Unesp e Embrapa estudam morcegos na recomposição florestal

Atraídos por aromas de frutos, animais espalham sementes e ajudam a recuperar a cobertura vegetal

qui, 22/03/2007 - 12h16 | Do Portal do Governo

Morcegos comedores de frutos podem ter importante papel na regeneração de áreas desmatadas. A constatação vem do trabalho desenvolvido pelo biólogo Gledson Bianconi, doutorando da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, em parceria com a pesquisadora Sandra Bos Mikich, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Florestas), e mais dois químicos dessa última instituição.

Os pesquisadores verificaram que, ao atrair esses animais para áreas vegetais degradadas, eles acabam disseminando no ambiente uma gama de sementes, por meio das fezes que eliminam, contribuindo para a recomposição do local. O processo de atração dos morcegos – ponto principal do trabalho – se dá pela utilização de óleos essenciais (aromas) extraídos de frutos que consomem.

“Estamos testando a eficiência desses aromas”, explica Bianconi. Para isso, o grupo tem feito experimentos com septos de borracha (estruturas que retêm, por maior tempo, o odor no ambiente), impregnados de óleo essencial. Os septos são colocados em áreas anteriormente utilizadas como pastagens ou para a agricultura, onde os pesquisadores “medem a atração dos animais pelo cheiro” – ou seja, contam os animais que voam nessas áreas e comparam com os resultados obtidos em áreas-controle (sem septos). Nesse caso, usam visor noturno ou filmadora com raio infravermelho.

Em pouco mais de uma hora de observação, os pesquisadores chegam a contar mais de 50 vôos sobre cada uma das áreas nas quais os atrativos odoríferos foram instalados. Bianconi salienta que não são, necessariamente, 50 morcegos que passam pelo local, pois é impossível separar os indivíduos utilizando o visor ou a filmadora. Nas áreas-controle, com o mesmo tempo de observação, a equipe dificilmente conta 20 vôos.

Ainda no campo de testes, os pesquisadores avaliam a deposição de sementes por meio das fezes dos animais, processo conhecido como “chuva de sementes”. Essa informação é obtida com o auxílio de peneiras coletoras (estruturas plásticas contendo redes de malha bem fina), instaladas nas áreas onde se encontra o septo, bem como nas áreas de controle. Posteriormente, as sementes são levadas ao Laboratório de Ecologia da Embrapa Florestas, onde são triadas, contadas e identificadas.

Olfato desenvolvido

O grupo tem trabalhado com óleos essenciais isolados de frutos maduros dos gêneros Ficus, Solanum e Piper, que são os mais consumidos por três gêneros de morcegos frugívoros (Artibeus, Sturnira e Carollia), comuns em florestas brasileiras e de outros países da América do Sul e da América Central. Isso não restringe o uso dessa ferramenta às Américas. “O mesmo princípio poderá ser empregado isolando-se óleos essenciais de frutos silvestres consumidos por morcegos de outros países”, comenta Bianconi.

Os experimentos de campo foram realizados em áreas de Floresta Atlântica degradada (como na região noroeste do Paraná, próximo ao Parque Estadual Vila Rica do Espírito Santo) e de Floresta Ombrófila Mista, conhecida como Floresta com Araucária. A equipe pesquisou também na Floresta Amazônica, a cerca de 80 quilômetros de Manaus.

Bianconi explica que os morcegos foram escolhidos em razão de seu olfato extremamente desenvolvido, capaz de localizar frutos maduros no ambiente com facilidade. “Há outros mamíferos com o olfato semelhante, mas os morcegos têm qualidades adicionais”, justifica. Uma delas é voar longas distâncias, cruzando áreas abertas, e defecar durante o vôo. Nessa atividade, acabam dispersando sementes de espécies frutíferas das quais se alimentaram.

Espécies pioneiras

Outra vantagem desses animais é que são dispersores eficientes de espécies pioneiras – ou seja, aquelas que primeiro aparecem no processo de recuperação de uma área. O grupo avalia o crescimento das plantas que germinam na área de pesquisa – etapa que tem o auxílio de botânicos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e do Museu Botânico Municipal (MBM) de Curitiba.

Além disso, os pesquisadores buscam, principalmente, o aperfeiçoamento da técnica de atração de morcegos frugívoros por meio de algumas frentes de trabalho. Uma delas é a realização de testes em cativeiro, laboratório e campo para a identificação e o isolamento dos componentes presentes nos óleos essenciais de diferentes espécies de frutos, responsáveis pela atração dos morcegos. Outra é a síntese desses compostos, permitindo o seu amplo uso para projetos de recuperação ambiental.

“De antemão, podemos afirmar, pela simples análise qualitativa e quantitativa das sementes eliminadas pelos morcegos nos locais contendo o aroma dos frutos, que a técnica é eficiente”, observa Bianconi. Segundo ele, esse processo pode aumentar a diversidade de plantas numa área degradada, acelerando sua recuperação, além de inserir nesses locais espécies que ficariam de fora de um programa de reflorestamento convencional.

Paulo Henrique Andrade Da Agência Imprensa Oficial

 

(AM)