Unicamp formula verniz odontológico alternativo que reduz cáries

Forma uma película que vai reagir com a superfície e nela depositar compostos secundários

ter, 27/05/2008 - 13h32 | Do Portal do Governo

Verniz odontológico com amplas possibilidades de atividade anticárie teve seu pedido de patente solicitado pela Inova – Agência de Inovação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nos testes de laboratório, importantes e significativos parâmetros foram avaliados – nível de infecção dental pela bactéria cariogênica e redução de cárie. No tocante a estes quesitos, o verniz apresentou efeito equivalente ao do fluoreto de sódio (NaF) – principal fluoreto aplicado na odontologia.

Esta nova composição foi obtida a partir da estabilização do tetrafluoreto de titânio (TiF4), o que permite estocá-la por até 24 meses na prateleira. Criação da cirurgiã-dentista Carolina Bezerra Cavalcanti Nóbrega durou quatro anos. Carolina detalhou todo o processo na tese de doutorado apresentada na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp, sob orientação do professor Pedro Luiz Rosalen.

Carolina Nóbrega lembra que houve declínio considerável da incidência de cárie nas últimas décadas, tanto nos países adiantados como nos em desenvolvimento, por causa do uso de fontes de alta freqüência e baixa concentração de flúor, isto é, água e dentifrícios fluoretados. No entanto, diferenças importantes quanto à incidência de cáries são evidenciadas entre regiões, cidades e até mesmo grupos populacionais.

“Paralelamente à diminuição e à desintegração do esmalte dentário tem-se observado a polarização dessa ocorrência bucal, havendo pequenos grupos dos chamados pacientes com alta incidência. Essas pessoas necessitam de medidas alternativas para o controle de cárie, sendo recomendada a aplicação profissional de produtos com concentração de flúor”, explica a pesquisadora.Película – Aplicado topicamente sobre os dentes, o TiF4 forma uma película que vai reagir com a superfície e nela depositar o flúor e outros compostos secundários. “O tratamento não se faz necessário aos que mantêm a cárie sob controle. Em contrapartida, para os que têm alta atividade de bactérias acidificantes recomenda-se uma aplicação semanal durante 28 dias, repetindo-se a série até que o paciente possa controlar a evolução das cáries sozinho. Para efetuar tal controle eficientemente, a higiene bucal diária – correta escovação e o uso do fio dental –,  e  restrição ao consumo de açúcar são fatores essenciais, complementados pelo uso do flúor”, diz Carolina.

A cirurgiã-dentista havia trabalhado com esse composto no mestrado, mas em solução aquosa, meio em que é comumente formulado. “Apesar dos bons resultados, o tetrafluoreto de titânio exige longo tempo de preparação e não apresenta estabilidade adequada em solução aquosa. A substância perde compostos ativos rapidamente, o que dificulta e limita o seu uso clínico”, explica.

Surgiu então a idéia de formular um verniz que mantivesse o TiF4 estável e pudesse ser utilizado na odontologia. “Decidimos pela formulação do verniz tendo como solvente álcool a 96%, que possui apenas 4% de água. Foram quase dois anos de estudos prévios até chegar à formulação ideal, quando então passamos para os testes de estabilidade e de atividade biológica. Ao todo, foram quatro anos de trabalho”, diz a autora.Estudos com animais – A etapa seguinte concentrou-se nos estudos com seres vivos. Animais foram oralmente infectados com uma bactéria cariogênica e divididos em quatro grupos: os sem tratamento, aqueles que receberam apenas um verniz sem princípio ativo, os tratados com verniz de NaF e os tratados com verniz de TiF4.

“O índice de infecção dental pela bactéria cariogênica foi de 28% no grupo sem tratamento, de 23% no grupo tratado com verniz de NaF e de 18% no grupo que recebeu o verniz alternativo. A redução de cárie devido ao verniz de NaF foi de 25%, contra 40% do efeito do verniz de TiF4”, informa a autora do estudo. De acordo com ela, tais resultados são considerados estatisticamente equivalentes.

Do Jornal da Unicamp