Unesp cria programa que calcula perdas elétricas na distribuição

Sistema desenvolvido no câmpus de Ilha Solteira pode ser útil para usinas geradoras

qua, 26/05/2010 - 15h00 | Do Portal do Governo

No caminho entre a usina geradora de energia elétrica e as tomadas nas casas dos consumidores, o Brasil perde cerca de 18% da eletricidade que produz. Isso equivale à geração de uma usina de porte médio, como a de Ilha Solteira, no noroeste do Estado de São Paulo, com capacidade de 3,4 mil megawatts (MW). Estima-se que a maior parte dessas perdas (entre 10% e 12% da produção) esteja na parte final do sistema: a distribuição. Pesquisa coordenada pelo professor Antonio Padilha Feltrin, do Departamento de Engenharia Elétrica do câmpus de Ilha Solteira, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), resultou na criação de metodologia e de um software para auxiliar as companhias de distribuição a calcular e identificar os pontos mais vulneráveis às perdas.

Intitulado “Análise de tensão e de perdas elétricas em sistemas de distribuição de energia elétrica”, o projeto recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular. Também contou com a colaboração da Elektro, companhia de distribuição de energia do interior paulista, que compartilhou dados técnicos com os pesquisadores. O setor elétrico subdivide-se em três etapas: a geração, que ocorre nas usinas; a transmissão, referente ao trecho entre as geradoras e as subestações; e a distribuição, que compreende a rede que liga as subestações aos consumidores. Esse último trecho é o mais complexo, além de responder pela maior parte das perdas, por isso foi o alvo da pesquisa. “Trata-se de imensa quantidade de dados, que não está facilmente disponível para as empresas”, afirma Padilha.

Complexo

Para identificar perdas na transmissão, por exemplo, é preciso verificar a diferença entre a energia recebida nas subestações e a quantidade que saiu da usina. Na distribuição, porém, o cálculo é muito complexo. De cada subestação sai uma malha, que percorre os postes pelas ruas e avenidas das cidades. O simples cálculo de perdas exige o somatório dos medidores de todas as unidades consumidoras. Nessa etapa, os maiores responsáveis por perdas são os transformadores de energia elétrica. Quando dimensionados acima da capacidade necessária, esses dispositivos provocam grandes perdas, de acordo com o professor da Unesp.

Há também perdas inerentes aos outros equipamentos, como os medidores e os próprios cabos condutores. Isso sem contar as chamadas perdas “não técnicas”, que dizem respeito à interferência ou à omissão humana como, por exemplo, erros de medição, medidores não calibrados e os furtos de energia – conhecidos popularmente como gatos. “Em alguns Estados, as perdas não técnicas respondem pela maior quantidade perdida”, afirma Padilha.

O professor explica que zerar perdas é impossível, mas o índice brasileiro pode ser bastante reduzido se forem tomadas medidas precisas. Qualquer plano de ação, entretanto, depende do levantamento de enorme quantidade de informações, trabalho bastante complicado. “Os sistemas disponíveis mais completos envolvem tantas informações que são inviáveis para se aplicar com frequência. Por outro lado, os sistemas mais accessíveis podem ser empregados periodicamente, porém são incompletos e subestimam perdas”, aponta Padilha.

Prático e completo

O dilema da equipe da Unesp foi reunir as vantagens dos dois tipos de aplicativos sem reproduzir as desvantagens. Para isso, nova metodologia teve de ser desenvolvida e, a partir dela, foi criado o programa computacional. Ao ser aplicado em uma parte da empresa Elektro, o software foi comparado aos programas mais completos e também aos mais simplificados, e se mostrou preciso, apresentando resultados próximos aos dos programas tradicionais. E o melhor, segundo Padilha, foi que funcionou de maneira rápida. “As empresas precisam fazer esses cálculos pelo menos uma vez por mês, por isso é importante que os resultados sejam apresentados rapidamente”, observa. Para aplicar os programas mais complexos, as empresas costumam manter equipe dedicada a esse tipo de medição, o que resulta em mais custos.

O software produzido na Unesp diminui o trabalho braçal de levantamento e de inserção de dados e apresenta resultados após algumas horas. O projeto de pesquisa incluiu a tese de doutorado Gestão integrada técnica e econômica das perdas elétricas de empresas de distribuição de energia elétrica, defendida em setembro de 2009 por Marcelo Escobar de Oliveira, com o apoio de bolsa de doutorado direto da Fapesp. Agora, o grupo pretende aprimorar o programa, inserindo probabilidades de ocorrência. “Com isso, aumentaremos a qualidade dos resultados. Em vez de dar apenas um número, diremos qual é a faixa de precisão”, diz Padilha.

Da Agência Imprensa Oficial e da Agência Fapesp