“Eles chegaram com medo e inseguros porque achavam que computador é coisa de jovem. Mostramos que dominar a informática é uma necessidade do dia-a-dia de todos e não opção de lazer”, conta a professora Ester Aureliano da Silva, da oficina de inclusão digital. A atividade é um dos sete cursos oferecidos gratuitamente às pessoas a partir de 60 anos inscritas na Universidade Aberta para o Envelhecimento Saudável (Unapes).
Na aula de informática, há cinco computadores para dez alunos, que aprendem a digitar textos, desenhar com aplicativo, enviar e-mails, procurar sites e usar programa de apresentação. Agora, sentem-se mais seguros e um ajuda o outro.
A operária aposentada Maria Benigna Ramos Palos, 66 anos, mora no Butantã, zona oeste, e participa das aulas de informática com o marido, José Rabaça Palos, 71, jardineiro na ativa. “Tenho dificuldades, mas estou persistindo e vou aprender”, diz ele. Sua esposa diz orgulhosa que, apesar de a ferramenta ser novidade, consegue entrar e sair da Internet e manda e-mails para os amigos: “Pego as coisas com mais facilidade e sinto que a oficina me auxilia na concentração das atividades do dia-a-dia”.Convivência – Movidos pela vontade de tornar os idosos ativos e úteis à sociedade e sem praticamente nada de recursos financeiros, a disciplina de Geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) criou a Unapes, atividade do Programa de Promoção do Envelhecimento Saudável (Propes).
O que motivou o início do trabalho foi a constatação do professor da FMUSP, o médico Wilson Jacob Filho, de que os mais velhos têm aptidões para atividades de interesse social; no entanto, essas habilidades não são empregadas.
A percepção do doutor, também diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (HC), resulta de 20 anos de assistência médica a essas pessoas. “A sociedade está despreparada para conviver com o idoso”, frisa.
Ele defende que não é tendência dos mais velhos sofrer depressão e isolar-se da sociedade, mas isso pode ocorrer por causa da predisposição deles ao afastamento. Para o médico, eles têm dificuldades de conviver com pessoas de diferentes faixas etárias e até mesmo com as de sua idade.
Diz que a maioria dos problemas de saúde da terceira idade é gerada pela falsa percepção de inutilidade social: “Quando percebem seu potencial de modificação individual e do meio em que vivem, a saúde, a autonomia e a independência melhoram significativamente”. O médico frisa que isso não indica cura das doenças, mas representa estímulo para cuidar melhor de si.
Programa quer formadores de opinião
O intuito do trabalho da FMUSP é que a terceira idade torne-se formadora de opinião e agente de desenvolvimento social. Para isso, são oferecidas sete oficinas, sendo três inovadoras num serviço de saúde (educação ambiental/jardinagem, turismo e contadores de história). As demais abordam alimentação saudável, inclusão digital, atividade física e dança.
A grade de cursos resultou de pesquisa de opinião entre usuários do HC e comunidade próxima. Perguntados sobre os temas de maior interesse, responderam: inclusão digital, atividade física e alimentação saudável.
Quem ministra as aulas são profissionais voluntários de fisioterapia, psicologia, assistência social e enfermaria. A primeira turma da Unapes, formada por 103 alunos, começou em agosto e só termina depois de dois anos de treinamento.
Cada participante escolhe um curso por semestre (programado uma vez por semana) e assiste às palestras educacionais sobre envelhecimento saudável toda segunda-feira.
Entre os temas dos debates: bom humor e saúde, conhecendo sua saúde e corpo, o papel do idoso na família, o mercado de trabalho e o idoso, medicamentos: solução ou problema?, prepare-se!, você vai viver mais e envelhecer sorrindo. Mitos e verdades – Na sala para contar histórias, os voluntários montaram biblioteca para incentivar a leitura. O acervo é tímido e precisa ser ampliado.
Para o próximo semestre, a idéia é incluir atividades que abordem empreendedorismo e projetos comunitários. Trabalhador de qualquer área com curso de gerontologia (estudo do envelhecimento) que quiser colaborar procure a sede do Propes, no Prédio dos Ambulatórios do HC.
O programa também recebe doação de materiais adaptados para o idoso, utilizados na aula de educação ambiental/jardinagem, entre eles enxada, cortador de grama e tesoura.
Na oficina de alimentação saudável, as nutricionistas explicam a diferença de alimentos diet e light, dão dicas de higiene alimentar, abordam mitos e verdades sobre o consumo de certos produtos e preparo de pratos sem sal. A idéia é orientá-los para serem multiplicadores na sociedade.
“É maravilhoso estar aqui porque tenho mais disposição”, afirma Amadeu Utembergue, 85 anos, aluno da oficina de atividade física. Mas esse não é o segredo de sua jovialidade e entusiasmo. Todo dia corre na praça perto de sua casa e pula corda. Sua paixão pelos esportes vem da juventude, quando jogava futebol e nadava.
Em março de 2008 serão abertas vagas para a segunda turma; inscrições em fevereiro.
“É importante prevenir”
Eni Santos Silva, 65 anos, de Interlagos, foi professora universitária e escolheu o curso da Unapes porque sua mãe está doente e não pode freqüentar academia. Apaixonada por atividades físicas, sempre que possível pratica rapel, escalada e trilha. Acompanha a programação de eventos da FMUSP, onde já participou dos cursos de Medicina Tropical para Viajantes, atualização em gerontologia e cuidador de idosos. “A Unapes oferece ampla visão dos cuidados necessários para a boa saúde e melhoria da qualidade de vida – conquistas pessoais. Valorizo muito a prevenção”, afirma.
SERVIÇO
Quem quiser doar material adaptado para jardinagem ou livros ligue na sede do Propes pelo telefone (11) 3069-8021.
Mesmo contato serve para profissional de qualquer área com curso de gerontologia interessado em atuar voluntariamente na Unapes.
Por Viviane Gomes, da Agência Imprensa Oficial
(C.C.)
