Trechos da entrevista coletiva do governador Mário Covas

Parte Final - Entrevista foi concedida após a cerimônia de posse do novo presidente da CDHU, Nelson Peixoto Freire

qui, 20/01/2000 - 16h06 | Do Portal do Governo

Trechos da entrevista coletiva do governador Mário Covas concedida na manhã desta quinta-feira, dia 20, após a cerimônia de posse do novo presidente da CDHU, Nelson Peixoto Freire

PARTE FINAL

Repórter: O presidente Fernando Henrique fez ontem um apelo para que os Estados reduzam o ICMS. O que o senhor acha disso?

Covas: Bom, reduzir o ICMS deve ser reduzir até o limite que a lei permite. Reduzir o ICMS até 12%, Minas Gerais resolveu diminuir o ICMS dos móveis até 12%. Ele foi inteiramente de acordo com a lei. Não há o que reclamar contra. Agora, foi uma empresa para o Paraná e essa empresa recebeu uma série de favores. Moral da história, custa para ele hoje 22% a menos do que custa nos outros lugares, porque ela está recebendo um favor fiscal que a lei proíbe. O produto dessa empresa que vier para São Paulo, quem comprar dela vai pagar a diferença.

Repórter: São os carros?

Covas: Como chama isso?

Outro: São embalagens laminadas de plástico.

Repórter: Mas existem setores que podem ser prejudicados porque dependem da compra de outros Estados?

Covas: Tem. O povo de São Paulo pode ser prejudicado com a ida das empresas. Cada atitude que você toma, você põe numa balança as vantagens e desvantagens. Eu estou tentando proteger os interesses de São Paulo.

Repórter: Isso pode resultar numa elevação de preços de alguns produtos?

Covas: Pode, pode acontecer de um ou outro produto até ter elevação de preços. Na medida em que você compra lá mais barato, porque lá estava fazendo uma safadeza, em compensação você quebra o restante das fábricas aqui. Se você acha que é mais negócio isso, comprar mais barato por alguém que está cometendo um ilícito fiscal e quebra tuas empresas aqui e os empregos vão para o vinagre e tudo isso. Mas é engraçado, vocês me cobraram quatro anos com a guerra fiscal, na hora que a gente anuncia as medidas, vocês me cobram as medidas?

Repórter: É isso o que eu queria perguntar. São Paulo perdeu muitos empregos com a guerra fiscal. Por que o senhor não tomou essas medidas antes?

Covas: Eu não tomei essas medidas antes porque para São Paulo é mais difícil tomá-las. Aliás, nós tomamos sim. Nós tomamos, acho que com um mês de Governo, contra o Espírito Santo no caso dos automóveis. Está no Supremo Tribunal para julgar até hoje. O Espírito Santo entrou com mandado de segurança, a liminar foi dada e até hoje o Tribunal não julgou o mérito. E nós não pudemos cobrar. Mas nós fizemos exatamente isso. Você comprava automóvel lá, o automóvel tinha sido vendido em São Paulo. Parece que, eu li no jornal, a Ford está fazendo a mesma coisa, importando automóvel da Argentina e depois manda para São Paulo com as isenções que o Governo Federal e o Governo Estadual dão para eles.

Repórter: Vocês vão fazer alguma coisa a respeito das concessionárias da Ford?

Covas: Mas eu não vou anunciar nada do que eu vou fazer ou deixar de fazer. Sabe de uma coisa? Se eu boto isso no jornal e se isso acontecer eu não encontro um carro lá na hora que eu for lá. Vão estar todos em outro lugar, só vê na hora de vender. Isso parece coisa de espião que anda com uma roupa escrito ‘espião’.

Repórter: Está sendo iniciada agora uma campanha contra os gazeteiros na Câmara e no Senado. O presidente da Câmara prometeu descontar nos salários e nos jetons. O que o senhor acha disso, como governador e ex-deputado?

Covas: No meu tempo descontavam. Eu, quando fui deputado pela primeira vez, em 1962, você saia daqui na segunda-feira, porque só tinha um avião por dia que saía às 7 horas da manhã, e voltava na sexta-feira à tarde. E votava veto toda santa noite. E quem não estava presente não recebia o jeton. É como jornalista, não, jornalista não tem esse negócio.

Repórter: A justificativa dos deputados e senadores é que eles têm que ficar em contato com as bases.

Covas: É verdade que eles têm que ter contato com as bases.

Repórter: Mas eles precisam trabalhar, né?

Covas: Eles trabalham. É que vocês não dão bola para o bom trabalho. Vocês não dão bola para o que é feito nas comissões, vocês não dão bola para o lugar onde efetivamente se discute. Porque nesse País, nossa cultura é oral. A gente gosta do discurso. Então, tem um cara que briga, que vai para a tribuna, todo mundo vai lá para assistir. Mas o trabalho real que se faz lá é nas comissões. Esse é que é o trabalho pesado.

Repórter: O ideal é conciliar o atendimento das bases com o trabalho, não é?

Covas: É, isso talvez seja possível de ser feito melhor com uma modificação no período de recesso. O período de trabalhar não devia nem ter sábado e domingo. Faz um período que trabalha e vai de cabo a rabo, depois, deixa três meses seguidos para o cara ficar na base.

Repórter: Três meses?

Covas: Lógico. Se você trabalha nove meses – hoje não trabalha, trabalha? – Não trabalha nove meses. Você trabalha todo dia, sábado, domingo, como se trabalhou na constituinte.

Repórter: Na história do Detran, governador, o senhor está acompanhando? Qual a avaliação que o senhor faz dos deputados que têm também irregularidades, pendências nos seus veículos no Detran?

Covas: Eu até pensei em passar lá outro dia diante de uma notícia desse tipo, mas eu ainda não tive oportunidade de me aprofundar nessa questão. Mas acho muito difícil que os deputados tenham carros que não pagam. Mas em todo caso. De repente chego lá encontro alguns jornalistas que não tenham. Vai ficar chato para vocês. Vou mandar ver todos vocês. Só as mulheres que podem não ter. (risos)

Repórter: E a tese da transferência da Secretaria de Segurança para o Detran parece que está sofrendo algumas modificações?

Covas: Não está sofrendo nada. Vai seguir o curso que eu já anunciei há dois meses.

Repórter: Mas vai ser o Detran mesmo a sede da Secretaria?

Covas: Se vai chamar Detran eu não sei. Mas vai mudar. Vai sair da Secretaria sim.

Repórter: Não, não. Estou dizendo se a Secretaria de Segurança Pública vai ser transferida para o prédio do Detran. Já surgiram notícias de um prédio que também pertence ao Estado, no Largo São Francisco, que serviria muito bem de sede.

Covas: Eu não acho o Detran um lugar bom para a Secretaria. A Secretaria precisa ter os comandos junto com ela. Não tem lógica o secretário ficar num lugar, o chefe da Polícia Militar noutro, o chefe da Polícia Civil noutro. Acho que tudo isso devia centralizar num lugar, mas eu não gosto do Detran como sede. O secretário gosta. Eu não gosto.

Repórter: O senhor sabe esse prédio que eu estou falando, o Palácio Saldanha Marinho, lá no Largo São Francisco.

Covas: Eu sei, mas não é só esse não. Esse é o que foi ocupado pela Fepasa durante algum tempo.

Repórter: Mas foi restaurado.

Covas: Eu sei, foi restaurado, está bonito.

Repórter: Mas está na CPA, o Estado tem intenção de vender ou pode servir de sede para a Secretaria?

Covas: Não, pode servir. Se a gente tiver uma finalidade para ele, não vende. Se a Secretaria achar que lá é um bom lugar. Talvez lá também não seja o lugar ideal. O lugar bom, não é nosso, mas eu visualizo para a Secretaria um lugar parecido com o que está a prefeitura hoje. Você tem espaço grande em volta, você tem acesso fácil, entendeu? Não estou pensando em tirar o Pitta de lá, só estou dando o exemplo. Amanhã vai sair no jornal que eu vou tirar o Pitta de lá.