Trechos da entrevista do governador Mário Covas após inauguração da fábrica da Delphi em Jaguariúna

Parte III

ter, 22/08/2000 - 16h54 | Do Portal do Governo

Parte III

Investimentos

Pergunta: Qual o balanço que o senhor faz dos novos investimentos que estão sendo feitos no Estado de São Paulo?

Covas: A gente não pode reclamar. São Paulo, sobre este aspecto, é um Estado privilegiado. Acho que o povo paulista trabalhou muito por isso, durante muitos anos. Acabamos de ver isso em números, que estão disponíveis até cidade por cidade, empresa por empresa. Excluindo investimentos decorrentes de privatização ou investimentos estatais (Estado, União e Prefeituras), nós tivemos US$ 100,6 bilhões entre janeiro de 1995 e maio de 2000. Ou seja, em cinco anos nós tivemos cerca de US$ 100 bilhões de investimentos, o que equivale a US$ 20 bilhões por ano. É um número bastante razoável, tendo em vista que tivemos algumas crises durante esse período. A crença no Estado de São Paulo se manifestou em várias oportunidades. Por exemplo, a primeira privatização que fizemos foi da CPFL. Foi no auge da crise, no auge. Mesmo assim, a empresa foi vendida por R$ 3,7 bilhões. Quando nós fizemos a segunda privatização, estávamos no auge da crise russa. Quer dizer, nós sempre pegamos as piores situações e sempre foi um sucesso muito grande. Não é porque é o meu governo. O sucesso é grande porque São Paulo faz jus a isso e o Brasil também. São Paulo tem uma infra-estrutura que é incomparável com os demais Estados. Isso também não é bom. O bom seria que todos os Estados crescessem. O maior interessado nisso é São Paulo, porque é o que mais exporta internamente, portanto, o Estado quer que os outros comprem. Então, quanto mais ricos os outros Estados forem, melhor.
Agora, nós temos hoje um sistema, por exemplo, de transporte, com dois portos como Santos e São Sebastião. Da cidade de São Paulo saem, de qualquer direção cardeal que se tomar, pelo menos duas grandes estradas, com duas pistas cada uma e várias faixas. Aqui a Anhanguera, a Bandeirantes, a Castello Branco, e a Raposo Tavares para o outro lado; a Anchieta e a Imigrantes para o sul; a Carvalho Pinto e a Dutra para leste; e ainda, na direção de Belo Horizonte, a Fernão Dias. Nós temos no Interior hoje 31 aeroportos, todos eles, pavimentados. A maioria deles recebem aviões de grande porte; alguns deles de características internacionais. Além dos dois grandes aeroportos: Cumbica e Viracopos. Nós temos hoje um sistema, que acabou de se complementar, quando fizemos a passagem do último obstáculo existente na Hidrovia Tietê-Paraná, que é a eclusa de Jupiá. E, portanto, hoje temos 2.500 quilômetros de hidrovia. É por isso que a região, ao longo da hidrovia, está se desenvolvendo muito, porque isso dá um enorme impulso com o comércio do Mercosul.
O Estado tem laboratórios de pesquisa em números muito grandes, temos um instituto como o IPT. E hoje, o que o País avançou tecnologicamente o qualificou para ser capa da revista Nature, que é a publicação sobre ciência mais significativa do mundo. Tendo em vista o destaque dado pelo seqüenciamento do Genoma do Amarelinho, coisa que o Maluf iria arrumar em um ano.

Pergunta: E a representativa desta região, especificamente, para o Estado de São Paulo, o senhor citou no discurso…

Covas: A representativa desta região significa: 20% do produto industrial do Estado, 10% do produto agrícola estadual. Ou seja, é uma região extremamente importante, porque 1/5 do produto industrial está aqui. E isto tende a crescer, porque nesses US$ 100 bilhões a diferença do volume investido na Região Metropolitana é praticamente igual aquilo que foi investido na região de Campinas. É uma região, sem dúvida alguma, muito favorecida. Claro, há universidades, várias cidades onde, se não tem uma universidade, tem extensões universitárias. Há também mão-de-obra já especializada, capacidade gerencial desenvolvida, as cidades são todas elas muito habilitadas do ponto de vista industrial.

Pergunta: Não existe uma tendência dos investimentos migrarem para o Interior do Estado?

Covas: Eles estão migrando.

Pergunta: E isso vai continuar?

Covas: Vai continuar e por uma razão muito simples, porque se começa a ter um conflito entre a população e a indústria. Se você for andar por São Paulo, ainda vai encontrar fábricas que, em volta delas, tem uma vila de operários. Porque quando elas foram feitas tinha espaço em volta. Então, quem trabalhava na fábrica morava no seu entorno. Com o passar do tempo começa a se ter conflitos entre a população do entorno e a fábrica, ou por poluição sonora, ou por poluição visual, por várias razões. De forma que no fim a indústria acaba fugindo para o Interior. Já que ela vai ter mão-de-obra tão boa quanto na Capital. Ela tem mais facilidade, como energia, água, boas estradas, bons aeroportos, então a vinda de investimentos acaba ocorrendo. Então, vai-se criando núcleos como este. Jaguariúna é um exemplo muito claro disso, a cidade ganhou uma especialização que não vai parar. Daqui para frente o número de empresas de tecnologia de ponta que você vai ver vindo para o município será muito grande. Porque se criou um pólo e esse pólo atrai outras coisas, atrai complementos, atrai serviços…

Pergunta: O senhor acha que é motivo de Campinas, apesar de ser considerada uma das regiões mais ricas do Brasil, possui um índice de 160 mil pessoas morando em áreas de ocupação e com índice de marginalidade muito acentuado, o senhor acha que …

Covas: Não vem com esse papo que a marginalidade é por causa do pessoal que está em área de ocupação. Isso não explica porque os hooligans vão matar gente na Europa, e os ingleses são todos ricos. Isso também não explica porque um rapaz que é estudante de medicina vai para um shopping armado, entra num cinema e metralha pessoas que ele nem conhece.

Pergunta: Como se explica, apesar da cidade ser de uma região tão rica, ver 160 mil pessoas morando em condições como esta?

Covas: A mesma coisa que aconteceu com São Paulo e com a Região Metropolitana. Parece que ainda descobriram pouco o Interior. Porque até agora toda essa população migrante se concentrou na Capital e sua Região Metropolitana. Agora é que estão começando a vir para o Interior. O que aconteceu com Campinas? Cresceu muito industrialmente, então atrai isso mesmo. Agora, isso não obriga a ocupação. A ocupação é um problema que o município poderia ter evitado.

Perguntar: O senhor acha que faltou empenho por parte do…

Covas: Eu não acho nada. Você é quem tem de achar. Eu só estou dando minha informação.