Trechos da entrevista coletiva do governador Mário Covas

Parte I - Entrevista foi concedida após a cerimônia de posse do novo presidente da CDHU Nelson Peixoto Freire

qui, 20/01/2000 - 14h30 | Do Portal do Governo

Trechos da entrevista coletiva do governador Mário Covas concedida na manhã desta quinta-feira, dia 20, após a cerimônia de posse do novo presidente da CDHU Nelson Peixoto Freire

I PARTE

Repórter: O senhor fez um discurso mostrando claramente que está até magoado com tudo o que está sendo dito…

Covas: Não, magoado eu não estou. Eu tenho que tomar minha posição. Eu acho que uma das funções de quem governa é essa, é encarar cada fato e ter um julgamento próprio. Até que quem de direito faça o seu julgamento e, portanto, você respeita decisões de outros poderes que tenham funções específicas. Mas eu não acho razoável uma condenação por conta de ‘alguém falou’, ‘isso se disse’, ‘isso se fez’, ou ‘se pediu’. É engraçado, porque essas obras foram contratadas no Governo anterior. Em todas elas a concorrência foi feita no governo anterior e eu não vejo ninguém da administração anterior sendo objeto de processo.

Repórter: O Tribunal de Contas revê a opinião que tem sobre esses contratos?

Covas: Se ele refez? Não, não refez.

Repórter: O senhor espera que ele reveja essa opinião?

Covas: Eu não sei se ele revê. Está na Justiça para a Justiça decidir se vale ou não. Agora, o Tribunal de Contas aprovou as contas da CDHU de 95, 96 e 97.

Repórter: Não são só os contratos do Chamamento Empresarial que foram reprovados?

Covas: Não, não são. Do nosso Governo tem dois de 143.

Repórter: Mas tem os contratos de segurança também.

Covas: Dois, exatamente esses dois. Os únicos dois que foram feitos no nosso Governo. Começados e terminados no nosso Governo, e é uma operação de prevenção. Estava fazendo uma concorrência para esse serviço e se prorrogou, esperando o resultado da concorrência, se prorrogou por seis meses, que terminariam quando a concorrência estivesse julgada.

Repórter: A própria diretoria da CDHU não teria condição…

Covas: Chega de conversa sobre a CDHU. Eu já disse para vocês lá o que eu achava e ponto final. Eu não vou ficar discutindo mais o assunto.

Repórter: Eu tenho uma dúvida ainda. A própria diretoria não tinha o poder para não assinar esses contratos sobre os quais há suspeita de irregularidade?

Covas: Ele não era proibido. E, primeiro, não tinha suspeita de coisa nenhuma. Nenhum dos contratos foi rejeitado pelo Tribunal de Contas por conta de que houvesse suspeita nos contratos. O que o Tribunal de Contas diz é isso … porque o camarada tem que entrar com o terreno e limita o número de concorrentes. Mas ele não disse que teve nenhuma safadeza. E safadeza quando se faz concorrência…

Repórter: Teve superfaturamento em alguns terrenos.

Covas: Não, não. O negócio do superfaturamento é história que o Manuel inventou de que você vendeu um terno e disse que o botão custa tanto. Quando você está comprando um imóvel pronto, pouco importa qual é o preço que você atribui para a veneziana, para a privada, ou para o que seja. Qualquer que seja o preço relativo que você ponha, o total está pré-fixado. Então, eu te digo, eu te vendo isso aqui (e pegou o gravador do repórter) por mil reais e te digo: a fita para gravar custa novecentos e noventa e nove, o resto eu te dou por um. Você diz: ‘É um absurdo, não pode custar um’. Que importa? Se eu disser que isso custa 999 e isso custa um, custa mil reais do mesmo jeito e o que eu estou comprando custa mil reais.

Repórter: Mas e se a fita fosse mais barata, não baratearia o preço final?

Covas: Mas é feita uma concorrência. É feita uma concorrência pública e ganha quem dá o menor preço.

Repórter: Governador, vamos falar um pouquinho de guerra fiscal. (Os outros repórteres reclamam que querem fazer mais perguntas sobre a CDHU.)

Covas: Chega, o que eu tinha de falar da CDHU já falei, não falo mais, acabou. Não venham com esse assunto. Vão lá se informar das coisas. Vocês nem sabem que isso foi feito no Governo anterior. A grande maioria foi assinada no governo anterior. Quer que eu te diga quantos? Eu te digo quantos. Não é o que o menino lá do jornal fala, que são 143? Olha aqui, Chamamento Empresarial são 80 dos 143. Os 80, a concorrência foi feita antes de 95. Alguns contratos foram assinados depois de 1995. Aí vem imediatamente a pergunta: ‘Mas por que assinaram?’. Porque até então o Tribunal de Contas não disse que estava errado. No dia que o Tribunal de Contas disse que estava errado, não assinaram mais nenhum.

Repórter: O senhor disse que enquanto não tiver uma decisão final todo mundo é inocente. Então, o Maluf…

Covas: Bem, ele já foi condenado. E o Maluf não está em discussão. Por favor, não me faça falar do Maluf, porque se a gente começar a falar do Maluf… Aqui dentro, você comparar o Maluf com o Goro Hama é uma coisa acintosa.

Repórter: Eu não quis…

Covas: Quer sim. Não adianta, vocês cuidam de outra coisa. Esse Governo é sério. Não pega por aí. Diz que eu sou louco, que sou idoso, que estou esclerosado, diz essas coisas. Agora, não adianta, seriedade, não adianta, não tem comparação. Esse não é um Governo de ladrões. Não é e vocês sabem disso. Só que vocês têm uma fixação. Nesse país, quem não é ladrão, a gente precisa, até para ficar com a consciência tranqüila, provar que é ladrão também.

Repórter: Governador, mas ele (Goro Hama) tem 100 inquéritos, tem cinco ações do Ministério Público.

Covas: Pode ter 50. Quantas o teu amigo Maluf tem?

Repórter: Não sei, nunca fiz as contas. E ele não é meu amigo.

Covas: Tudo bem, e como é que do Goro você sabe? Quer dizer, para você foi mais importante ver o Goro do que o Maluf?

Repórter: Não, porque o Goro está no Governo agora e o Maluf não está.

Covas: Ah, sei. Quando o Maluf estava no Governo você via todo dia lá?

Repórter: Não, eu não era jornalista naquele tempo.

Covas: Não era jornalista naquele tempo?