Trechos da entrevista coletiva do governador Mário Covas concedida após entrega de uniformes no Jard

Parte I

qua, 11/10/2000 - 15h41 | Do Portal do Governo

Parte I

Pergunta: Governador, o Ministério Público Estadual quer processar o secretário Petreluzzi por conta dos gastos com a publicidade daquela taxa telefônica. O senhor como está vendo tudo isso ?

Covas: O melhor teria sido fazer como os outros governadores fizeram. Mandar o projeto para a Assembléia e deixar eles resolverem. Mas, como este governo quer fazer as coisas com transparência, eu disse que só mandava o projeto depois de ouvir o povo. Eu achei que tinha por obrigação explicar para o povo como era o projeto, o que se pretendia fazer. Se pedia R$ 2,50 por mês para quem tivesse telefone e a grande crítica que eu ouvi dos meios de comunicação, em particular do Boris Casoy, era de que o dinheiro iria sumir, como tinha sumido o dinheiro da CPMF dentro do Tesouro. Quando na realidade o projeto era muito diferente, o dinheiro não ia para o Tesouro, mas ficava sob o controle da sociedade e portanto só podia ser utilizado para aquele fim. Isso tudo foi explicado ao povo, foi por isso que se fez a publicidade. O meu governo é acusado exatamente de não gastar dinheiro em publicidade. Quando a gente resolve explicar para o povo, coisa que neste país não é comum, nem por quem está na chefia do Executivo, nem por quem está na chefia do Ministério Público, por ninguém. Todo mundo gosta de falar em nome do povo, mas ninguém quer ouvir o que o povo tem a dizer. Nós fizemos uma publicidade, publicidade não. Nós fizemos uma explicação do que era o projeto, exatamente para mostrar se aquelas críticas que estavam sendo feitas eram ou não procedentes. Aquele era um julgamento que cabia ao povo fazer, tanto isso é verdade que em seguida eu mandei fazer um levantamento da opinião pública e como a maioria da opinião pública ficou contra, eu não mandei o projeto para a Assembléia. Agora, o Ministério Público… é espantoso isso. Maluf está disputando a eleição e a gente é acionado por conta disso. É uma coisa inacreditável, inacreditável. Isso em nome da cidadania.

Pergunta: A Assembléia aprovou ontem um empréstimo que o senhor pediu de US$ 300 milhões.

Covas: Não, é de US$ 120 milhões.

Pergunta: É uma primeira etapa? Para a manutenção das estradas. No entanto, os deputados do PT e do PPB se uniram para votar contra. Com é que o senhor se sente diante dos últimos acontecimentos, tendo em vista as eleições ai?

Covas: Eu acho que na realidade uma coisa e outra não tem nada a ver. Me surpreende é que tenham levado dez meses para votar uma coisa que interessa não ao Governo, mas ao Estado de São Paulo. São US$ 120 milhões que representam R$ 200 milhões e cada R$ 200 milhões que você empresta você tem que por outros R$ 200 milhões para conservação das estradas. O projeto foi dia 18 de janeiro para a Assembléia e foi aprovado agora. A mim não cabe reclamar, a Assembléia tem os seu próprios prazos, tem a sua própria mecânica. Realmente aconteceu isso, além desse prazo demorar dez meses na votação, ontem todo o partido do PT e todo o PPB votaram contra.

Pergunta: Como é que o senhor encara isso?

Covas: Quando eu era deputado, quando eu era senador eu não admitia que alguém contestasse o meu voto. Eu votava como achava que tinha que votar e ninguém tem obrigação nenhuma de ser a favor de nada. Este caso é um caso muito sintomático a este respeito, podia até ter posto lá um dispositivo que dissesse que só se aplicasse no próximo governo. Mas, não esperar dez meses. E a gente está o tempo todo sendo cobrado, porque as estradas vicinais exigem conservação, e é tão difícil a gente obter um empréstimo. Ele tem que passar no Senado, é uma dificuldade sempre, o empréstimo foi negociado lá fora. Vai para a Assembléia Legislativa e ficou dez meses.

Pergunta: Este atraso não é por causa das eleições?

Covas: Não, por causa da eleição não. A eleição aconteceu agora. Não sei porque foi. Na realidade não só eu que tenho que questionar a Assembléia. Eu tenho direito de pedir, e pedir em regime de urgência, para votar em 45 dias. Mas, é preciso dar número para votar e não tendo o número de deputados necessário para votar, não vota. De qualquer maneira cada um tem o direito de fazer como ele quer. Cada parlamentar e a Assembléia no seu conjunto, tem o direito de demorar o tempo que ele entender que deva demorar. Mas eu acho que é uma penalidade para o Estado, sobretudo para a área da Agricultura. Porque isso não vai fazer estradas eixos, estas estão sobre regime de concessão, recebem conservação direta do Estado. Aquilo vai sobretudo garantir as estradas secundárias. Não é nem a construção é a manutenção das estradas. No entanto, ficamos aí dez meses para fazer uma coisa destas, que afinal não é uma questão política, não é questão de ser a favor ou contra. É uma questão que interessa ao Estado. Eu não conheço ninguém neste Estado que seja capaz de dizer que aplicar R$ 200 milhões para a conservação das estradas, sobretudo as que transportam a produção, não seja uma vantagem. Mas, enfim a Assembléia é um poder autônomo e tem o direito de fixar suas próprias regras e seus próprios tempos.

Pergunta: Governador, e a questão do Banespa e a nova suspensão por conta de uma liminar?

Covas: É parece que o Governo Federal tem claudicado um pouco para privatizar. Parece que vão adiar de novo. Uma juíza deu aí outra liminar, a quarta ou a quinta. Tudo começou depois que o homem deu uma multa de US$ 2,8 milhões para o Banespa, ia ser privatizada em dezembro daquele ano. Ele atrapalhou com aquela multa ou seja ele multou o Governo Federal, ele multou seus colegas de ministério, porque o período que ele multou era o período que o banco já estava sob intervenção e foi isso que começou toda a encrenca.

Pergunta: Porque alguns auditores colocam que este vai e vem pode baixar o preço, tirar um pouco o interesse?

Covas: Um banco sob intervenção não está atuando da mesma maneira que atuaria se não tivesse intervenção, é lógico. Quem está tomando conta do banco não faz planejamento para o futuro, mantém o banco, vai tocando. Enquanto isso, os outros que estão com projetos futuros são mais agressivos do que o Banespa, isso é óbvio. E isso vai fazendo com que o banco perca seu valor de venda. Mas enfim, o Governo Federal meio na marra tomou de São Paulo um banco, depois pagou aquilo que era razoável, que me parecia razoável.

Pergunta: Como andam as negociações entre o Governo Federal e o paulista sobre as privatizações no setor de saneamento?

Covas: Eu li hoje no jornal, e me causou surpresa, que o Governo Federal está tentando superar os problemas com o governador Covas.

Pergunta: O que o senhor defende?

Covas: Eu acho que ficar como está, está bom. Nós temos aqui em São Paulo a quinta empresa do mundo, que não era a quinta quando eu assumi, era uma porcaria. Quando assumi as ações da Sabesp valiam R$ 17,00. Nós já fizemos uma venda de 3% das ações na Bolsa, por R$ 314,00. De R$ 17,00 para R$ 314,00. A Sabesp acaba de receber um empréstimo externo com prazo de pagamento de cinco anos, com juros de 11,5 % ao ano, sem o aval de ninguém, nem o Governo do Estado não avaliza. Nem a União, nem o Governo do Estado, é empréstimo direto da empresa para fora. Com isso, vencimentos que ela tinha neste ano vão ser trocados por investimentos para daqui a cinco anos, a juros de 11,5%. O Mercado Financeiro internacional ficou admirado desta operação. Tudo bem, se acham melhor fazer de outro jeito eu não sei quem vai financiar os municípios pobres.

Pergunta: Pelo Governo Federal seria dividido entre o Estado e os municípios?

Covas: Mas, eles querem dividir assim: o Estado aplica na captação e no tratamento de esgotos e os municípios na distribuição e recebem a receita. Eles querem fazer isso? Então mande os municípios desapropriar, comprar a Sabesp, o patrimônio da Sabesp. Este patrimônio é enorme, eles querem entregar para a cidade de São Paulo, para as outras cidades? Muito bem, basta que elas comprem a parte da Sabesp ou então como é que fica este dinheiro que é do povo de são Paulo? Porque um pouco mais de 90% das ações da Sabesp ainda pertencem ao Tesouro, pertencem ao povo portanto. Aí a gente vai fazer isto transformando aquilo que é de todo o povo de São Paulo, para o povo de cada município? Bem, pode ser feito isto, basta comprar. Não, mas não querem isso. Querem de graça e no final eu acho que a tese que prevalece no governo Federal é esta mesmo.

Dentro de instantes segunda parte da coletiva.