Trechos da entrevista coletiva do governador Mário Covas após entrega de viaturas para a Rota

Parte I

ter, 25/01/2000 - 15h04 | Do Portal do Governo

Eleições

Repórter: Governador, e a sua candidatura presidencial, como vai ser?

Covas: O quê?

Repórter: O ministro José Serra parece que também é um provável candidato, o que o senhor acha disso?

Covas: Eu o acho muito bom candidato. Muito bom candidato.

Repórter: Ele disse que o senhor também é um bom candidato.

Covas: Eu também sou um bom candidato, só que eu não sou candidato.

Repórter: O governador Tasso Jereissati disse hoje no Jornal do Brasil que o senhor é o candidato natural do partido.

Covas: Tá bom, então eu sou o candidato natural só que eu não sou candidato.

Repórter: E ele disse também que o Ciro é um excelente candidato.

Covas: Eu também acho que o Ciro é um excelente candidato. Não é o meu candidato, mas é um excelente candidato.

Repórter: … do presidente Fernando Henrique com o Ciro Gomes?

Covas: Muito bom. Eu não vejo nenhum mal nisso. Não vejo mal nenhum que o Lula se aproxime do presidente, que o Ciro, quem quer que seja se aproxime do presidente. Quem quiser ajudar, vem bem. Agora, eleitoralmente, é óbvio, cada um vai torcer para o candidato do seu partido. Eu tenho um enorme apreço pelo Ciro, tenho grande amizade. Quando ele saiu do partido, me manifestei dizendo que achava que um partido bom não perde um quadro daqueles. E, onde encontrar com ele, faço a maior festa para ele porque tenho muito apreço por ele. Gosto muito do Ciro. Não quero discutir se vai ser um bom ou mau candidato porque não tem lógica isso. Imagino até que se ele for eleito não será mal candidato. Mas não é isso que está em jogo. Infelizmente, meu candidato será o candidato do PSDB.

Repórter: …. o ministro Serra também seria candidato?

Covas: Olha, o Serra ainda ontem esteve comigo. Ele estava até meio preocupado com essa notícia que tem saído no jornal. Porque essas coisas a gente não cria. De repente, algum de vocês resolve falar que a gente é candidato e no dia seguinte, vocês todos correm em cima da gente para confirmar ou desmentir. E durante uma semana isso vira notícia. O Serra, sem dúvida, é um bom nome. Não há como negar. Está fazendo uma excelente passagem pelo Ministério da Saúde. Portanto, tem todas as credenciais para isso. Tem bagagem, tem experiência parlamentar e de executivo. Isso quer dizer que eu vou defender o Serra? Eu vou defender quem for o candidato do PSDB. Acho que se for o Serra, está preenchendo bem. Acho que se for o Tasso está preenchendo bem. E acho até que o partido tem outros nomes que podem preencher bem.

Repórter: Mas o senhor descarta a possibilidade da sua candidatura, governador?

Covas: Sim, senhor. Mas acho que é a décima vez que você me pergunta isso.

Repórter: Mas quando vai ser definido isso?

Covas: Lá para adiante. Logo que essa história começou, eu falei: não é hora de estar discutindo isso. Nós temos inclusive eleição para prefeito antes. O governo está no começo. O Governo Fernando Henrique terminou o primeiro ano agora. Vai se discutir eleição?

Repórter: Isso pode prejudicar o Governo?

Covas: Não é que prejudica o Governo. Prejudica a aliança. Prejudica o clima político, porque em vez de você estar discutindo os problemas do país, você fica discutindo eleição. E eleição é lá em 2002, tem muito tempo para discutir. Tem muito tempo para escolher candidato. Ainda tem uma eleição antes dela, uma eleição importante de prefeitos, prefeitos de capitais etc. Portanto, não tem muita lógica ficar discutindo isso agora. Agora, é inevitável porque se especula sobre isso e começa a se falar fulano é, sicrano não é, faz casamento, já põe a pessoa de parceria com outra, já fazem as ligações, fazem tudo. Tudo bem que vai fazer. É inevitável. Agora, se você estimula isso, você estimula um clima que não é conveniente para o país.

Guerra fiscal

Repórter: Falando agora sobre a guerra fiscal. A posição do Rio Grande do Sul e de alguns estados do Nordeste que querem se unir contra São Paulo e contra o Rio Grande do Sul também.

Covas: Querem se unir contra São Paulo e contra o Rio Grande do Sul não, eles querem se unir a favor da guerra fiscal, não é isso? Nós nos unimos contra a guerra fiscal. Outro dia estava um grupo grande de jornalistas lá no Palácio dos Bandeirantes e eu mostrei para todos eles a lei. A lei, para quem quiser ver, é a lei 24 de 1975. É a lei que criou o ICMS. Ela diz que você não pode dar incentivo nem direto, nem indireto, nem por empréstimo, nem por transferência, por qualquer meio. E diz que, quando isso acontecer, o Estado para onde a mercadoria vai tem o direito de desconsiderar o crédito. E se o crédito é desconsiderado, você cobra de quem recebe a mercadoria. De forma que o que foi feito agora foi a repetição do artigo oitavo dessa lei, que nos permite fazer o que a lei determina. Porque quem está fazendo aquilo está cometendo um crime e, portanto, o que a lei diz que você tem que fazer é exatamente o que nós fizemos. Agora, se entenderem que devem recorrer à Justiça, não tenho nada contra. O que a Justiça disser que isso que nós fizemos, que está escrito na lei, é ilegal, então ela está dizendo que o que os outros estados fazem é legal. Portanto, eu posso fazer a mesma coisa que eles fazem. Não tem segredo nenhum. Olha, se há alguém que tenha interesse que o Brasil inteiro fique rico é São Paulo. São Paulo é o estado produtor, quanto mais rico ficar, melhor. E não é essa história que se pega lá no jornal da Bahia que está escrito que São Paulo é contra os pobres. Que conversa é essa? Metade da população daqui não nasceu aqui, veio de outros estados. E nós os recebemos, sabendo que eles inclusive contribuem para o progresso de São Paulo. Ninguém está contra isso. Mas não venha com essa história de que a gente é contra pobre. A gente é contra o não cumprimento da lei.

Repórter: Quanto São Paulo perdeu com essa guerra fiscal?

Covas: Não é o que ele perdeu em dinheiro. É difícil você avaliar isso porque, às vezes, você nem sabe da coisa. Quando você vê a empresa já está lá no outro lado e gozando de favores de natureza fiscal, que são péssimos porque você paga pelo favor de natureza fiscal. Se derem um favor fiscal – eu vou fazer uma hipótese – em Rondônia. O que eles fazem? O cidadão que vende em Rondônia, vende pagando ICMS, portanto esse produto vem para cá e você, quando comprar, você paga ICMS. Só que lá em Rondônia, o ICMS ou o valor do ICMS é devolvido para a empresa. Então, o Estado perde, a empresa ganha e o consumidor perde. Pior, você vai fazer uma concorrência absolutamente disparatada, predatória. Agora, pior é o emprego. Ainda querer fazer isso para trazer uma empresa do exterior, vai lá. Mas fazer isso para trazer uma empresa que está noutro estado, que está produzindo empregos no Brasil, está produzindo aqui dentro, capital nacional.

Repórter: O que o senhor achou daquela matéria da revista Época, sobre o Benito Gama aqui no ABC, tentando seduzir empresas de São Paulo para levar para a Bahia?

Covas: Ele veio aqui? Eu duvido que venha no ABC. Duvido muito que ele venha no ABC. Mas, enfim, tem todo o direito de vir. Será até muito bem recebido aqui em São Paulo. Será muito bem recebido. Agora, é muito descaramento vir aqui oferecer o que é contra a lei para levar empresa que está dando empregos aqui para lá. Vai buscar nos Estados Unidos uma empresa, vai buscar na Europa uma empresa. Ainda assim não pode fazer isso. Mas não vão fazer isso. Vem fazer isso em cima do emprego daqui. Olha, a gente tem uma dificuldade aqui em São Paulo, porque para mim, para São Paulo, é muito mais difícil fazer isso porque você não pode dar para uma empresa nova. Senão a mesma coisa que você tem que dar para a empresa do mesmo ramo antiga. Paraná, por exemplo, o Paraná importou duas ou três montadoras. Fez favores fiscais enormes para elas. Teve que fazer para as três, porque depois que fez para a primeira teve que fazer para as outras duas. Imagina eu, agora, importando uma montadora e dar para ela o que não dá para as outras montadoras que já estão aqui. Como é que faz? Agora, se a Justiça entender que o que nós estamos fazendo, que está escrito literalmente na lei, estou dando para vocês o número da lei, vocês podem procurar. É lei número 24 de 1975. Foi a lei que instituiu o ICMS. Pega o artigo primeiro e pega o artigo oitavo. O artigo oitavo é exatamente o decreto que nós fizemos.