Trechos da entrevista coletiva do governador Mário Covas durante ampliação do Parque Industrial da F

Única Parte

qui, 19/10/2000 - 15h57 | Do Portal do Governo

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Exames médicos

Repórter – Acho que todo mundo quer saber como está a saúde do governador.

Covas – Eu não sei como está a saúde, os médicos estariam se reunindo hoje e iam anunciar. Isso não é problema, o problema é me curar. Anúncio do que eu tenho do que não tenho…

Repórter – O senhor vai precisar se afastar do governo, recebeu alguma orientação médica?

Covas – Mas você está louca para eu me afastar?!

Repórter – Não senhor. Ao contrário, estou torcendo pelo senhor.

Repórter – O senhor acha que isso pode comprometer o restante do seu governo?

Covas – Isso o quê?

Repórter – Esse problema de saúde.

Covas – De eu ter um câncer? Pode falar essa palavra. Não acho não. Vou me tratar e tocar a vida para a frente e vou ganhar.

Repórter – Como o senhor está enxergando essa nova situação?

Covas – Como eu estou enxergando? Isso não é coisa que se enxerga, é coisa que se sente. Não é o primeiro obstáculo que eu enfrento na vida e nem vai ser o último. Eu vou superar esse como superei os outros.

Repórter – O senhor pretende se licenciar do governo?

Covas – Não, não, não. A não ser que os médicos dissessem para mim que precisava, se é que eles vão dizer que eu tenho alguma coisa. Eles devem estar reunidos agora. Mas li no jornal todo mundo dizendo isso, é bem capaz que eu esteja.

Repórter – Os médicos já deram uma coletiva e disseram que realmente o problema se confirmou. O senhor pretende ter alguma conduta diferente para se cuidar?

Covas – Não, nenhuma conduta diferente, eu não sei nem o que eles diagnosticaram. No que se refere à cura, preciso conversar com eles, como se conversa com o médico quando se tem um resfriado e outras coisas.

Repórter – O senhor está com ânimo para enfrentar mais esse tratamento?

Covas – A despeito de ter muita gente pensando que não, estou sim e vou ganhar.

Repórter – Como o senhor reflete com relação à vida com um problema de saúde, em um momento delicado. Como o governador avalia o sentido da vida?

Covas – Meu filho, são coisas postas no caminho da gente, têm que ser enfrentadas e a gente tem que lutar para vencer. Tantos outros obstáculos… Eu enfrentei um igual a esse já anteriormente e, graças a Deus, e à ajuda e torcida de muita gente, até mesmo das orações de tanta gente, foi possível superar aquele obstáculo e vai ser possível superar este também. Eu não tenho nenhuma vontade de não viver. Eu gosto muito da vida, gosto muito do que faço, e faço com muito empenho, com muita vontade, de forma que vou brigar o que tiver que brigar.

Repórter – Nesses dias o senhor tem estado bem disposto?

Covas – Tenho. Segunda-feira, fui inaugurar o Centro de Saúde na penitenciária feminina. Depois, no dia seguinte, fui inaugurar o Centro de Detenção Provisória no Belém. Na quarta-feira, fui à entrega de máquinas da Secretaria de Agricultura; depois de tarde tenho a assinatura com o BNDES. Enfim, eu vou tocar a minha vida; enquanto não me disserem que eu preciso me ausentar ou não precise me recolher a algum tratamento mais específico, eu vou continuar a tocar a vida. E mesmo que tenha, eu vou tocar como toquei anteriormente. Quando estava fazendo aquele tratamento de quimioterapia, eu trabalhei concomitantemente, até porque o trabalho é uma forma de terapia. A gente quando está trabalhando está pensando nas entrevistas com vocês…

Repórter – Não se desanima!

Covas – Nem tem porque desanimar. Eu tenho boa esposa, bons filhos, bons netos, uma família boa, bons amigos, tenho um governo, que a despeito de vocês não acreditarem foi o que mais realizou no Estado de São Paulo em todos os tempos. Enfim, eu durmo tranqüilamente quando encosto a cabeça no travesseiro.

Investimentos em Sorocaba

Repórter – O senhor acha que a instalação dessa indústria em Sorocaba vai contribuir para que essa região se torne um novo pólo de desenvolvimento?

Covas – Essa região já é um pólo de desenvolvimento, inclusive eu tenho comparecido em outras inaugurações. É uma coisa interessante no Estado de São Paulo o que vem acontecendo. Eu falei há pouco que nesse período de cinco anos foram feitos investimentos de US$ 100,6 bilhões. Quando você divide o investimento por regiões, a Região Metropolitana ainda é a que recebe maior volume de investimento. Quando você divide por atividade, a Região Metropolitana recebeu US$ 15 bilhões, a região de Campinas recebeu 13,5, a região de São José dos Campos recebeu 11,9, e depois vem a região de Sorocaba. A tendência é cada vez mais essa desconcentração: a Região Metropolitana e em particular a Capital vão sucessivamente se transformar em região de serviços. A tendência da indústria é vir para o Interior, porque, você tem uma estrutura que satisfaz a qualquer necessidade de natureza industrial. Você tem mão de obra, boas estradas, bons aeroportos, a hidrovia Tietê-Paraná, universidades… e tem uma contradição social muito menor no interior do que na capital.

Disparidade social

Repórter – Governador, o Estadão publicou ontem uma pesquisa da Fundação Palmares, sobre a disparidade na área de saúde e educação, em termos de investimentos do governo, e a diferença entre brancos e negros, inclusive a deficiência na política educacional voltada exclusivamente para os negros.

Covas – Nós temos política educacional até para os índios. Todas as aldeias indígenas do Estado de São Paulo, que são 17, têm escola com professor especializado para dar aula para os índios. Portanto, no que se refere a qualquer tipo de discriminação, não existe. Do ponto de vista de investimento, nós tivemos ao longo desse período sete mil salas de aula novas. Isso para mim não é fundamental. O problema de São Paulo não é um problema de prédios e sim de qualidade de educação, que aliás melhorou excepcionalmente e o Saresp mostra isso com absoluta tranqüilidade. Na saúde, eu já entreguei em leitos de hospitais, mais do que o dobro do que a soma dos quatro últimos governos. Só na Região Metropolitana eu já entreguei 11 hospitais, isso somado ao Qualis e ao Dose Certa, constitui uma infra-estrutura para saúde muito significativa. A distribuição de leitos hospitalares por exemplo na Capital, ainda é muito desigual, há áreas em que você tem índices acima da Organização Mundial da Saúde e outras áreas em que não têm nenhum leito.