Trechos da entrevista do governador Mário Covas após lançamento do Pitu 2020

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qua, 19/07/2000 - 19h44 | Do Portal do Governo

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Repórter – Tem algum plano de articulação política para viabilizar o Pitu?

Covas – Nesse instante não tem plano de articulação coisa nenhuma. Nesse instante você montou o esquema no qual você diz o que tem que ser feito, o volume de recursos necessários a isso e apresenta algumas alternativas de obtenção desses recursos.

Repórter – Agora, o Pitu sugere alguma alternativa como pedágio urbano, como VLP rebatizados por aqui onde já chegaram a ser encampados pela prefeitura e foram alvo de críticas inclusive. O senhor acredita que as propostas do atual prefeito Celso Pitta estavam certas?

Covas – O que pode acontecer de melhor para o transporte aqui em São Paulo é o Rodoanel. O dia em que tiver o Rodoanel não se tem 10% dos caminhões entrando na cidade como agora. E, portanto, isso melhora o transporte de massa, o transporte individual, e todo o tipo de transporte que não vai ter que competir espaço. Nisso estão o transporte de carga, o transporte que passa por São Paulo vindo do sul, do nordeste, do centro-oeste, ou inversamente, e que passa obrigatoriamente por São Paulo. Passam por aqui porque a Capital de São Paulo é onde chegam as melhores estradas do país.

Repórter – Se a prefeitura não aderir, os projetos vão ser viabilizados?

Covas – Não é que não viabiliza. Você tem uma sequência de necessidades em matéria de realizações que custam x. Se você tiver mais gente contribuindo para isso, você atinge essa soma facilmente. Se tiver menos gente vai ter que limitar isso. E se um só ficar com a responsabilidade, ele vai ter muita dificuldade em obter todo o recurso, portanto, o que vai acontecer é que você vai chegar em 2020 e não vai ter o Pitu realizado.

Repórter – E a iniciativa privada que até agora não se interessou?

Covas – Tem um grupo interessado em participar na construção do metrô. Estamos estudando essa possibilidade. Ou entregar integralmente ou ter um sócio na construção da Linha 4 do metrô.

Repórter – Que grupo está interessado?

Covas – Ah! Isso a gente não conta.

Repórter – As obras começam nessa gestão ainda?

Covas – É. As obras se iniciam nessa gestão porque a parte de investimento externo está praticamente negociada. O empréstimo externo para começar está iniciado.

Repórter- O metrô tem parado semanalmente. Tem caído o serviço?

Covas – Cláudio (disse o governador ao secretário dos Transportes Metropolitanos), estão desqualificando o metrô aqui. Acabo de receber uma pergunta dizendo que o metrô semanalmente tem parado e criado problemas e que hoje teve outro problema. Portanto, o metrô de São Paulo parece que deixou de funcionar. No nosso governo evidentemente.

Secretário – O metrô faz parte de índices internacionais…

Covas – É que a reportagem da Globo é feita nos horários de pico. E, portanto, quando veio a reportagem da Globo…primeiro vê a Globo e acha que está certo porque é a Globo, em segundo lugar, no horário de pico, coisa que em qualquer metrô do mundo ocorre. Mas é um horário em que só andam 20% dos ocupantes do metrô. Nos outros horários andam 80% dos ocupantes. Em qualquer metrô do mundo nessa hora está ruim. Mas o que ele (repórter) está dizendo é que o metrô, pelo menos uma vez por semana, pára. Parece que o deputado Zaratini tem dito isso sistematicamente.

Secretário – O deputado e o Sindicato têm dito isso. É o chamado “cuspir no prato”. O metrô é parte de índices internacionais, e o índice considerado mais relevante do Metrô de São Paulo é a manutenção, que é considerada padrão e referência para outros metrôs.

Covas – O metrô de São Paulo é um dos poucos que conseguiu a perfeição de igualar a sua despesa com a sua receita. Vocês cobravam assim dos outros governos? Eu nunca vi uma palavra nos jornais nos outros governos.

Repórter – O senhor está chamando a atenção para a necessidade do problema, então como que vai viabilizar agora, vai jogar para a frente?

Covas – Eu fiz no meu mandato o que nenhum outro Governo fez, escuta bem. Em subúrbio, em ônibus ou em metrô, nenhum outro Governo fez o que este Governo fez, nenhum. Não me diga que está jogando para frente coisa nenhuma, que afirmação gratuita é essa? Olha, Cláudio (Cláudio de Senna Frederico), você faça o favor de dar para ele tudo que foi feito em cada Governo em matéria de metrô, trem de subúrbio, compra de equipamento, revitalização de linha e de ônibus, até porque ele está dizendo que a gente está jogando para frente isso.

Repórter – E o que vai ser entregue nesta gestão de metrô?

Covas – O que vai ser entregue? Já foi entregue. Já foram entregues seis quilômetros na Zona Leste, três quilômetros na Zona Norte, dois quilômetros na Zona Oeste, ou seja, 12 quilômetros, que representa 30% do que foi feito em todo o tempo do Metrô, em toda história do Metrô. Além disso, se você for lá na Zona Sul vai encontrar metrô sendo feito entre o Largo 13 e Capão Redondo. Você chega a ir em Capão Redondo?

Repórter – Eu moro lá, governador.

Covas – Você mora lá? Então você vai ser servido pelo Metrô.

Repórter – Mas pena que não vai ter interligação.

Covas – Como não vai ter interligação? Vai ter interligação por enquanto com o trem de subúrbio, que é um trem de subúrbio ótimo, fora disso você vai pegar um ônibus e ir até a Praça da Árvore e de lá pega Metrô para qualquer lugar.

Repórter – E quando vai ser entregue?

Covas – Cláudio, quando é que vai ser entregue o Metrô da casa dele, lá?

Secretário – Em 2002.

Repórter – O senhor prometeu 120 quilômetros em 1998, e isso é possível até quando?

Covas – É, eu sou mentiroso.

Repórter – Vai ser possível até quando?

Covas – Não sei quando vai ser possível.

Repórter – Ainda é possível nos últimos dois anos?

Covas – Cento e vinte quilômetros?

Repórter – Não, 120%.

Covas – A hora que você incorpora as linhas de subúrbio, que hoje tem a mesma qualidade da linha do Metrô, é isso mesmo que acontece. No passado, eram linhas de subúrbio, hoje não são. Ou você acha que o que está sendo feito lá junto à Marginal do Pinheiros é linha de subúrbio? Não é, é metrô aquilo. Eu não consegui cumprir a meta que eu esperava cumprir, mas tenho a meu favor o fato de que eu cumpri muito mais do que qualquer outro governador, aliás, em qualquer terreno que vocês queiram discutir: Saúde, Educação, Habitação, Transporte coletivo, vocês podem escolher o assunto que o meu Governo fez mais. Agora, cobrar que tem mais por fazer, isso dá para cobrar. A vida inteira vai dar para cobrar que tem mais por fazer em qualquer setor. Agora, se quiserem discutir o que esse Governo fez em qualquer setor e o que qualquer outro Governo fez, a gente está pronto para discutir. Mas parece que ninguém está interessado nisso, estão interessado em dizer o que falta fazer. Eu sei o que falta fazer, se eu não soubesse, não fazia o Pitu.

Repórter – Quantos por cento caberia ao Governo para pôr em prática o Pitu?

Covas – Não tem por cento nenhum.

Repórter – Mas não tem uma programação mais ou menos?

Covas – Não, não tem nenhuma programação. Nós estamos apresentando isso, é por isso que eu digo que essas coisas não devem ser feitas, porque você tem de responder coisas e não se começa por essas coisas.

Repórter – Quanto foi gasto com metrô e trens na sua gestão?

Covas – Um pouco menos que com a Educação para onde foi dado 30%. Mas não dá para dar 30% para o Metrô, mas nós não temos como transporte coletivo só o metrô, talvez tenha sido gasto mais no subúrbio do que no metrô, porque até tinha gente mais necessitada no subúrbio do que no metrô.

Repórter – Governador, uma palavra sobre o possível depoimento do Lau Lau (juiz Nicolau dos Santos) hoje.

Covas – Mas o Lau Lau apareceu?

Repórter – Segundo o Correio Braziliense ele iria depor hoje.

Covas – Pelo que eu li ontem no Correio Braziliense não dá para acreditar. A notícia que eu li sobre o José Maria Monteiro no Correio Braziliense de anteontem não dá para eu acreditar em mais nada que o Correio Braziliense fale. Então, se o Correio Braziliense disse que ele vai depor hoje, para mim é difícil de acreditar.

Repórter – O presidente Fernando Henrique disse que isso é um problema individual.

Covas – E eu vou julgar o que o Fernando Henrique falou? Ele tem a opinião dele e ponto final, é o presidente da República, ele não precisa ter sua opinião referendada nem contestada por mim.

Repórter – O senhor é a favor de uma CPI para investigar esse caso?

Covas – Eu só posso dizer o que eu fiz como senador e deputado durante 16 anos, nunca deixou de andar uma CPI por falta da minha assinatura. No meu Governo, outro dia o Waltinho (deputado Walter Feldmann) foi lá com uma lista com 12 pedidos de CPI. Eu disse, para mim você pode fazer as 12 que não faz a menor diferença, até porque, se tiver alguma coisa errada, eu preciso saber para poder consertar.

Repórter – O senhor disse que quem não tem nada a temer assina o pedido de uma CPI?

Covas – Mas você pode não assinar por razões que não são temer ou não temer. Eu nunca temi nada, no entanto assinei todas, mas não foi porque não temia. Foi porque eu acho que se uma das prerrogativas do Congresso é uma CPI, não há de ser a falta de uma assinatura que vai evitar de ela andar. Me lembro um dia em que o Suplicy veio me pedir para eu não assinar uma CPI relativa à CUT. “Suplicy, eu não posso ser incoerente, não posso ser sempre a favor e agora porque é a CUT ficar contra”. Mas o Suplicy veio me pedir para não assinar.

Repórter – Se o senhor fosse senador assinaria?

Covas – Se eu fosse senador ainda hoje não vejo porque eu mudaria minha posição. Eu fiquei no Congresso por 16 anos e agi assim. É verdade que eu fiquei muito mais tempo como oposição do que Governo, mas mesmo como Governo nunca deixei de assinar. Isso tudo aconteceu num período ruim, fica sendo explorado todo esse mês que é recesso para recomeçar a exploração quando acabar o recesso. É um ato errado, portanto, até a Polícia pode resolver. Eu não tomaria a iniciativa mas não deixaria de assinar. Também não vou aconselhar ninguém a nada, cada um faz o que quer com a sua cabeça.