Trechos da entrevista coletiva do governador Mário Covas, após solenidade de assinatura de investime

Parte II

sex, 27/10/2000 - 17h28 | Do Portal do Governo

Parte II

Repórter – É uma espécie de 14º salário professor?

Covas – Não, eu não diria isso porque ele tem uma finalidade diferente do 14º salário, que é igual para todo mundo. Isso é um bônus que é dado em função da produtividade de cada um.

Repórter – É uma espécie de incentivo?

Covas – É uma espécie de incentivo. Bem, esse ano está feito. É muito provável que o ano que vem se faça também. O que está sendo firmado agora é um bônus para este ano.

Repórter – O senhor acha que este valor é uma vitória do governo?

Covas – Não. Não tem vitória do governo. O que se está tentando é melhorar a educação. Isso aqui os vários níveis de magistério, ou até de auxiliar de educação vem pedindo ao longo do tempo. Esse é o resultado de um instante em que atender é possível. Mas o bônus do mérito não fica só nos diretores. O bônus fica no instante em que mais R$ 137 milhões serão distribuídos entre os professores com valores que vão variar de R$ 500,00 a R$ 1.500,00. E que também tem os mesmos padrões de avaliação, que é a qualidade e a eficiência. Por outro lado, nós estamos abrindo concurso para diretores, mais 2.860 vagas. Esse na realidade não tem gastos, porque alguém está ocupando o lugar de diretor, portanto este alguém está ganhando, o que vai acontecer agora é que quem vai ocupar é alguém que passou por concurso e é efetivo. Depois nós vamos aplicar R$ 28 milhões em capacitação dos profissionais da educação. São vários cursos de gestão, de informática educacional, aí variando desde os funcionários auxiliares até os diretores. E outros R$ 5 milhões serão objetos da construção de dez centros de capacitação, alguns dos quais já começaram a funcionar. E, finalmente, mais R$ 40 milhões em formação universitária, feita através de convênios com as universidades públicas e privadas. Aí se concentram os R$ 290 milhões.

Repórter – A partir de agora o senhor vai priorizar a educação, ou não há prioridades no governo do senhor?

Covas – A Educação sempre foi prioridade. Tanto sempre foi prioridade que os níveis salariais hoje são substantivamente maiores do que a inflação nesse período. Os aumentos dados foram bem maiores e em alguns casos muito maiores. Mais de 70% de aumento real e 140% de aumento nominal.

Repórter – Esses números a mais representam um aumento na porcentagem do que o governo aplica mensalmente na Educação?

Covas – Na porcentagem, não. Continuamos aplicando o mínimo de 30%, sendo que no ensino universitário nós aplicamos 9,57% dos 30%.

Repórter – Então não representa acréscimo no percentual?

Covas – No percentual não. Representa acréscimo de dinheiro.

Repórter – É proporcional ao aumento da arrecadação?

Covas – Um pouco maior que o proporcional ao aumento da arrecadação. Mas nós somos mesmo obrigados a aplicar, pelo menos, 30%.

Repórter – Com esses investimentos o governo vai estar investindo mais de 30%?

Covas – Ele sempre investe mais do que os 30%. O único que não acha isso é aquele deputado…, como é o nome dele?

Repórter – Calegari.

Covas – Calegari. Mas nós sempre investimos mais que 30%. Está na avaliação de contas feita pelo Tribunal em todos os cinco anos de governo. Nós sempre investimos um pouco mais do que 30% e agora vamos ficar com uma dificuldade um pouco maior porque nós temos que gastar 30% com a Educação, 12% na Saúde, nós gastamos 1% com a Fapesp, 1% para a CDHU, 13,5% para pagar a dívida com o Governo Federal…

Repórter – E a folha de pagamento?

Covas – A nossa folha de pagamento é de R$ 1,100 bilhão por mês.

Repórter – Isso aumenta também a folha de pagamento mensal?

Covas – Aumenta. O que é pagamento para os professores aumenta. O que é benefício para os estudantes, não. Aí é custeio, investimento. Mas o que é pagamento para o pessoal, aumenta.

Repórter – Quanto aumenta na folha ?

Covas – Total ou da Educação?

Repórter – Educação.

Secretária Rose – A folha da Educação é de R$ 5 bilhões por ano.

Covas – Então, com aumento de R$ 200 milhões dá um aumento de 4%.

Repórter – Governador, haverá urgência para votação na Assembléia Legislativa?

Covas – Eu tenho impressão que com esse tema ninguém vai ficar contra. Não vejo a Assembléia contrária a que se dê aumento, que se premie quem trabalhe, que se procure dar os melhores salários possíveis. Não creio que haverá dificuldade para aprovação dessas coisas na Assembléia. Até porque não se pode nem dizer que ela tem sentido eleitoral. Se eu fizesse isso há um mês atrás, antes da eleição, provavelmente favoreceria nosso candidato. Mas não tem nenhuma relação uma coisa com outra. O projeto do (inaudível), por exemplo, acabou de ser aprovado na Assembléia há dois dias. Já tinha sido mandado antes, ele nos tornou possível algumas das medidas. Há medidas que não têm a ver com salários, são as medidas que beneficiam diretamente o estudante. São R$ 310 milhões, 50 mil novas vagas em cursos profissionalizantes. Nós pretendemos abrir aqui em São Paulo e na Região Metropolitana 50 mil novas vagas em cursos profissionalizantes, o que implica em R$ 50 milhões. Depois vamos investir R$ 30 milhões em informática educacional. Ou seja, no aparelhamento de 1.300 novas salas de informática beneficiando 1,7 milhão de alunos. E R$ 200 milhões na expansão do Ensino Médio, construção de escolas e melhoria da qualidade de ensino, de laboratórios, bibliotecas, etc. E, finalmente, na cobertura de quadras de esporte, que é uma demanda muito acentuada em todas as escolas. A gente chega no Interior, há muito pouco lazer. A escola é um centro não apenas educacional, mas de uma série de outras atividades e é muito comum os alunos se juntarem e pedirem para cobrir a quadra de esportes. Porque eles têm a quadra de esportes, mas chovendo eles não podem usar. Isso é muito solicitado e é uma coisa razoavelmente barata. Então nós pretendemos cobrir 917 quadras, com um total de R$ 30 milhões.

Repórter – Não o dinheiro da folha de pagamento, mas do investimento direto para as escolas em projetos. Esse dinheiro vai ser administrado por quem? Pelas próprias escolas, pela delegacia de ensino, pela Secretaria? O investimento nas quadras…

Covas – Bom, nas quadras, em geral, a gente até faz pelas escolas. A gente dá o dinheiro diretamente para as escolas.
Rose Neubauer – A compra dos laboratórios de informática também vai direto para as escolas.

Repórter – É a APM, é o conselho da escola que …

Covas – É. Há um dado interessante de ser lembrado. Durante o período do Governo anterior, em quatro anos, foram enviados para as escolas R$ 16 milhões para que as escolas dispusessem diretamente disso em obras imediatas como conserto de vidros, etc. Ou seja, R$ 4 milhões por ano. Nos primeiros quatro anos do meu Governo nós mandamos R$ 400 milhões, ou seja, foram R$ 100 milhões por ano que hoje são usados diretamente pelo consórcio entre a direção da escola e a Associação de Pais e Mestres. De forma que hoje, se vocês encontrarem uma escola com vidro quebrado, é desleixo. Porque não há razão para o vidro estar quebrado, já que a escola recebe o dinheiro para fazer isso diretamente, não precisa vir a São Paulo para fazer um longo percurso de papel para fazer esse conserto. Alguns até escolhem outra finalidade. Alguns fazem sistemas de alerta, sistemas de controle de pessoas externas, enfim, eles decidem – a direção da escola e a Associação de Pais e Mestres – qual a melhor maneira de aplicar o dinheiro, onde ele é mais necessário. Isso tem dado um excelente resultado porque facilita muito a manutenção da escola.

Repórter – Com relação a esse bônus anual que está sendo instituído por produtividade pelo Governo do Estado, eu gostaria de saber se há estudos para estender esse benefício a outras categorias do funcionalismo estadual também?

Covas – Têm categorias que de alguma maneira já tem isso, ou senão isso, coisas parecidas com isso. Mas isso aqui está referenciado à educação.

Repórter – Não há um temor que as outras categorias reclamem o mesmo benefício?

Covas – O mesmo benefício? Mas as outras categorias foram beneficiadas com R$ 800 milhões esse ano. Esse ano, no primeiro semestre, com o aumento que nós demos, que foi dado para todos os funcionários do Estado. Até a Educação não foi a que mais recebeu. A Educação recebeu R$ 60. Os outros funcionários receberam R$ 60 também. A polícia recebeu R$ 100 por funcionário. A Saúde recebeu R$ 60 também. Isso demandou R$ 800 milhões no ano e era o que a gente podia naquele instante, depois do primeiro semestre, a avaliação do comportamento da Receita naquele dia admitia uma previsão que não ultrapassava esse valor de aumento de arrecadação. No segundo semestre melhorou isso. Isso num setor até nos deixa balizado por uma determinação constitucional que a gente tem que aplicar 30%. Reivindicação sempre há e de todo mundo. Não tem dúvida.

Repórter – Falando em polícia, o senhor teme que a greve que está em Recife e Curitiba chegue à São Paulo?

Covas – Não, nem vejo o porquê. Aqui os salários são bem diferentes de lá. Quando assumi, o salário inicial de um policial era de duzentos e poucos reais. Hoje, aqui na Capital de São Paulo, o salário inicial passa de R$ 950. É um aumento de quase quatro vezes o que era.