Unicamp: Universidade lança obra inédita no mundo – Português Culto Falado no Brasil

Organizadores da coleção pretendem suscitar discussões entre os lingüistas do País para o surgimento de novas teorias nacionais

ter, 18/07/2006 - 14h10 | Do Portal do Governo

A Editora da Unicamp acaba de lançar o primeiro dos cinco volumes da coleção Gramática do Português Culto Falado no Brasil. O coordenador dos trabalhos e professor da universidade, Ataliba Teixeira de Castilho, assegura ser obra inédita no mundo: “Tratados sobre língua falada existem vários, mas só o nosso é organizado em forma de gramática”. Os quatro volumes restantes, em fase de fechamento, “serão lançados de uma só vez, provavelmente no ano que vem”. O professor Castilho semeou a idéia da obra em 1988, durante reunião da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística (Anpol), no Rio de Janeiro. Após o evento, alguns especialistas o procuraram para mais informações e assim nasceu um grupo de estudos, formado por 32 pessoas, professores de pós-graduação em Letras e Lingüística de 12 universidade brasileiras.

Os integrantes foram divididos em cinco equipes, cada uma com determinado tema de pesquisa: Construção do Texto Falado, Construção da Sentença, As Classes de Palavras e Construções Gramaticais, Construção da Palavra e Estudo de Morfologia e, como último assunto, Construção dos Sons. Esses cinco assuntos, na mesma ordem, tornaram-se os volumes a ser publicados pela Editora da Unicamp. A obra se destina a professores, estudantes e intelectuais. É ainda importante ferramenta para interessados nas interpretações do Português falado no Brasil pelas pessoas de nível universitário. ”É também a primeira gramática de Português elaborada por lingüistas”, afirma Castilho.

A opção por pessoas com nível superior deu-se por causa da “pequena diferença que há entre a língua falada culta e a popular”, diz. “Muitos pensam que a diferenciação é enorme, mas não é. Existem línguas de povos mais desenvolvidos em que o culto e o popular são muito mais distantes que no Brasil.” O professor explica que aqui tem bastante mobilidade social: “Nossa sociedade é mais receptiva a mudança de pessoas de uma classe para outra”.

Revolução do gravador 

O professor observa que até os anos 70 os lingüistas ainda não tinham despertado totalmente para o estudo da língua falada, pois a versão escrita sempre fora a mais difundida e pesquisada no mundo. A partir de então, com o surgimento do gravador portátil, foi possível verificar as peculiaridades da fala e suas diferenças com o texto escrito. “A língua é, antes de tudo, aquilo que se fala. Tanto que existem línguas sem escrita. Hoje, sabemos que o texto que escrevemos é a edição (texto lido, trabalhado, remontado, enxugado e modificado na forma) do que falamos ou ouvimos de outro. E as gramáticas sempre se preocuparam com a versão escrita”, diz Castilho.

O plano de gravar depoimentos, para estudos posteriores, começou a ser executado por Castilho no final da década de 70, em São Paulo. Na época, recorda o professor, seus colegas acharam esquisito as falas transcritas das fitas. “Disseram que eu havia entrevistado as pessoas erradas para o trabalho, pois falavam mal, de forma incoerente, repetitiva e mudavam o foco do assunto a todo momento”, comenta. Como resposta aos críticos, justificou: “Todos nós nos expressamos dessa forma, porque isto é língua falada, não escrita. Não é texto editado”. Esses depoimentos colhidos e publicados em São Paulo foram o pontapé inicial para a obra agora publicada pela Unicamp.

Da Agência Imprensa Oficial