Trechos da entrevista do governador Mário Covas após lançamento do Pitu 2020

Parte I

qua, 19/07/2000 - 18h16 | Do Portal do Governo

Parte I

Repórter – Governador, amanhã o Plano Nacional de Segurança completa um mês. Qual a avaliação do senhor nesse primeiro mês, que tipo de colaboração o governo federal deu até agora?

Covas – Olha, o que a gente tem feito aqui em São Paulo depois de ter conversado com o ministro são reuniões, uma aproximação maior da Polícia Estadual com a Polícia Federal para articular ações. Fora isso, o que eu vi anunciar é que aquilo já era constante antes do plano, ou seja, o Fundo de Penitenciárias que tinha R$ 104 milhões destinava R$ 4 milhões para São Paulo, embora São Paulo tenha mais de 50% da população carcerária do País. Eu vi outro dia no jornal que agora esses R$ 4 milhões seriam liberados. Mas isso, independente do plano, já seria. Também, o ministro me disse aqui que alguém estava indo a França para fechar um acordo lá de quase R$ 500 milhões que se somariam aos R$ 200 para formar R$ 700 milhões, que é quanto eles pretendiam gastar no primeiro ano. Também alguém me falou que um Estado qualquer, não sei se Mato Grosso, teria recebido porque já teria qualquer coisa pronta para apresentar. Nós, só se apresentarmos o que estamos realizando. Nós estamos realizando muita coisa nessa área, estamos gastando mais de R$ 100 milhões este ano só na área de presídios e estabelecimentos prisionais, mas fora isso, não dá para esperar que um mês depois as coisas tenham acontecido. É curto (o tempo). Eu tenho sobre o plano uma opinião: acho que acertou no que se refere à formulação. É a primeira vez que eu vejo um plano olhar a violência sob o aspecto da violência e não sob o aspecto da segurança. Entender que a segurança vai melhorar se você conseguir diminuir a violência e que a violência é fruto de uma porção de razões. Por isso, o plano se desdobra em “n” frentes diferentes. Acho que sob este ponto de vista é positivo. Agora, a mecanização, a ação do plano vai demorar um pouco. Até você transformar isso em recursos e os recursos em realização, vai demorar um pouco.

Repórter – Governador, teria um levantamento que foi publicado hoje no Estado que o número de homicídios em São Paulo cresceu 5,5% no primeiro semestre em relação ao ano passado.

Covas – É um levantamento feito pelo departamento de saúde da prefeitura, que eu não tenho idéia de como foi feito. Eu telefonei ao secretário porque ele me falou, há alguns dias, que as avaliações do primeiro semestre deste ano ficaram inalteradas em relação ao ano anterior. Eu tenho até anunciado isso e reclamei com ele por não ter apresentado esses dados quando recebeu essa pergunta ontem, já que esse dado não é o dado da Segurança. Esse dado é do Proaim, que é o Programa de Atendimento Integral de Morte, sei lá. É qualificação de mortes e, portanto, eu não sabia como é que tinha sido feito e não quis discutir o assunto. Eu até pedi para ele acelerar a totalização para ainda hoje, se possível, dar os dados da Secretaria. Se foi isso, aceita-se que foi isso. O papel da Secretaria de Segurança é tentar diminuir o crime, não é esconder a existência do crime. Se tiver mais crime, tem que contar que tem mais crime e contar quantos são. Se não tiver, tem que contar quantos são. Como se tem o Estado inteiro para articular, leva-se muito tempo entre terminar o período contado e você ter a articulação. Ainda assim eu cobrei porque acho que 20 dias é muito tempo para isso. Pelo menos da cidade de São Paulo eu já devia ter os dados para de bate-pronto responder qual era a contagem da Secretaria. Ele me disse que ainda hoje falaria com a imprensa dando os dados, pelo menos da Capital, que já devem estar totalizados.

Repórter – O que o senhor acha da operação de fechamento de bares da prefeitura? O secretário de Segurança criticou a operação.

Covas – O secretário de Segurança não criticou. Eu não vi ele criticando, não.

Repórter – Ele disse que a prefeitura está querendo aparecer ao tomar uma medida dessas.

Covas – Ah! Não sei. Eu não tenho nada a opinar sobre isso. Eu fico admirado desse Pitta, a cada instante, estar cobrando o Estado. Esse cidadão já assinou um documento dizendo que ia pagar 25% do Rodoanel, nunca deu um tostão para aquilo e, a cada instante em que é apertado, empurra nas costas do Estado a coisa. Ele quer fechar bar, vá fechar bar, não tem nenhum problema com isso. Agora, não faz os seus inferninhos e pede para a gente resolver os inferninhos dele. Que história é essa? Toda vez é isso. O Pitta, toda vez em que é chamado: “não porque o Estado, porque o Estado, se o Estado estivesse fazendo, se o Estado estivesse acontecendo”. Olha, se ele estivesse dando a parte que devia dar, se o dinheiro tivesse sido bem usado, que não foi, ele estaria dando dinheiro para o Rodoanel e portanto a gente poderia fazer a obra mais depressa. Estamos sendo obrigados a dar o do Estado e o dele.

Repórter – Porque não foi bem usado o dinheiro?

Covas – Ah!, na minha opinião não foi bem usado, estou farto de ver isso. Foi usado em frango, foi usado numa porção de coisas nas quais não devia ter sido.
Estou farto de saber disso, você também está farto de saber. Você só quer que eu fale, por isso está perguntando, mas sabe tão bem quanto eu. Não é segredo para ninguém.

Repórter – Governador, falando de Pitu. O Pitu vai usar verbas de IPVA?

Covas – Não, não. Essa foi uma alternativa lembrada pelo secretário e por quem fez o projeto. Mas eu não gosto de verba vinculada. Me arrumaram mais uma vinculação agora. Então, começa a fazer conta. Vocês vivem pedindo para a gente fazer isso, fazer aquilo e aquilo outro. Mas, aqui em São Paulo, em vez de a gente gastar 25% com a Educação, a gente tem que gastar 30%. Porque as condições estaduais mandam gastar 30%. Agora, o Serra acabou de aprovar um projeto no Senado, em primeira discussão, e vamos ter que gastar 12% em Saúde. Nós gastamos 9,57% com as Universidades, gastamos 1% na Fapesp, nós gastamos 1% na Habitação. Começa a ficar complicado. Nós gastamos R$ 6 milhões por ano para pagamento de aposentados. Então você não tem nenhuma alternativa de flexibilidade. A vinculação obriga a isso. De repente, acontece uma grande enchente. Você não tem de onde tirar, porque o dinheiro é carimbado. Então, não gosto muito da vinculação.

Repórter – De onde virão as verbas para o Pitu? Depende do Governo Federal, do empresariado que não está interessado nas concessões, de onde o senhor acredita que devem vir as verbas?

Covas – Virão, se vierem, de todos os lugares. Virão dos recursos do Tesouro do Estado, das prefeituras interessadas, dos recursos de empréstimos, virão de recursos do Governo Federal… de repente eles acaba aprovando aquele imposto verde e não jogam todo dinheiro nas rodovias, jogam no transporte de massa urbano, que tem a sua lógica. Os recursos podem até vir de verbas vinculadas, mas isso ainda não está equacionado. O que está equacionado por enquanto é o tipo de obras que você tem que realizar para chegar, em 2020, a uma situação razoável ao que se refere a transporte.

Repórter – Qual a garantia de que esse projeto seja levado avante pelos próximos governos?

Covas – Qual é a garantia que você tem de que os próximos governos vão executar alguma coisa? Qual é a garantia que você tem? Nisso e em qualquer outra coisa, garantia não se tem nenhuma. Você está dando um indicador que não é nem o resultado do trabalho do governo apenas. É resultado do trabalho do governo, da sociedade, de quem entende do assunto, dos órgãos de classe etc. Esse governo produziu um trabalho que aponta, e até aponta mostrando as dificuldades existentes, que o volume necessário a investir não é pequeno. Se essa reunião não valesse para isso vale para outra coisa. Vale para, pelo menos, demonstrar a necessidade de uma participação coletiva nisso. O transporte de massa em São Paulo não é um problema exclusivo do Estado.

Repórter – Porque não foram construídas mais linhas de metrô durante essa sua gestão, governador?

Covas – Eu encontrei o governo quebrado. Eu já paguei. Eu esqueci de dizer para você que estou pagando 13% da receita líquida de dívida para o Governo Federal, ao qual já paguei R$ 17 bilhões e meio. Dava para fazer meio Pitu se eu não tivesse encontrado essas dívidas. Dívidas que o Quércia deixou, que o Fleury deixou, que o Maluf deixou. Ainda estou pagando. Tenho R$ 600 milhões retidos na Justiça por conta de uma dívida da Paulipetro. R$ 600 milhões retidos. Já paguei US$ 9 milhões de dólares de dívida da Cesp. Já paguei mais de R$ 3 milhões de reais de dívidas de obras deixadas no meio do caminho. Deixaram a obra no meio do caminho e as contas para pagar no meio do caminho. É por isso que não fez. Agora, só esses R$ 17 bilhões que eu paguei para o Governo Federal era meio Pitu, não é? Aí não fazia o Pitu 2020 fazia o Pitu 2010.

Repórter – Tem algum plano de articulação política para viabilizar o Pitu?

Covas – Nesse instante não tem plano de articulação coisa nenhuma. Nesse instante você montou o esquema no qual você diz o que tem que ser feito, o volume de recursos necessários a isso e apresenta algumas alternativas de obtenção desses recursos.

Repórter – Agora, o Pitu sugere alguma alternativa como pedágio urbano, como VLPs rebatizados por aqui, onde já chegaram a ser encampados pela prefeitura e foram alvo de críticas inclusive. O senhor acredita que as propostas do atual prefeito Celso Pitta estavam certas?

Covas – O que pode acontecer de melhor para o transporte aqui em São Paulo é o Rodoanel. O dia em que tiver o Rodoanel não se tem 10% dos caminhões entrando na cidade como agora. E, portanto, isso melhora o transporte de massa, o transporte individual, e todo o tipo de transporte que não vai ter que competir espaço. Nisso estão o transporte de carga, o transporte que passa por São Paulo vindo do Sul, do Nordeste, do Centro-Oeste, ou inversamente, e que passa obrigatoriamente por São Paulo. Passam por aqui porque a Capital de São Paulo é onde chegam as melhores estradas do país.

Repórter – Se a prefeitura não aderir, os projetos vão ser viabilizados?

Covas – Não é que não viabiliza. Você tem uma seqüência de necessidades em matéria de realizações que custam x. Se você tiver mais gente contribuindo para isso, você atinge essa soma facilmente. Se tiver menos gente, vai ter que limitar isso. E se um só ficar com a responsabilidade, ele vai ter muita dificuldade em obter todo o recurso, portanto, o que vai acontecer é que você vai chegar em 2020 e não vai ter o Pitu realizado.

Repórter – Que grupo está interessado?

Repórter – E a iniciativa privada que até agora não se interessou?

Covas – Tem um grupo interessado em participar na construção do metrô. Estamos estudando essa possibilidade. Ou entregar integralmente ou ter um sócio na construção da Linha 4 do metrô.

Aguarde mais trechos da entrevista.