Trechos da entrevista coletiva do governador Mário Covas após a inauguração da fábrica da Delphi em

Parte I

ter, 22/08/2000 - 14h52 | Do Portal do Governo

Trechos da entrevista coletiva do governador Mário Covas, concedida na manhã desta terça-feira, dia 22, após a inauguração da fábrica de compressores para ar condicionado CVC – Delphi Automotive Systems, em Jaguariúna:

Parte I

Corrupção

Pergunta – Eu queria que o senhor comentasse a frase do presidente Fernando Henrique de que a corrupção está cada vez mais ousada.

Covas – É verdade, aliás em vários setores, não é só no funcionalismo e sim em todas as áreas e precisa ser combatida. É que são usos e costumes que não são fáceis de ser extirpados e depois as coisas caminham muito depressa, o desenvolvimento tecnológico caminha muito depressa. Nós estamos instalando em São Paulo o Governo Eletrônico. Nós temos uma porção de áreas, hoje você já não tem mais posto fiscal, tem posto fiscal só nominalmente, você paga tudo por computador e essa é uma maneira de se evitar que a corrupção possa existir. Hoje você pode fazer uma queixa para a delegacia de Polícia pelo computador. É uma delegacia virtual. Hoje grande parte da administração está informatizada, nós precisamos chegar ao fim do Governo com a tecnologia de informação totalmente dominada em toda a administração e essa é, sem dúvida nenhuma, é uma maneira de você diminuir a intervenção pessoal contribuindo para que as coisas sejam mais certas. Não é só isso. É que há uma tendência na área pública das pessoas manterem o conhecimento de uma área apenas para si, ela não distribui isso para as outras pessoas. Então elas se tornam imprescindíveis porque elas tem o domínio, o conhecimento, a história daquele setor. Enquanto que quando você tiver isso num banco de dados, informatizado… A primeira experiência foi com os contratos de terceirização. Eu coloquei todos os contratos de terceirização no computador e apenas esse fato deu para ver o preço de cada contrato de cada área. Com isso, a gente conseguiu fazer com que quem quisesse continuar trabalhando tivesse de vir para a média de todos os preços. Nós conseguimos mais de R$ 2 bilhões de economia nos quatro anos de Governo. Ou seja, essa coisa passou a ter um controle que deixou de ser pessoal. No fim de cada mês eu recebo a relação com os preços médios. O resultado é por exemplo o seguinte: outro dia eu ouvi uma acusação no jornal de que havia uma empresa cujo dono era meu amigo e portanto fornecia refeição para os presos a um preço caríssimo de R$ 5,80. No dia seguinte, foram ver no Rio de Janeiro e custava R$ 9,80, aí correram para Minas Gerais e viram que custava R$ 6,50. Só que essa que custa hoje R$ 5,80, custava quando eu assumi R$ 13,50 e você pôde diminuir porque certamente teve instrumental, tirando a negociação pessoal de cada um e trocando essa negociação por dados que são indiscutíveis, com mecânicas de controle que são indiscutíveis. Isso ajuda muito no combate da corrupção e corrupção não é só roubo, corrupção é desperdício, é desinteresse, é uma porção de coisas, é usar mal o dinheiro público.

Pergunta – O senhor acha que as medidas anunciadas pelo presidente são suficientes?

Covas – Eu não vi todas as medidas. Eu vi na televisão por itens, você não sabe se está tudo ou não está tudo. Eu vi que não pode receber mais do que R$ 100 de prêmio. Não sei se o cara recebendo R$ 200, fica com R$ 100 e devolve os outros R$ 100. Isso vale? De qualquer maneira, qualquer medida que seja tomada nessa direção é boa.

Pergunta – Essas medidas são suficientes para diminuir a corrupção?

Covas – Suficiente nada é. Também não vamos perder a auto-estima imaginando que corrupção só existe no Brasil. Isso é papo. Corrupção existe no Brasil e existe no mundo e onde se tem mais dinheiro ela é mais valiosa, mas só porque é mais caro, mas corrupção existe em todo lado. Nós não somos campeões mundiais em corrupção, embora aqui algumas teorias que acabaram se consolidando ajudem isso. Teoria do jeitinho, que é uma outra forma de corrupção. A teoria do favor, do amigo, tudo isso são formas menos ostensivas mas igualmente de prejuízo do dinheiro público. É muito difícil você criar regras que tornem imprescindíveis. Tentativa nessa direção como fez o Governo Federal devem produzir algum resultado, devem produzir algumas normas que devem ser obedecidas que favorecem isso. Mas dizer que isso sozinho resolve, não. O que resolve é todo um movimento cultural que envolve toda a sociedade. Quem é que não sonega imposto? Quem faz declaração de imposto de renda e coloca tudo direitinho. Só se não puder. Se for trabalhador aí está frito porque ele não coloca a mão no dinheiro. Algumas dessas coisas são consideradas normais. Por isso que eu sempre digo que o aspecto da vulgarização da violência influi muito para a violência.