Trechos da entrevista coletiva do governador Mário Covas após inauguração do Programa Disque-Denúnci

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qua, 25/10/2000 - 18h53 | Do Portal do Governo

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Disque-Denúncia

Pergunta: O senhor acha que essa denúncia vai diminuir a criminalidade e colocar mais foragidos e bandidos na cadeia?

Covas: Bom, ele é um instrumento. Não é o único instrumento mais é um instrumento adicional. Um instrumento que eu entendo significativo porque dá oportunidade de participação popular. O Disque-Denúncia não é a mesma coisa que o 190. O 190, o cara está pegando fogo na casa, telefona para o 190, não vai telefonar para aqui. Aqui quando o cara fala, num bar na rua tal tem ponto de droga. Não dá para você entrar nesse bar e prender quem está lá dentro. Você tem que acampar, precisa botar a polícia lá durante uns dias verificando, até poder agir. Já quando se trata de uma intervenção imediata o que funciona não é o Disque-Denúncia, é o 190. Aí se trata de intervenção imediata, mas aqui como você opera com o pessoal que está atendo para manipular tecnicamente a denúncia, e isso é imediatamente passado para o grupo da polícia que está aqui permanentemente. Esse grupo direciona em função da urgência ou do tipo de ação que decorre daí. Mas acho que é um instrumento bom, sobretudo para sociedade que vai ter participação.

Cirurgia do governador

Pergunta: Qual a expectativa do senhor com a sua cirurgia?

Covas: A minha expectativa? É que eu fique bom. Não tem outra expectativa para quem vai fazer uma cirurgia. Quando você for mamãe você vai ver como você vai torcer do mesmo jeito.

Disque-Denúncia

Pergunta: Que tipo de delito o Disque-Denúncia deve receber?

Covas: Qualquer uma. Eu não sei. Estive vendo agora lá em cima, durante o tempo que estávamos lá, chegaram 30. Ou seja, mesmo sem grande publicidade já tem uma participação grande. Alguns deles estão mal direcionados. Por exemplo: está passando um carro aqui na esquina. Isto não é o Disque-Denúncia que vai resolver. Isso implica em… vai ajudar e muito. É uma grande iniciativa. E tendo em vista a origem, que é uma participação que nasceu lá atrás num debate que houve aqui em São Paulo, participação da mídia, um debate sobre o problema da violência e de como ela pode ser combatida, eu acho que é uma iniciativa muito boa. Ela não vai sozinha resolver tudo.

Pergunta: Como vai ser feita a avaliação do Disque-Denúncia? Terá reuniões mensais?

Covas: As pessoas que fazem as denúncias, no instante que fazem as denúncias recebem um número, uma senha. E a qualquer momento, discando esse número, elas podem receber informações sobre o andamento da denúncia. De forma que elas mesmas podem ser as fiscalizadoras daquilo que denunciaram. Elas não precisam ter dito o nome para receber esse número. Mesmo um anunciante anônimo pode receber essas informações. É a contrapartida que a gente tem a obrigação de dar para a pessoa que afinal fez a denúncia e portanto merece a consideração da informação.

Repórter – Muita gente que mora principalmente na periferia tem medo de denunciar. Que recado o senhor daria a essas pessoas que sabem onde são os pontos de droga, quem são os grandes traficantes e bandidos?

Covas – Eu acho que se essa pessoa fizer uma denúncia, ela vai ter consequências, mesmo que não seja instantânea. Há denúncias que não podem ter resultados instantâneos. Por exemplo, “tem uma pessoa que toda noite passa aqui se põe na esquina e fica vendendo droga”. Não para você ir lá e prender o primeiro cidadão que passar na esquina. É preciso fazer o trabalho policial, que é de averiguação, de ficar lá vários dias, até poder comprovar que aquilo existe e aí, toma-se providências. As pessoas podem até pensar, eventualmente …. Isto não substitui o 190, quer dizer a medida instantânea. Mas como se tem aqui a área policial trabalhando em conjunto, temos permanentemente duas pessoas da Polícia Civil e duas da Militar: um delegado e um oficial, 24 horas por dia nos sete dias da semana. De forma que, instantaneamente, o que vem no Disque-Denúncia passa para eles e eles passam para os lugares que devem operar.

Repórter – À população que tem mais medo da violência e sofre com tudo isso, que recado o senhor dá a essas pessoas?

Covas – Olha, eu diria que as pessoas têm razão de ter essa preocupação. Não discordo delas não. Mas acho que elas podem fazer isso de forma adequada, podem fazer isso anonimamente, não precisam fazer de casa, venham um dia até o centro da cidade e podem usar um orelhão. Enfim, tem várias maneiras de contribuir para isso sem se expor a riscos, ninguém quer transferir para a sociedade um problema adicional, pelo contrário. Mas por outro lado, a gente quer inclusive passar a idéia de que há como o cidadão contribuir para diminuir a violência.

Repórter – Governador, tem mais credibilidade um serviço como este, feito por um instituto independente, em relação aos outros serviços da Polícia Civil e Militar?

Covas – Não, não é isso. Se a Polícia Civil ou Militar fizesse, teria também. Mas o instituto existe, quer ajudar e eu não vejo porque não devo deixar ajudar. A própria ajuda do instituto é uma demonstração de participação. Acho isso muito bom, não é nem tanto o que vai custar, nós não teríamos dificuldades de fazer o serviço. Mas eu acho muito positivo porque é um instituto que nasceu de um longo debate, já feito há dois anos, ele foi amadurecendo e hoje está se transformando em realidade. E eu acho isso muito positivo.

Licença/Domingo

Repórter – Tem alguma novidade sobre sua licença ou não? Ainda está na dependência dos médicos …

Covas – Não sei. Enquanto eu não tiver noção do tempo que vou ficar envolvido nisso, eu permaneço. Aliás, quero ver se eu puder, permaneço sempre.

Repórter – Como vai ser o domingo do senhor, vai votar, vai percorrer alguns locais?

Covas – Não, eu vou votar. Eu quando vou votar demoro duas horas porque vocês estão lá, tem uns amigos que sempre estão passando por lá.

Repórter – Não é para escolher o candidato que o senhor demora duas horas, não é governador?

Covas – Não, eu não. Voto até depressa. Voto com medo de vocês acharem que eu não sei votar, então eu voto rapidamente.

Repórter – Os médicos explicaram ao senhor como vai ser a cirurgia exatamente?

Covas – Olha, eu até acho que não vai ser tão imediata como eu pensei. Porque o pessoal que fez a operação do coração quer fazer uma angioplastia antes, por segurança. E sempre existe um intervalo de tempo, cerca de três ou quatro dias, entre fazer isso e… Como vou fazer isso segunda-feira, é possível que semana que vem eu ainda esteja na ativa.

Eleições

Repórter – Que resultado o senhor espera da eleição de domingo?

Covas – Eu acho que a Marta ganha a eleição. Acho que ela ganha.

Repórter – Com folga?

Covas – O que você chama com folga? Quem é candidato quer ter todos os votos. Mas eu acho que ela ganha com uma certa tranquilidade sim. Não vejo margem … As variações que estão havendo são menos queda dela que um aumento do Maluf. Ela praticamente é mantida numa posição sólida, acho que não tem … Mas eleição não adianta a gente falar. Eleição tem que correr atrás do eleitor até terminarem as urnas.

Repórter – O senhor acha que ela ganhando é o fim do malufismo, governador?

Covas – Não, o fim do malufismo … Vocês fizeram essa pergunta quando terminou a minha eleição e eu disse para vocês que não achava não. E continuo dizendo que não acho. O Maluf dispõe de alguns insumos que na eleição são poderosos.

Repórter – Quais?

Covas – Dinheiro, por exemplo.

Repórter – Quando acaba o malufismo então governador?

Covas – Essa é uma coisa que a gente não fala porque não é agradável, sobretudo para quem vai fazer uma operação, como eu.

Violência

Repórter – Governador, nós fizemos uma série de reportagens sobre a cidade. Muitos problemas apontados foram em relação à violência. O Governo estuda alguma providência ou medida emergencial, além desse Disque-Denúncia?

Covas – Bom, mas esse Disque-Denúncia é uma medida, entre várias que já foram tomadas. A Polícia nunca esteve tão equipada quanto agora. Eu, quando assumi, não chegava a 80 mil o número de policiais. Hoje nós temos 83 mil policiais militares, temos 120 mil homens, somando Polícia Civil e Militar. Nunca eles tiveram tanto equipamento, tanto carro, tanta coisa à disposição. Hoje, um cara para entrar na Polícia como soldado tem que ter o segundo grau. Hoje os policiais têm seguro de vida. Nós demos uma série de instrumentos destinados à operação. Hoje nós temos um sistema informatizado pelo qual se identifica em cada local da cidade onde se cometeu um crime, aquilo fica arquivado. Enfim, se tem um controle geral. Temos um mapa da criminalidade em cada instante, em cada momento, a que horas aconteceu, que tipo de crime foi, em que canto da cidade ocorreu. Ou seja, temos um arsenal cada vez maior e instrumental para combater a criminalidade. Eu diria que a Segurança Pública melhorou e muito. A violência é que aumentou.

Carandiru

Repórter – Ontem teve uma briga feia no Carandiru e segunda-feira numa penitenciária do Interior do Estado. Tem alguma outra medida para tentar amenizar essas medidas? O senhor acha que a ociosidade dos presos gera mais violência, se eles tivessem mais atividades …

Covas – Mas eles têm bastante atividade. Se você estivesse na inauguração do último centro de detenção iria ver uma demonstração daquilo que hoje já é produzido nas penitenciárias. Hoje têm várias delas com indústria dentro das suas instalações. E várias delas onde há trabalho para fornecimento às indústrias. O preso ganha, inclusive, a redução de um dia de pena por cada três dias trabalhados. Eu acho que hoje tem um processo … São 42 mil presos no Estado trabalhando hoje.

Repórter – Como é que o senhor arruma forças para tudo isso?

Covas – Sei lá como a gente faz. A gente não escolhe isso. Acontece. Tem que fazer. O que vai fazer? Não pensem que eu estou contente, eu não gostaria que acontecesse, mas se tem de ocorrer. Tanta coisa vem para a gente sem pedirmos e vem para gente porque temos de passar certas provações. Eu tenho tanto a agradecer pelas coisas que já recebi. Você não tem idéia, a política tem muita coisa ruim, mas tem algumas coisas boas. Quando eu fiz a outra operação teve um padre que foi rezar uma missa à noite, na véspera de Natal, e com uma população lá da Zona Leste. Essas coisas a gente carrega a vida inteira e elas cobrem qualquer aborrecimento que se tenha, eles não são pequenos, mas se têm essas compensações. É… tem que enfrentar, tem que enfrentar. Não falem que eu sou corajoso porque isso é papo. Estou com o mesmo medo que qualquer outro estaria. Vou torcendo, rezando para não acontecer. Mas eu sou é um pouco engenheiro, sem tem que fazer, tem que fazer e pronto.