Unicamp: agência de inovação desenvolve produtos para o mercado brasileiro

Novidades criadas na instituição e que estão presentes no dia a dia ocorrem por meio de transferência de tecnologia

ter, 11/09/2018 - 19h28 | Do Portal do Governo

Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Agência de Inovação promove a intermediação entre o ambiente acadêmico e o setor empresarial. Vale ressaltar que as novidades que nasceram na Unicamp e que estão presentes no dia a dia ocorrem por meio de um processo conhecido como transferência de tecnologia.

“Estamos em primeiro lugar no número de patentes depositadas no Brasil”, explica o diretor da Inova Unicamp, Newton Frateschi. “Nos últimos anos, sempre estivemos entre os dez primeiros. Acredito que uma das razões disso não se relaciona com a opção de fazer pesquisa aplicada, mas sim, porque na Unicamp fazemos pesquisa de ponta. A inovação acontece nas fronteiras, quando pensamos fora da caixa”, acrescenta.

Hospitais

Um dos casos de sucesso da Unicamp está ligado a softwares para hospitais. A aquisição e a manutenção de equipamentos médico-hospitalares (EMH) têm um impacto significativo no orçamento dos estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS). A boa gestão desse patrimônio depende de respostas rápidas e objetivas, tarefa executada pelo software GETS: Gerenciamento de Tecnologia para Saúde, desenvolvido no Centro de Engenharia Biomédica (CEB) da universidade.

O sistema gera um inventário padronizado de equipamentos odontométricos-hospitalares. Por meio dele, hospitais e instituições de saúde em geral podem administrar cada equipamento de forma mais eficiente, desde a aquisição e manutenção até a substituição. “O GETS permite conhecer mais sobre a saúde dos equipamentos para saúde, produzindo um diagnóstico sobre a situação funcional dos equipamentos médico hospitalares instalados nos estabelecimentos assistenciais de saúde da rede pública”, explica José Wilson Bassani, coordenador do CEB.

Desde 2013, o GETS está sendo utilizado pelo Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), ligado à Universidade Federal Fluminense (UFF). “A adoção da tecnologia aqui no HUAP possibilitou o gerenciamento integral do parque de equipamentos médico-hospitalares da instituição”, revela Yasser Issmail, chefe do Setor de Engenharia Clínica da unidade.

A implantação do GETS requer a assinatura de um convênio de cooperação entre a instituição pública de saúde e a Unicamp, que estabelece um contrato de licença de uso do software sem custos para o EAS. “A instalação do software é bastante rápida, de uma a três semanas. A primeira atividade é a criação do inventário com dados fornecidos pela equipe local sob supervisão do CEB”, explica José Wilson Bassani.

O Hospital Estadual de Sumaré (HES-Unicamp), que também adotou a tecnologia, está finalizando a fase do inventário. “Interagimos com todos os hospitais onde o GETS foi instalado e com as instituições que têm interesse em adquirir a tecnologia. Já temos uma lista de espera”, acrescenta.

O GETS já gerou um banco de dados com cerca de 20 mil equipamentos. A expectativa é de que o número chegue a 150 mil até o fim deste ano. Um dos principais benefícios do software é gerar indicadores de desempenho da manutenção de equipamentos médicos. É importante frisar que o bom funcionamento de um equipamento pode ser resultado de vários fatores, como treinamento, nível de qualificação da equipe de manutenção e o tempo de uso dos equipamentos.

Combustíveis

Outra inovação criada na Unicamp que permite aferir a qualidade de um produto é o Xerloq. A novidade monitora a qualidade de combustíveis automotivos pela determinação do teor alcoólico do álcool etílico hidratado carburante (AEHC) e do teor de álcool etílico anidro combustível (AEAC) na gasolina.

A tecnologia foi desenvolvida ao longo de uma pesquisa de doutorado no Instituto de Química e chegou ao mercado por meio de um licenciamento feito pela Tech Chrom, empresa que iniciou suas atividades na Incubadora de Base Tecnológica (Incamp) e que atua no desenvolvimento e aplicação de métodos e aparelhos analíticos. “Nós conhecemos essa pesquisa porque o Ismael Pereira Chagas, um dos autores da pesquisa, veio trabalhar na Tech Chrom. Quando vimos o potencial, decidimos ir atrás de financiamento para transformá-la em um produto”, salienta Valter Matos, um dos fundadores da empresa.

O Xerloq permite controlar a qualidade do combustível. De operação simples, o produto precisa de apenas 1ml de combustível colocado em uma cubeta de vidro que é introduzido em uma cavidade de análise do aparelho. A leitura demora sete segundos, mostrando se o combustível foi ou não adulterado. Em 2014, a empresa ganhou o Prêmio de Inovação Tecnológica da ANP, na categoria micro, pequena ou média empresa fornecedora, em colaboração com empresa petrolífera.

O equipamento já está há seis anos no mercado. “O Xerloq está sendo utilizado em cerca de 300 postos de gasolina de todo o Brasil. Entre nossos clientes também há distribuidoras, usinas, indústrias, prefeituras e até empresas de pulverização aérea que utilizam aviões movidos a etanol”, revela Valter Matos.

Saúde

Um produto criado na Unicamp prestes a entrar no mercado é o conector uretral para avaliação urodinâmica. Desenvolvido por uma parceria entre o CEB e a Faculdade de Ciências Médicas (FCM), o dispositivo foi licenciado pela Dynamed, fabricante de equipamentos médicos, que vai lançar o novo produto em setembro, no Congresso Paulista de Urologia.

O estudo urodinâmico é um exame utilizado para avaliar a dinâmica de armazenamento, transporte e esvaziamento da bexiga. No caso dos homens, ele é indicado para investigar problemas como aumento da próstata e incontinência urinária, por exemplo. “O método usado hoje exige a introdução de uma sonda no canal da uretra do paciente, o que pode ser dolorido e oferecer risco de infecção”, ressalta Manoel Soares, sócio da Dynamed.

Para encontrar uma solução, o professor Carlos Arturo Levi D’Ancona, da FCM, teve a colaboração do professor José Wilson Magalhães Bassani, do Centro de Engenharia Biomética. “Nós buscamos algo que fosse mais simples, rápido e não-invasivo e, partir das pesquisas, chegamos ao conector uretral”, revela Carlos Arturo Levi D’Ancona. A Dynamed licenciou a tecnologia em 2016 e auxiliou na construção do protótipo.