Trechos da entrevista do governador Mário Covas, após visita do presidente do Chile, Ricardo Lagos

Última parte

sex, 14/07/2000 - 18h34 | Do Portal do Governo

Parte Final

Repórter – E o fato do juiz Nicolau ainda estar foragido?

Covas – Ainda bem que é a Polícia Federal, se fosse a estadual já teria comido o pão que o diabo amassou aí com vocês.

Repórter – O senhor concorda com o senador Antônio Carlos Magalhães que diz que o Nicolau não merece muito crédito, não tem muita moral quando ele se referiu à publicação da Revista Istoé?

Covas – A Revista Istoé escreveu o quê a respeito de quem?

Repórter – A conversa do juiz com duas pessoas conhecidas em ele cita…

Covas – Já me contaram, é o negócio do senador?

Repórter – Um diálogo do juiz com ele cita várias pessoas, inclusive o senador Romeu Tuma.

Covas – As palavras dele perderam credibilidade mesmo, em função dos acontecimentos todos e tudo o que se verificou, a palavra dele perdeu credibilidade, é lógico. Não quer dizer que necessariamente ele tenha de mentir toda vez. O que está em jogo aí não é nenhum valor numérico, é que nessa hora quem está sob pressão atira para todo lado e fala até exageros.

Repórter – O senhor questiona a Imprensa que valoriza essa questão de ler documentos. O próprio senador ACM disse que acha absurdo o presidente não ler aquilo que assina.

Covas – Tá bom.

Repórter – O senhor não concorda com ele?

Covas – É muito difícil eu concordar com ele.

Repórter – Nem nesse caso?

Covas – Eu não sou muito chegado em concordar com ele. Eu gosto dele, acho ele uma figura simpática, mas é meio difícil eu concordar com ele.

Repórter – O senhor acabou de concordar com ele dizendo que o juiz Nicolau realmente não tem muito crédito.

Covas – Em tese, nós divergimos na maioria das vezes.

Repórter – Recentemente, o senhor se encontrou com o presidente e no dia seguinte ele disse que o senhor seria o candidato natural, se quisesse, à Presidência da República. Também na mesma ocasião dois ministros defenderam o nome do senhor para concorrer à Presidência, muito embora até agora o senhor diga que não vai concorrer. Faltam nomes dentro do PSDB para pleitear a disputa?

Covas – Você fala uma porção de coisas e depois faz uma pergunta que não tem nada a ver com as coisas que você falou.

Repórter – Não, porque eles estão indicando…

Covas – Primeiro, você começou dizendo que se eu quisesse eu seria o candidato natural. Como eu não quero, fica sem efeito. Em segundo lugar, você disse que dois ministros também defenderam, tudo bem, os dois ministros são bons candidatos, eu não sou candidato, não há hipótese de ser candidato, eu sugiro a vocês de não me perguntarem mais isso. Eu não sei como é que eu vou fazer, só se eu tomar uma providência radical. Aí, se eu tomar uma providência radical fica evidenciado que eu não posso ser candidato. Mas se essa coisa continuar assim eu faço isso.

Repórter – Mas que providência radical seria esta?

Covas – Isso eu não vou anunciar para você, filho.

Repórter – Mas a gente tem curiosidade de saber.

Covas – Eu também.

Repórter – É uma providência para deixar bem claro que o senhor não vai ser candidato?

Covas – É sim, porque vocês não me acreditam, eu vivo falando isso, eu sou um desacreditado, então…

Repórter – Não é que a gente não acredita no senhor. O presidente da República fala que o senhor é o candidato ideal. O José Serra…

Covas – Não, ele não fala que eu sou o candidato ideal, diz que eu sou o candidato natural, é diferente. Mas eu não sou ou deixo de ser candidato porque o presidente da República acha isso. Eu não sou candidato porque, em primeiro lugar, eu não desejo ser candidato e alguém que não quer candidato, na melhor das hipóteses será um péssimo candidato. Como é que alguém pode ser candidato se não tem vontade de ser?

Repórter – O senhor não queria a reeleição.

Covas – Isso.

Repórter – O senhor se considerou um péssimo candidato?

Covas – Não, não. Eu fui um bom candidato porque eu tinha o Maluf na outra ponta e ele estimula qualquer candidatura.

Repórter – Então por que o presidente e os ministros insistem no seu nome?

Covas – Eu podia dar uma resposta cabotina mas não vou nem dar resposta. Eu não sei porque que insistem. Não deviam insistir, já sabem que eu não vou ser. Ou se não sabem não devem falar no assunto porque se eu vivo dizendo que não sou candidato, insisti que eu sou candidato é uma maneira de contribuir para me desacreditar, eu não sou candidato e não vou ser candidato. Não há hipótese de eu ser candidato. Eu não sou candidato nisso nem a mais nada.

Repórter – Esse assunto incomoda o senhor?

Covas – Não, o que me incomoda é que quando a gente está ocupando um cargo a gente tem de ter essas conversas todo dia e se isso me incomoda. Então, eu não sou mais candidato.

Repórter – O senhor precisa combinar com eles agora, não é governador?

Covas – Eu não tenho de combinar, eu falo todo dia isso. Eu nunca vi perguntarem tantas vezes a mesma coisa como vocês me perguntam. Eu já falei que não sou candidato e não há força que me leve a ser candidato e se eu fosse seria um péssimo candidato porque quem manifesta essa vontade corre o risco de depois ouvir o que você disse: “O senhor disse ontem que não ia ser e acabou sendo”. Então, não vou ser candidato.

Repórter – Mas nem o Maluf vai estimular o senhor se ele for candidato?

Covas – Nem o Maluf. Dessa vez, nem o Maluf, tá velho já demais, já não estimula mais ninguém.