Unicamp: Hospital da Mulher supera marca de 1,5 milhão de atendimentos

Primeiro hospital da mulher da América Latina, a unidade de saúde completou 20 anos e cuida de pacientes de 100 municípios

seg, 28/08/2006 - 11h15 | Do Portal do Governo

Em 20 anos de funcionamento, o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizou mais de 1,5 milhão de atendimentos. Primeiro hospital da mulher da América Latina, o Caism tornou-se a maior unidade do gênero no interior do Estado. Em duas décadas, realizou mais de 50 mil partos, a maioria procedente de gestações de médio e alto risco, e tornou-se unidade de referência regional em complexidade terciária e quaternária em assistência à saúde da mulher e do recém-nascido. Também se consolidou como referência nacional para tratamento de câncer ginecológico e mamário. Unidade cuida de pacientes de 100 municípios.

Para marcar o 20º aniversário, todos os eventos realizados no hospital neste ano levam a marca comemorativa Caism Ano 20. A instituição realizou no início do mês várias atividades, como palestras, conferências, exposição fotográfica e apresentação teatral, que culminaram com a inauguração de um novo prédio, no dia 11. É o oitavo do complexo hospitalar do Caism. As instalações ampliam a área construída de 13 mil para 15,5 mil metros quadrados. A expansão da estrutura física não visa, porém, à ampliação do número de atendimentos, já que a taxa de ocupação hospitalar gira em torno de 76%.

“Não estamos expandindo em número de leitos. Essa ampliação objetiva qualificar ainda mais a assistência oferecida pelo Caism”, afirma a diretora-executiva do hospital, a obstetra Mary Ângela Parpinelli. Isso significa que na nova unidade será permitida a internação compartilhada, com a presença de um acompanhante em tempo integral, e o número de mulheres por quarto será menor. A finalidade é prestar atendimento mais humanizado. “Essa mudança melhorará ainda mais a questão dos fluxos de trabalho e a segurança em vários aspectos – dos processos internos, intra-hospitalar, pessoal e patrimonial”, complementa a obstetra.

Câncer de mama

Com a transferência de parte das instalações para o novo edifício, a área vaga passará por reforma para abrigar ambulatórios especializados. Entre eles, um de alta-resolutividade para o atendimento específico da mulher com suspeita de câncer mamário. “A paciente fará todos os exames num mesmo dia e, sempre que possível, sairá da unidade com a programação da data da cirurgia, caso a intervenção seja necessária”, informa Mary Ângela. As reformas para criar o ambulatório começam ainda este ano e a previsão é que estejam concluídas até o final do primeiro semestre de 2007. Além de promover o ensino, a pesquisa e a extensão, o hospital universitário presta assistência multiprofissional e interdisciplinar nas áreas de obstetrícia, ginecologia, oncologia, neonatologia e anestesiologia, divididas em mais de 60 subespecialidades.

Além fronteiras

Atendendo exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a área de abrangência do Caism é de mais de cem municípios da região de Campinas, que representa 5 milhões de pessoas. Mas sua atuação ultrapassa as fronteiras estaduais. Por ser unidade de referência nacional para tratamento de câncer ginecológico e mamário, 7% das 2,9 mil consultas/mês na área de oncologia são de mulheres de outros Estados. São realizadas quase 7 mil consultas ambulatoriais mensais. A unidade é também centro de referência em gestação de alto risco, incluindo entre suas especialidades a medicina fetal, com cirurgias intra-útero.

Programas específicos

Inaugurado em março de 1986, o Caism nasceu de uma proposta de docentes da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, particularmente do Departamento de Tocoginecologia <http://www.fcm.unicamp.br/departamentos/tocoginecologia/> . Até então, o departamento responsável pela ginecologia e obstetrícia da Unicamp, criado em 1966, funcionava na Santa Casa de Misericórdia de Campinas. João Luiz Pinto e Silva, aluno da segunda turma de ginecologia da faculdade, agora professor-titular de obstetrícia, se diz testemunha ocular da idéia do Caism: “Desde que eu era estudante, o Departamento de Tocoginecologia tinha uma forma de olhar o ensino da ginecologia e obstetrícia direcionada para a comunidade”.

Segundo ele, sempre houve interesse do departamento pela saúde pública. Isso levou ao surgimento de programas que, posteriormente, embasaram a idéia de um hospital voltado às necessidades da mulher. O primeiro dos programas foi o de prevenção e combate ao câncer de colo uterino. Iniciado na década de 70, permanece vivo no Caism e ganhou amplitude regional. Atualmente, realiza mais de 150 mil atendimentos por ano. “Boa parte da região manda os seus exames de papanicolau para serem realizados aqui. Isso fez com que o índice de câncer de colo de útero entre as mulheres da região fosse equiparado ao registrado em países desenvolvidos”, garante o professor.

Entre outros programas do setor de ginecologia e obstetrícia da Unicamp, iniciados quando o departamento ainda funcionava na Santa Casa, estão os de planejamento familiar, alojamento conjunto, incentivo ao aleitamento natural, gravidez de alto risco, saúde pré-natal da adolescente e o de controle de câncer de mama, a maioria deles pioneiros. Posteriormente, todos foram levados a outras instituições do Estado e do País.

“De 1982 a 1986 foi feito grande esforço na universidade para a criação do Caism”, lembra o professor. A pedra fundamental do que viria a ser o Hospital da Mulher da Unicamp foi lançada em junho de 1984. Menos de dois anos depois, em 3 de março de 1986, era realizada a primeira cirurgia. No dia 25 de abril do mesmo ano, foi feito o primeiro parto.

Atualmente, nascem 2,8 mil crianças por ano no Caism. Uma curiosidade é que não há berçário. As crianças que vem à luz em boas condições de saúde permanecem em tempo integral com as mães. Para cuidar dos bebês com problemas, o hospital dispõe de UTI neonatal com 16 leitos.

Outra preocupação da unidade é garantir ao recém-nascido o aleitamento natural. Essa é uma prática cotidiana do corpo de enfermagem, que orienta as gestantes e auxilia as mães nessa tarefa. Esse trabalho garantiu ao Caism o selo Hospital Amigo da Criança, concedido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para instituições que promovem, protegem e apóiam o aleitamento materno. Cabe também à enfermagem aperfeiçoar o tratamento dispensado à mãe e ao bebê. “Reformulamos os cuidados da enfermagem em muitos setores oferecendo às pacientes e acompanhantes atendimento mais humano”, afirma a diretora da Divisão de Enfermagem, Fátima Christóforo.

Parto natural

Apesar de atender prioritariamente os casos de gravidez de médio e alto risco – situações em que as cesarianas costumam ser mais recomendadas -, a unidade teve, no ano passado, 38,7% dos partos desse tipo, número considerado baixo tendo em vista a complexidade dos casos. O índice do Caism está abaixo até mesmo da média nacional de cesáreas, que é de 40%.

De acordo com o relatório da Agência Nacional de Saúde Suplementar, o volume de partos cirúrgicos na rede particular de saúde chega a 79,7%. Na pública, 27%. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera aceitável que entre 10% e 15% dos partos sejam cesáreas, em razão de eventuais complicações surgidas durante a gravidez.

“A cesárea é uma via de parto que salva muitas vidas, de mães e de filhos, mas não deve ser procedimento de eleição”, reforça a diretora. “Aqui trabalhamos com a indução de parto, em sessões seriadas de até três dias, e fazemos também auditoria de cesárea: todos os casos são discutidos para avaliar se a indicação foi acertada”, completa. Essa ação, segundo ela, traz maior conscientização dos profissionais sobre a importância do parto natural. “Isso é difundido também no ensino e faz com que os jovens médicos levem consigo essa metodologia de trabalho”, acredita.

Sirlaine Aiala – Da Agência Imprensa Oficial

 

(AM)