Trechos da entrevista coletiva do governador Mário Covas, após liberação de R$ 9 milhões para a cult

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ter, 14/11/2000 - 18h32 | Do Portal do Governo

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Sobre a ida de Marta Suplicy a Washington

Repórter: A prefeita eleita está em Washington para se reunir com executivos do BIRD, para um possível empréstimo, possível financiamento para São Paulo… Só que estes empréstimos teriam de ter aval do Governo Federal ou Estadual. O senhor estaria disposto a dar este aval?

Covas: Não. Não porque na hora que eu der aval, isso vai representar compromisso meu. Não posso eu pedir empréstimo, porque isso entra como compromisso. Quem dá aval … O Estado não é avalista normalmente, a não ser das suas empresas. Quem é avalista normalmente é o Governo Federal. Se o Governo nos liberar e, isso não representar endividamento, não terei dúvida em fazer isto. Mas se representar endividamento eu sou obrigado a não fazer empréstimos por conta disso.

Repórter: Para encerrar, já que falamos em eleições, quem vai ganhar as eleições nos EUA?

Covas: (Risos) Isso é uma incógnita. Acho que nem eles sabem, não é? O que é interessante é que o mundo vai ganhando tecnologia e cada vez vai ficando mais difícil as coisas andarem direito, não é? Eu acho que os americanos devem estar sem graça, para dizer o mínimo, sobre o que aconteceu. Foi uma, uma … Em São Paulo, uma hora depois do encerramento das eleições a gente já sabia o resultado, claro não é uma eleição nacional, mas …

Repórter: … governador, o Zeca do PT, governador do Mato Grosso do Sul, declarou hoje que seria muito interessante, e o PT pensa, numa coligação com o PSDB para 2002, tanto para presidente quanto para governador. Como liderança do partido, queria saber como o senhor avalia essa declaração?

Covas: Acho difícil isso vir a acontecer. Na eleição em dois turnos é muito difícil de se ter alianças nacionais em todos os Estados, ainda para presidente da República no primeiro turno. Acho muito difícil isso.

Repórter: Com essa mudança do PT o senhor acha que está havendo uma aproximação com o PSDB?

Covas: O PT mudou?

Repórter: O senhor acha que não?

Covas: Não sei, quero vê-lo no governo. Espero que o partido mude, algumas indicações se tem nessa direção. O próprio Zeca do PT deu lá uma de neo-liberal. Quando nós estamos fazendo somos neo-liberais, quando ele faz não é. Ele botou uma porção de gente na rua, eliminou uma porção de cargos. No que ele age está absolutamente certo, só que quando a gente faz isso somos neo-liberais.

Repórter: Isso da Marta ir buscar dinheiro essa semana em Washington mostra uma postura do PSDB que eles tanto criticam e agora estão adotando?

Covas: Mas isso é assim, gente. Estar no Governo é diferente de estar na oposição. É muito difícil as pessoas de Governo e da oposição terem o mesmo tipo de conduta. Não há nada de novidade nisso, sempre foi assim e vai continuar assim.

Repórter: Isso aproxima os dois partidos para 2002 ou não?

Covas: Não. Pode haver coligações em certos Estados, onde os dois partidos tenham mais votos. Em outros não têm, não é … Você imaginar no próprio monolítico valendo para o País inteiro! Isso é, acho difícil acontecer. É uma manifestação de intenção, de qualquer maneira.

Repórter: Sobre a Câmara Municipal, o senhor acha que o PSDB tem legitimidade para pleitear a Presidência da Casa?

Covas: Olha, uma das coisas que eu mais gostei no Congresso Nacional foi o fato de que os cargos da Mesa são por votos de proporcionalidade. E quando eu cheguei lá, estava acostumado a ver eleição lá na minha terra, em Câmara de Vereadores, onde sempre o eleito era o que não pertencia a nenhum dos dois grupos. Tinha 21 vereadores: 10 ficaram de um lado e 10 do outro e quem acabava eleito era que não pertencia e nenhum dos lados, para ninguém perder. Quando cheguei no Congresso, uma coisa me pareceu inteiramente adequada: é que os cargos da Mesa eram distribuídos pelos partidos conforme os votos que tinham recebido. E a escolha dos candidatos era interna nos partidos. Às vezes, até um mais afoito resolvia ser candidato contra um que foi escolhido, e era normalmente derrotado, porque era uma aceitação. E só mudou quando Bilac Pinto foi eleito presidente, durante a fase da ditadura. Portanto, eu acho que, tradicionalmente, o cargo é dado ao partido majoritário.

Repórter: Então deve ficar com o PT?

Covas: Mas é lógico isso. Pelo menos na minha lógica.

Repórter: Governador, o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, disse que a base governista deve ter um candidato no segundo turno para Presidência, um candidato …

Covas: Todo mundo acha isso. Eu só quero saber quem é o candidato.

Repórter: O senhor acha que, mesmo com a briga entre os senadores Jader e ACM, vai dar para ter um candidato só?

Covas: Eu sempre achei que iria ser difícil se chegar na eleição, cansei de dizer isso – mas às vezes, mal interpretado, como se fosse um desejo. Na realidade, o que acontece é que, a eleição é o instante em que põe o candidato na rua. Esse é o instante em que os partidos se afirmam com as candidaturas. Portanto, é muito difícil que chegue na eleição e os partidos abram mão… Eu acho difícil que o PSDB não tenha um candidato, porque o presidente da República é do PSDB e, portanto, teria que ter. Tanto o PFL quanto o PMDB não abrem mão de ter candidato.

Repórter: O senhor acha provável?

Covas: Não sei lhe dizer, mas acho difícil. De qualquer modo, o argumento de quem diz isso é que, se não fizer isso, corre mais riscos de não ganhar a eleição.

Repórter: O senhor também pensa assim?

Covas: Se você tiver mais gente apoiando, corre-se menos risco mesmo. Mas eleição é como tudo: depende do sacrifício que se faz, depende do que você está comprometendo.

Repórter: Pela sua lógica de maior bancada, o deputado Aécio Neves não deveria ter sido lançado candidato?

Covas: Não, o PSDB tem a maior bancada.

Repórter: Não é do PFL.

Covas: Não senhor, o PSDB tem a maior bancada.

Repórter: Se somado ao PTB então?

Covas: Não senhor, só o PSDB.

Repórter: São 103 deputados?

Covas: Sim, contra 102.