Unesp cria sistema de classificação de agrotóxicos

Produtos foram avaliados quanto ao potencial de deixar excedentes na natureza

sáb, 28/01/2012 - 11h00 | Do Portal do Governo

Uma equipe da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, Câmpus de Botucatu, desenvolveu um sistema de classificação de agrotóxicos quanto à redução de ‘deriva’ na aplicação. Deriva é a porção do produto químico aplicado que não atinge o alvo desejado, podendo se depositar em áreas vizinhas, com potencial impacto ao ambiente.

Os pesquisadores analisaram não apenas os agrotóxicos, mas toda a técnica de aplicação de cada produto, o que inclui os adjuvantes (substâncias adicionadas ao defensivo agrícola para facilitar sua aplicação, aumentar a eficiência ou diminuir riscos) e também as pontas de pulverização (responsáveis por distribuir as gotas contendo os agrotóxicos nas lavouras).

Apesar de existir no mercado uma quantidade grande de agrotóxicos, adjuvantes e pontas de pulverização, os consumidores destes produtos têm dificuldade para escolher, segundo explica o autor do trabalho Fernando Kassis Carvalho, estudante de mestrado da FCA. “Não existe no Brasil uma classificação dos produtos em relação à redução de risco de deriva”, diz. “O acesso a essas informações evitaria que o agricultor adquirisse produtos que não cumprem as funções esperadas.”

Segundo o professor da FCA Ulisses Antuniassi, co-autor do estudo, o sistema de classificação vai além de transmitir ao produtor segurança na hora da escolher uma técnica de aplicação. “A classificação é uma ferramenta para aumentar a sustentabilidade e a responsabilidade no uso de produtos fitossanitários”.

Além do professor e do pós-graduando, participaram do trabalho os pesquisadores Rodolfo Glauber Chechetto, Caroline Michels Vilela, Alisson Augusto Barbieri Mota, Anne Caroline Arruda e Silva e Rone Batista de Oliveira.

Classificação por ‘estrelas’

Os estudiosos analisaram a espessura das gotas geradas durante as pulverizações – quanto mais finas, mais sujeitas à deriva porque podem ser carregadas a grandes distâncias. A partir de testes feitos em um túnel de vento, os pesquisadores da FCA criaram uma escala que atribui estrelas a cada técnica de aplicação em função dos resultados obtidos.

“A quantidade de estrelas que uma técnica recebe indica a capacidade em reduzir deriva”, explica Antuniassi. “Como exemplo, uma técnica classificada com três estrelas proporcionaria uma redução no risco de deriva maior do que 75% com relação a um método de aplicação padrão”.

A expectativa dos pesquisadores é que essa classificação seja, no futuro, impressa no rótulo ou bula do agrotóxico, servindo como base para a tomada de decisão sobre o tipo de técnica que deverá ser empregada. “Se uma aplicação será feita em região próxima a uma área urbana ou a um curso d’água, a recomendação é o uso de um agrotóxico cujo rótulo indique uma técnica de três estrelas, e esta ressalva deverá constar da receita agronômica [prescrição e orientação técnica para o uso do produto]”, exemplifica o professor.

Em locais mais distantes a regiões de maior sensibilidade aos impactos causados pelos agrotóxicos, o uso de técnicas de uma ou duas estrelas poderia até ser aceitável, dizem os estudiosos.

Prêmio

O trabalho foi destaque na quinta edição do Simpósio Internacional de Tecnologia de Aplicação de Agrotóxicos (Sintag), realizado em setembro, em Cuiabá (MT). Ele obteve o primeiro lugar na categoria “Melhores trabalhos sobre deriva na aplicação de agrotóxicos”, concorrendo com 21 pesquisas.

Carvalho, primeiro autor, foi convidado a apresentar o trabalho aos líderes da área de pesquisa da empresa Dow Agroscience, patrocinadora do evento. Além do troféu, ele recebeu um prêmio de R$ 5 mil.

Ainda durante o Sintag, na mesma categoria, outro trabalho da FCA teve destaque: “Avaliação da deriva em aplicações de herbicidas em canas-de-açucar”, de Caio Antonio Carbonari, Edivaldo Domingues Velini, Marcelo Boschiero e Weber Valério foi classificado em terceiro lugar.

Da Unesp