela do futebol brasileiro, é um dos membros do júri. O ex-jogador dirige uma fundação que se dedica à educação dos jovens nas favelas da cidade. Os outros integrantes são: Tatá Amaral, cineasta, curadora de arte; Lisette Lagnado, e Fernando Mello de Franco, um dos mais destacados arquitetos de São Paulo. A banca julgadora foi completada pelos especialistas internacionais Anthony Williams, ex-prefeito de Washington, e Ricky Burdett, especializado em urbanismo da London School of Economics, que presidiu o julgamento.

Outros três concorrentes – Instituto Acaia (Vila Leopoldina), Biourban (Bairro da Saúde) e Cooperativa de Reciclagem Nova Esperança (Vila Nova-Pantanal) – ganharam R$ 10 mil.  

Viver com dignidade – “O projeto ‘Do Cortiço da Rua Sólon ao Edifício União’ partiu de um estudo de sala com meus alunos da Faculdade de Urbanismo da USP, em 2002. Das visitas dos alunos ao cortiço saiu o estudo, transformado em projeto, que deu mais dignidade aos moradores do local e conquistou o prêmio oferecido pela Caixa Econômica Federal e pelo Instituto de Arquitetura do Brasil”, explica Maria Ruth Amaral de Sampaio, professora da cadeira de Habitação Popular Paulistana, da FAO-USP, coordenadora do trabalho.

O projeto levou à troca da rede elétrica do cortiço, realização de um curso de formação de brigada de incêndio (com parceria do Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e uma nova pintura para o edifício. Segundo a professora, “com o prêmio iremos trocar a rede de água e esgoto, reforçar a estrutura do edifício e instalar gás de rua”. Atualmente 42 famílias moram no Edifício União. Francisco Bezerra vive ali há 17 anos e ficou muito feliz com a premiação. “Hoje temos um endereço e nossa auto-estima está lá em cima”, diz.

A instituição de um novo sistema de coleta de lixo, que gera renda para a cooperativa, deu o prêmio de R$ 10 mil à Cooperativa de Reciclagem Nova Esperança e Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano. “É uma parceria inovadora entre governo e residentes locais desenvolvida no Programa Integrado de Urbanização do Pantanal, zona leste, periferia de São Paulo”, diz Aracy Musolino, do Instituto Gea, contratado pela CDHU para ajudar a desenvolver o projeto com os aos moradores.

Luiz Carlos de Araújo, presidente da cooperativa, diz que o projeto modificou a vida dos moradores do Pantanal. “Participamos de curso de formação de recicladores e a vida no bairro não é mais a mesma. Tínhamos muitos problemas com enchentes e isso acabou. Somos recebidos com cortesia, o que não acontecia antes”, diz Joana D´Arc da Cruz Conceição, moradora e recicladora do Pantanal.

“O importante é que ficamos entre os 12 finalistas”, comemora Antônio Augusto Telles Macedo, diretor nacional do Projeto Inclusão Social Urbana Nós do Centro. O projeto foi criado há dois anos em um depósito industrial abandonado no centro da capital paulista. Hoje, promove o contato social e a melhoria de qualidade de vida. O Nós do Centro atende 10 mil pessoas. A expectativa para 2009 é atender 50 mil. 

Maria Lúcia Zanelli

Da Agência Imprensa Oficial