Trechos da entrevista coletiva do governador Mário Covas, após liberação de R$ 9 milhões para a cult

Parte I

ter, 14/11/2000 - 16h04 | Do Portal do Governo

Parte I

Sobre a liberação de verbas de R$ 9 milhões para a Cultura

Pergunta: Governador, o senhor vai liberar mais R$ 20 milhões de reais, em dois anos, para a Cultura?

Covas: É, pelo menos isto.

Pergunta: De onde é proveniente esse dinheiro?

Covas: Todo dinheiro é do ICMS.

Pergunta: É do Refis?

Covas: O Refis é responsável por parte do excesso de arrecadação, sem dúvida. Nós recebemos uma boa dose de recursos que estavam atrasados e foram pagos com refis. Mas, independente disto, a arrecadação tinha crescido já. Isto é fruto do excesso de arrecadação.

Sobre denúncias do suposto caixa 2 da campanha de FHC

Pergunta: Como o senhor está acompanhando esta denúncia da Folha de S. Paulo da existência do suposto caixa 2 da campanha da reeleição do presidente Fernando Henrique?

Covas: Como você deve estar acompanhando. Eu li o que saiu ontem no jornal e vi o que falou o Bresser, e li o que falou um procurador da União. Não tinha nenhuma razão para tocar isso para frente.

Pergunta: O senhor não acha que isto não aconteceu. Obviamente o senhor não tem essa posição por quê?

Covas: Por quê eu devo ter uma posição contrária?

Pergunta: O senhor é uma liderança e eu gostaria de ouvir a sua opinião sobre essa denúncia que está atingindo a campanha para reeleição.

Covas: Se a denúncia for verdadeira, que se prove a denúncia. Aqui neste País nós acostumamos agora que quem é o acusado é que tem que se defender. Tem que provar que não é culpado. Não. Quem quer acusar que acuse e prove.

Pergunta: Aquelas planilhas não provam nada?

Covas: Nem sei que planilha. Não vi nenhuma planilha, não sei nem se tem planilha. Mas afinal não é um assunto que me interesse muito não. Quando fui candidato no último ano, há dois anos atrás, o Maluf apresentou como conta um milhão.

Pergunta: Esses fundos, caixa 2, doações não declaradas, seriam práticas comuns nas eleições?

Covas: Se houver, deve ser.

Pergunta: O senhor acha que é comum?

Covas: Eu não acho nada. Ou vocês querem que eu subscreva uma denúncia que foi feita pelo jornal? Quem faz a denúncia, prova a denúncia e ponto final. E se provar vão dizer para vocês que está errado e se não provar por quê que eu vou discutir este assunto?

Pergunta: Mas o senhor já fez várias campanhas como candidato. É comum se fazer um caixa 2?

Covas: Eu só falo pela minha campanha, não falo pela dos outros. Na minha campanha não é comum se fazer isso, mas é como eu te digo, na última campanha se for ver na justiça eleitoral quanto cada um apresentou de gastos, o Maluf apresentou um milhão de gastos. Um milhão não paga nem o programa de televisão.

Pergunta: Agora mesmo sendo uma prática comum, o senhor considera aceitável que se faça isso?

Covas: Não é aceitável não. Isso é proibido, é ilegal.

Pergunta: O senhor acha que a campanha do presidente custou apenas R$ 43 milhões como está declarado no Tribunal Superior Eleitoral?

Covas: Pelo custo das minhas campanhas acho que é bem razoável o custo.

Pergunta: Quanto custou a sua campanha para eleição?

Covas: Não tenho a menor idéia. Mas é exatamente aquilo que está no Tribunal.

Pergunta: Mas de qualquer forma governador, havendo ou não irregularidades, o presidente Fernando Henrique tem que ser eximido de qualquer responsabilidade?

Covas: Nem acho que tenha responsabilidade para eximi-lo.

Pergunta: Mas a lei eleitoral diz que a responsabilidade é do candidato.

Covas: Tudo bem, pode cometer algum erro.

Pergunta: Mas a gente está falando na hipótese de essas planilhas serem…..

Covas: Ah, na hipótese? Na hipótese nós conversamos. Se a hipótese se configurar nós conversamos. Eu não sou de fugir das coisas. Eu não aceito é discutir uma coisa que não foi provado.

Pergunta: O senhor não acha que este tipo de denúncia desgasta o PSDB? O senhor que é uma liderança do partido?

Covas: Olha…. tem um candidato que recentemente foi cobrado, dois anos depois da eleição, pelas contas da empresa que fez a …. O valor da cobrança era praticamente igual ao valor que foi declarado como despesa. Só a televisão.

Pergunta: Que candidato?

Covas: O jornalista é você. Vai atrás. Eu não corro o risco de cometer injustiça, eu estou fazendo meu raciocínio mas não corro o risco de fazer nenhuma acusação a ninguém.

Pergunta: Qual a solução para evitar essa série de problemas?

Covas: A solução é inviável. A solução é você financiar a campanha. Agora fala para o povo que você vai financiar a campanha de candidato? O único jeito de você evitar essa coisa é…. Todo mundo o que faz numa campanha é aquilo que a lei permite. É receber donativo. Seis meses depois o jornal sai com a relação de quem deu donativos na tua campanha como se tivesse anunciando um crime. E na realidade é o que a lei determina.

Pergunta: O senhor diz mas para explicar isso para o povo, então há uma espécie de hipocrisia por parte da classe política?

Covas: Não. A classe política até sustenta que deve ser isso. Eu acho inviável. Eu não vejo que o povo aceite fazer isso.

Pergunta: Qual é a solução?

Covas: Não tem solução. Você vai continuar com uma lei e essa lei todo mundo deve cumprir. Mas não acho que isso não leve fatalmente a alguns desenganos. Leva.

Pergunta: Este tipo de denúncia o senhor concorda que desgasta o partido? A figura do presidente envolvida?

Covas: A denúncia desgasta sempre. Se ela é verdadeira ou não é outra conversa.

Pergunta: Mas assim há um desgaste público do partido?

Covas: Se ela for verdadeira, ela passa a ser um desgaste. Se não for verdadeira, quem a fez não é desgastado. É impressionante isso.

Pergunta: Só para entender, o senhor então não defende o financiamento público das contas….

Covas: Não. Eu defendo sim. Mas não acredito que seja viável. É a única maneira de você dar igual para todo mundo ou proporcional para todo mundo. E por outro lado, não tem que ninguém ficar devendo nada a ninguém. Você nunca pode dizer que alguém foi ajudado na campanha e portanto vai favorecer quem o ajudou. Só que eu não vejo que o povo aceite a idéia de que ele ainda deve pagar imposto para financiar campanha eleitoral.

Pergunta: O Congresso acaba aprovando muitas coisas que o povo não aceita?

Covas: Está muito bom. É possível que aprove, mas até agora não teve coragem de aprovar.

Sobre o evento

Pergunta: O ministro da Cultura disse que, com a iniciativa de hoje, o Estado de São Paulo passa a nortear um novo rumo para a Cultura. Gostaria que o senhor comentasse isso.

Covas: Eu acho que a gente tem feito na área cultural uma série de obras ao longo do tempo. Nós fizemos a recuperação do arquivo municipal, do arquivo estadual. O arquivo vivia num prédio caindo aos pedaços. Tinha um prédio parado desde o tempo do Montoro, nós terminamos a obra e hoje você tem talvez o segundo arquivo do Brasil. Nós fizemos a obra do Teatro São Pedro, que é o segundo teatro mais antigo de São Paulo. Nós fizemos a obra da Pinacoteca, nós fizemos a obra da aquisição da Vera Cruz, nós fizemos a Sala São Paulo. Quer dizer, nós temos feito uma série de obras ligadas a Cultura, que implicam investimentos. É pouco mais ou menos nós temos oferecido recursos. Neste ano, foi um recurso mais substancial e a gente espera que possa crescer ao longo do tempo. Afinal, o dinheiro para Cultura não é nenhuma coisa extraordinária. É um valor para o resultado, para aquilo que tem de retorno para a sociedade, é um custo benefício muito bom.