Unicamp se destaca no empreendedorismo no ambiente acadêmico

Agência de Inovação da Universidade Estadual de Campinas é resultado do pioneirismo da instituição de ensino no setor

qua, 08/08/2018 - 10h03 | Do Portal do Governo

Consolidada como referência nacional no segmento da ciência e tecnologia no Brasil, a Agência de Inovação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) celebra mais um aniversário e relembra a história da instituição. Vale destacar que, em 2018, o Núcleo de Inovação Tecnológica da Unicamp completa 15 anos de existência.

“Entre o fim dos anos 1990 e o início dos anos 2000, a inovação começava a entrar na agenda de políticas estratégicas. Aos poucos, discutia-se a importância de essas ações virarem realmente uma política de Estado”, explica a professora Maria Beatriz Bonacelli, do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) da Unicamp e integrante do grupo de discussões criado pelo então reitor Carlos Henrique de Brito Cruz para a elaboração do modelo da agência de inovação da instituição de ensino.

“A Unicamp já demonstrava pioneirismo por ter iniciativas ligadas a essas áreas antes mesmo de a Inova Unicamp surgir. No entanto, podemos dizer que essas ações eram muito reativas. Esperava-se, com a criação do Núcleo de Inovação Tecnológica, uma postura mais dinâmica para criar essa demanda na indústria”, acrescenta a docente.

Possibilidades

De acordo com o professor Carlos Henrique de Brito Cruz, atual diretor-científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o assunto foi discutido durante vários meses e houve importante participação do DPCT e de Carlos Américo Pacheco, docente que, à época, havia acabado de deixar a secretaria-executiva do Ministério de Ciência e Tecnologia.

“Isso não quer dizer que a Unicamp fizesse perfeitamente essa atividade, mas sim que vinha explorando tais possibilidades há muitos anos, desde a fundação. Ao criar a Inova Unicamp, o objetivo era elevar o patamar da ação da universidade na busca por parcerias com a sociedade, incluídos aí órgãos de governo e empresas, em atividades conectadas à pesquisa”, ressalta Carlos Henrique de Brito Cruz.

Vale destacar que a Agência de Inovação Inova Unicamp foi criada em 23 de julho de 2003. Anterior à Lei de Inovação, promulgada em 2004, a estrutura era baseada em três áreas: propriedade intelectual; parcerias e convênios; e parques e incubadoras.

“É interessante observar que, mesmo com as mudanças verificadas ao longo dos anos e o escopo de atuação da agência se ampliando, esses três pilares se mantêm. À época, não se imaginava ter um parque tecnológico dentro do campus, mas, na verdade, sermos um agente para fomentar e apoiar esse tipo de iniciativa no Estado”, enfatiza o diretor do Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, Eduardo Gurgel do Amaral.

Interações

Considerada um projeto arrojado, a agência se institucionalizou com a possibilidade de o diretor-executivo ser um profissional de mercado, de modo a ter a compreensão do mundo empresarial e facilitar as interações com o ambiente acadêmico. Foi então convidado para ocupar a posição o engenheiro agrônomo Alberto Duque Portugal, que presidiu a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) entre maio de 1995 e janeiro de 2003.

O engenheiro ficou à frente da Inova Unicamp por seis meses e o comando foi assumido pelo professor Roberto Lotufo, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp.

Com o intuito de se adequar ao paradigma estabelecido pela Lei de Inovação, a Inova Unicamp serviu de modelo para essa transformação. “Passamos a ser uma referência para outras instituições. O próprio termo ‘agência de inovação’ indica isso. Muitos núcleos adotaram essa nomenclatura”, relembra o docente Roberto Lotufo.

Contribuições

Em razão do protagonismo no segmento, em 2007, foi criado o InovaNIT, um projeto da Inova Unicamp com financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), para capacitação de profissionais de instituições de ciência e tecnologia de todo o Brasil que estavam em processo de estruturação dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs).

Assim, entre 2007 e 2012, foram oferecidos 49 cursos para 965 participantes, oriundos de 312 instituições. “Esse foi um grande projeto, uma das grandes contribuições da Inova Unicamp”, afirma a professora Maria Beatriz Bonacelli.

Em 2011, a Agência de Inovação lançou o Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica, competição de modelos de negócio para as patentes e softwares da universidade. “Esse é o projeto mais integrador da agência de inovação. Porque é um trabalho direcionado aos alunos, que integra inventores, empresas, mentores e incentiva a formação de empresas. São todas as atribuições da Inova combinadas”, avalia Roberto Lotufo.

O docente ficou à frente da Inova Unicamp até 2013, quando assumiu o cargo de diretor-executivo o professor Milton Mori, da Faculdade de Engenharia Química da universidade. Em 2014, entrou em atividade o Programa Inova Jovem, uma competição de empreendedorismo destinada aos colégios técnicos da Unicamp.

Anos mais tarde, a disputa foi aberta também a alunos de ensino médio regular e conta com participantes de todo o Brasil. Ainda na gestão do professor Milton Mori, o Parque Científico e Tecnológico fez a revisão da deliberação, permitindo a entrada de startups a partir de 2016.

Até então, podiam se instalar na área apenas empresas que possuíssem projetos de pesquisa e desenvolvimento com a Unicamp. Além disso, uma das marcas da agência de inovação é nunca ter deixado de cooperar e compartilhar a própria expertise.

Apoio

Em 2013, foi aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) o Projeto Inova Capacita, no valor de R$ 1,3 milhão, para apoio à implantação e capacitação dos núcleos de inovação tecnológica do Estado de São Paulo.

O projeto se consolidou no escopo da Rede Inova São Paulo, que, à época, era coordenada pelo professor Milton Mori. Hoje, a iniciativa está sob o comando do professor Newton Frateschi, do Instituto de Física da universidade, atual diretor-executivo da Agência de Inovação Inova Unicamp, que assumiu em 2017.

No escopo da Rede Inova São Paulo e no projeto Inova Capacita, foram mais de 346 profissionais de NITs capacitados, 21 cursos presenciais avançados realizados, seis cursos de Ensino a Distância (EAD) disponíveis na plataforma on-line, que já formaram mais 4,1 mil pessoas, seis seminários de boas práticas jurídicas feitos, um guia de boas práticas jurídicas com mais de 500 downloads no site, um livro de gestão de NITs com mais 1,6 mil acessos também no site, e o desenvolvimento de uma plataforma de competência, envolvendo as 37 instituições de ciência e tecnologia da Rede Inova São Paulo.

“A Inova Unicamp se descola da estrutura tradicional de governança da universidade. Eu diria que ela é como uma startup que está comprometida com as formas mais eficientes de promover o empreendedorismo e garantir a proteção e a transferência das tecnologias desenvolvidas na instituição”, avalia o diretor-executivo da Inova Unicamp, Newton Frateschi.

Incentivo

De acordo com o professor, na perspectiva futura, uma das prioridades é encontrar novas formas de estimular o empreendedorismo de base tecnológica e olhar também uma nova fronteira: o empreendedorismo social. Em todos os casos, o diretor-executivo pretende aplicar métricas de avaliação para nortear os próximos passos.

“A Inova Unicamp conseguiu criar uma identidade própria, que ela mesma estabeleceu. Todo mundo vê a importância que ela tem. Uma estrutura sólida, que não fica sujeita a ondas, modismos ou questões políticas. A Inova tem um lastro que é impressionante. E podemos construir muito mais. Esse é o desafio que encaramos”, finaliza o diretor-executivo.