Trechos do discurso do governador Mário Covas na inauguração do Portal do Governo na Internet

Parte Final

qui, 14/09/2000 - 18h50 | Do Portal do Governo

Parte Final

Hoje o povo de São Paulo dispõe em 70 municípios de uma coisa chamada Banco do Povo, que é um banco que só atende pobre, onde o rico está proibido de entrar. Onde se empresta dinheiro numa parcela mínima de R$ 200 e numa parcela máxima de R$ 5 mil. Ninguém precisa ser dono de uma fazenda ou de uma boiada para pedir R$ 400 para comprar um carrinho de pipoca, por meio do qual ele sai da situação de desempregado para a situação de quem tem auto-respeito porque tem a possibilidade de ganhar a vida. Hoje já estão instalados em 70 municípios e dentro de uma pequena sala para não assustar o pobre. Pobre que dá uma inadimplência de apenas 1,4%. De cada R$ 100 emprestados, só há atraso em R$ 1,40 por uma razão que parece óbvia a ponto da gente entender porque nunca ninguém percebeu. É que o pobre não sabe dever. Pobre quando deve, não dorme durante a noite enquanto não paga aquilo que deve. E mais do que isso, o pobre quer apenas a oportunidade. Se ela for oferecida, ele cuida da própria vida.
Foi a modernidade que permitiu em seis meses pegar uma empresa como a Nossa Caixa e transformá-la hoje no sétimo banco brasileiro. Quando nós assumimos, ela era obrigada a recorrer a R$ 500 milhões no Banco Central para fechar seu próprio caixa. Em seis meses ela estava apresentando lucro. Lucro que tem engordado o caixa do Tesouro e que é aplicado em outras finalidades.
É uma pena que não tenham permitido que se fizesse a mesma coisa com o Banespa. Pelo contrário. O que eu ouço nas minhas andanças é acusarem o Governo do Estado de ter deixado o Banespa ir embora. E se deixasse o Banespa com São Paulo, provavelmente ele estaria hoje na mesma situação que está a Nossa Caixa.
Foi gerência séria e, mais do que isso, aproveitamento do que existe de mais moderno, que permitiu uma empresa como a Sabesp transformar-se em apenas três anos numa das cinco maiores empresas de saneamento do mundo. Quando assumimos, vendia-se sua ação em balcão por R$ 17,00. Dois anos e meio depois, nós vendemos um pequeno lote de dois ou três por cento das ações em Bolsa de Valores por R$ 314,00.
Cinco milhões de pessoas de São Paulo foram tiradas do rodízio de água e o Governo teve coragem suficiente para, na hora que veio uma situação inteiramente anômala, que só se repete a cada 100 anos – o regime pluviométrico que nós tivemos nesse ano – de fazer o racionamento porque era melhor para o povo de São Paulo. E depois de três meses, quando a chuva alcançou um nível maior do que a média histórica no mês, resolvemos recolocar o sistema em funcionamento.
É por isso que o Estado tem hoje programas como esse do Primeiro Trabalho. É por isso que o Estado tem hoje programas para enfrentar o desemprego tal qual uma frente de trabalho que envolveu 50 mil pessoas. É por isso que nós atendemos hoje na Capital quase 400 mil pessoas num programa chamado Qualis, que revoluciona a saúde e que permite que o cidadão seja procurado pelos agentes de saúde e não o contrário. É por isso que cada município desse Estado recebe desde o começo do Governo 40 tipos de remédios diferentes por mês para dar de graça para a população que não pode comprar remédio. É por isso que esse Governo, e isso não é dito nas televisões e nos chamados meios de mídia, e é por isso que ainda neste mês, nós inauguramos três adicionais dos 14 esqueletos que vergonhosamente deixaram neste Estado. Quatorze esqueletos de hospitais, dos quais onze – oito entregues, três terminando neste mês, dois retomados e em curso e um sendo retomado – para completar essa série que, mais do que qualquer outra coisa, traduzia concretamente o desperdício, a maneira absolutamente descarada com que se tratava o dinheiro público.
Não vale muito isso. Consertar finanças no Estado é uma coisa que não agrada muita gente porque, ao fechar a torneira do desperdício, muito interesse é contrariado. E é por isso que hoje se consegue fazer obras com muito menor preço do que ela custava antes.
Por favor, me conserta ali, não foram feitas 23 penitenciárias, foram feitas 22. Vinte e uma por nós e uma que tinha sido começada no Governo anterior e que nós encontramos faltando 10% para terminar. Ela está viva aí em Itapetininga para quem quiser ver. Como faltava pouco para terminar, nós retomamos a obra. Terminamos e ela custou R$ 25 milhões. Nós fizemos 21 penitenciárias e a média delas foi R$ 11,5 milhões. O que significa que hoje se faz duas penitenciárias e meia com o dinheiro que antes se fazia meia e por isso dá para fazer o que se fez. Que seja esse o último erro.
Não, não. Nós não temos medo de comparação. Nós não temos medo de comparação e muito menos nos setores que são mais visados. Não temos medo de comparação na Segurança, não temos medo de comparação na Febem. Quando um adolescente vai para a Febem é porque eu recebi uma ordem do juiz para deixá-lo sob regime de privação de liberdade. Eu não conheço regime de privação de liberdade em que alguém não seja impedido de sair do espaço pré-fixado. Eu cumpro o que me determinam e herdo aquilo que não escolhi. Herdo as vezes costumes entranhados que são difíceis de superar.
Eu não posso ficar aqui falando a tarde inteira, bem que eu gostaria. Até porque tenho o que falar. Tem o que falar o que se fez na área de energia. Mas eu vou falar um pouco do que custou para vocês este descalabro todo. Eu fui obrigado a renegociar a dívida de São Paulo, porque São Paulo não encontrava quem acreditasse na sua capacidade de pagar. E vocês já pagaram desta dívida R$ 17 bilhões, e ela vai durar trinta anos para ser paga por inteiro. Mas, até agora vocês já foram obrigados a dispor de R$ 17 bilhões, 20% na entrada e o restante em módicas prestações mensais de R$ 225 milhões.
Vocês já pagaram R$ 3 milhões de dívidas de obras que deixaram em pedaços, mas só deixaram por inteiro, foram as contas para pagar. Vocês já pagaram quase US$ 9 milhões de uma empresa que representa o sangue de São Paulo, como é o caso da Cesp e da Eletropaulo. Mas que deixaram em condição que em dez anos o seu patrimônio seria consumido pela dívida imensa que deixaram. Há uma obra dela, Porto Primavera, em que foi comprado um equipamento até a bem pouco tempo atrás enfiado dentro de contêiners climatizados. Vinte anos depois, para não perder a garantia. E que agora puderam ser completadas, porque o Estado tem crédito suficiente para emitir debêntures, para pagar em energia futura, e ter quem aceite este negócio.
Eu podia lhes falar o que foi feito em cada área, o número de estradas que foram duplicadas, como a Carvalho Pinto e a Marechal Rondon. Anunciadas em cada programa da televisão como tendo sido feitas no passado. Quem alguma vez foi para o noroeste viu que aquilo era um camaleão. Um pedaço de cá, um pedaço de lá, e apenas neste Governo com a participação popular foi possível levá-la de Botucatu até a divisa do Paraná. Ou a Carvalho Pinto onde cometeram a insanidade de, para entregar em tempo de campanha eleitoral, fazer um desvio por dentro de uma fazenda porque não puderam fazer o túnel para completar a obra.
Só no ano passado foram feitos mil quilômetros de estrada vicinal nesse Estado. O trabalho que tem sido feito na Agricultura põe duas mil pontes metálicas à disposição desse Estado e se dá para cada conjunto de oito cidades, em consórcio, um conjunto de cinco tipos de máquinas que nos custaram R$ 40 milhões. É até difícil falar sobre tudo o que é possível falar. Mas isso não me atemoriza. Esses antecedentes que não são devidos ao meu trabalho, mas ao trabalho de muita gente, não me coloca na defensiva.
O que eu posso pedir aos meus amigos no instante em que a gente inaugura essa nova fase. A fase em que nós saímos até da fase eletrônica. Estamos entrando na fase digital. Estamos entrando no Governo Eletrônico. É que nós não temos, por força do esforço de vocês, que em absoluto rejeitar qualquer forma de comparação com quem quer que seja. Nem em salário, nem em qualquer outra coisa. Não vou apelar para a seriedade, porque aí vira covardia.
Deixo, portanto, para vocês isso que a imprensa chamará de desabafo. Quando eu falo é desabafo, quando os outros falam, está certo.
Estou apenas trazendo algumas coisas que vocês nunca leram em jornal nenhum, nem viram em nenhuma televisão. Estou apenas contando, numa das possibilidades que eu tenho de falar com algumas pessoas e que eu os reputo parceiros sob alguns êxitos que não são meus. Não é preciso ninguém gostar de mim, não é preciso nem gostar do meu Governo, mas é preciso que as coisas sejam colocadas com justiça e as comparações sejam feitas de forma séria, de forma justa. Portanto, o que eu hoje tenho como obrigação de fazer é convocá-los para um esforço redobrado, um esforço adicional, para que cada vez mais, não no nosso benefício, mas no de quem vai olhar para o Portal de São Paulo, nós operemos cada vez mais, usando esse instrumental em benefício da população de São Paulo.
O Governo de São Paulo não pode furtar o seu Estado. Afinal, em 1946, quando a Constituição foi feita, um homem apresentou uma emenda criando uma Fundação de Amparo à Pesquisa, à Ciência e à Tecnologia. Doze anos, ou quatorze anos se passaram até que, em 1962, ela se instalou. E, portanto, aquele espírito que levou aquele homem a, com tanta antecedência, enxergar esse futuro, antecipar o porvir, não permite que a gente erre. Não permite que a gente deixe de caminhar nesse sentido. Quero, portanto, agradecer a todos os que aqui vieram, aos que são funcionários, certamente a imensa maioria, e aos que não sendo nos honraram com a sua presença. Quero dizer que transfiro para cada um de vocês este sucesso. Que reconheço no esforço de cada um todas as vitórias conquistadas. E que sobretudo, peço que cada um ande com a cabeça absolutamente erguida. Nós não temos nenhuma razão para nos envergonhar. E, pelo contrário, aceitamos qualquer tipo de comparação.