Trechos da entrevista coletiva do governador Geraldo Alckmin, após autorização de investimentos para

Parte I

qua, 18/04/2001 - 17h54 | Do Portal do Governo

Parte I

Furp

Pergunta – Governador, a Furp fornece remédios não só para os 645 municípios paulistas mas também para outros Estados. Eu queria que o senhor falasse sobre isso.

Alckmin – O fato importante hoje é que a Fundação para o Remédio Popular praticamente dobra a sua capacidade de produção. Hoje ela produz 1,2 bilhão de unidades por ano e com esse novo investimento de R$ 4,3 milhões ela passará a produzir mais de 2 bilhões de unidades de remédios por ano, podendo chegar a 2,4 bilhões de unidades. E só para o Programa Dose Certa são 41 tipos de remédios diferentes. Esses remédios produzidos pela Furp abastecem a Secretaria de Saúde, ou seja, as Unidades de Saúde das prefeituras do Programa Dose Certa. O Governo entrega o remédio para as prefeituras, dos 645 municípios. Só faltava São Paulo, porque a Capital não era do SUS. Agora é que está havendo a municipalização e as Unidades Básicas de Saúde da prefeitura também vão receber o Programa Dose Certa: 41 tipos de remédios diferente, inclusive na rede da prefeitura aqui de São Paulo, onde, gradativamente, as Unidades Básicas de Saúde vão entrando no programa. Atende hospitais filantrópicos, Santas Casas, inclusive de outros Estados. Tem ISO 9002 em várias áreas, o programa de qualidade, e que com essa nova ampliação, com essa nova obra, vai poder estender esse programa para outras áreas, inclusive aqui da Furp. Ela teve uma enorme recuperação sob o ponto de vista financeiro, novos modelos gerenciais e faz um bom trabalho.

Pergunta – Como o senhor explica a concorrência internacional. Parece que tem problema na hora de comprar matéria-prima porque existe uma pressão das empresas internacionais. Como é que é isso?

Alckmin – Em relação à formulação de medicamentos, a própria Furp faz a sua configuração. Ela formula, faz pesquisa. Agora a compra de matéria-prima… o que você tem aqui no País você compra aqui, o que não tem, compra fora. Mas a própria formulação de medicamentos é feita aqui na Furp. E isso foi um grande avanço. Ela não tem fins lucrativos, essa fábrica. Ela tem alta qualidade, ela tem custo mais baixo e possibilita, no programa Dose Certa, você dar o remédio. Quer dizer, no programa Dose Certa não é que a pessoa compra mais barato, não. O remédio é dado à pessoa que é atendida pelo SUS.

CPI da Corrupção

Pergunta – Governador, ontem o Senado conseguiu o número suficiente de assinaturas para a criação da CPI da Corrupção. Qual a opinião do senhor com relação à CPI?

Alckmin – Olha, eu já falei e manifestei mais de uma vez que, na realidade, você fazer uma CPI tão ampla quanto esta proposta da CPI da Corrupção… Mas qual corrupção? Há coisas antigas que já foram investigadas e o caso da Sudam está sendo investigado. Aliás, investigado pelo próprio governo. Acompanhado pelo Ministério Público, pela Corregedoria, pela Polícia. Cada dia que você abre o jornal, tem alguém preso nesse episódio da Sudam. Então, as coisas estão acontecendo. Eu acho que você abrir uma CPI tão vasta, tão ampla, com espectro tão amplo, sem ter uma questão mais objetiva, eu não acho recomendável. Eu acho que isso é ruim para o País, num momento de crise internacional, em que o País resiste a estas crises internacionais para superar suas dificuldades, você vai criar mais um fator de instabilidade prejudicial, não só ao Governo, mas ao País. A investigação está ocorrendo, no caso da Sudam, inúmeras pessoas estão sendo presas, o problema está sendo bem encaminhado.

Pergunta – E no caso da fraude da violação do painel eletrônico, governador?

Alckmin – Eu acho que é grave. E acho que as instituições precisam ter condições de resolver os seus problemas, quer dizer, de fazer o seu trabalho. Eu fui deputado federal, quando houve a questão dos chamados ‘anões do orçamento’. A Câmara Federal tomou medidas. Eu acho que essa questão cabe ao Senado Federal. É um problema interno do Senado que cabe ao Senado averiguar, apurar essas denúncias de violação, tomar essas providências necessárias.

Pergunta – O senhor acha que o senador José Roberto Arruda pode perder o cargo de líder envolvido nessas acusações, governador?

Alckmin – Olha, primeiro eu acho que precisa ser apurado. Você teve uma denúncia e ela precisa ser constatada, apurada. O cargo de líder é um cargo de confiança do Governo. Não cabe a mim opinar sobre isso.

Sequestro e PCC

Pergunta – Governador, com relação ao sequestro da filha do diretor da Casa de Custódia de Taubaté. O PCC assumiu a autoria. Que medidas o Governo pretende tomar?

Alckmin – Eu queria até fazer uma colocação sobre isso que é a seguinte: não se deve, nessa questão de sequestro, tratar essa questão pela imprensa. Eu acho que ela é prejudicial, ela não colabora para a solução do problema, envolve medidas de segurança do próprio Governo. Eu acho que essa questão é um princípio que nós temos enquanto o quadro não seja elucidado e a questão não esteja sendo resolvida, não tratá-la pela imprensa. Porque eu acho que não colabora para se resolver bem a questão.

Pergunta – Governador, não seria uma ação terrorista se o PCC pára de atuar dentro dos presídios e começa a atuar fora agora? Porque esse sequestro… já teve o caso da família em Araraquara…

Alckmin – É uma situação grave, mas eu acho que as medidas todas estão sendo tomadas. Mas não se deve pela imprensa explicitar o que está ocorrendo. As medidas estão sendo tomadas e os procedimentos na área de segurança.

Pergunta – Governador, o senhor não acha que está muito na teoria? Tem que haver uma ação imediata e energética em relação a isso. Está todo mundo falando, o secretário Petrelluzzi fala que vai conter, o senhor diz que não negocia com bandido, mas não está na hora da prática, de uma ação energética?

Alckmin – Eu acho que um dos poucos Estados brasileiros que agiu e agiu com firmeza em relação ao crime organizado foi São Paulo. São Paulo pôs o dedo na ferida, teve coragem de tomar medidas no sentido de desarticular o crime organizado. Fez as transferências, tirou do Carandiru líderes do crime organizado. Houve aquela reação, aquelas 29 rebeliões simultâneas. O Governo não voltou atrás um milímetro. Foi firme na questão, enfrentou o problema, nenhum preso escapou, não foram aceitas nenhuma das chantagens naquele momento e outras medidas foram tomadas. Então, se há alguém que está trabalhando, tomando medidas práticas, agindo com firmeza, com coragem e não fazendo de conta que o problema não existe, essa paz dos pântanos, mas está enfrentando os problemas é São Paulo. Claro que cada ação que você faz, você tem uma reação, que é enfrentada e é equacionada, que é o que nós estamos fazendo. O que eu não quero, nesse momento, enquanto o problema não está solucionado, é pela imprensa antecipar fatos que são da Segurança Pública.

Pergunta – Agora, governador, o senhor fala que as medidas estão sendo tomadas, mas a impressão que se passa é de que as medidas estão sendo tomadas, mas a cada semana há uma nova ação do PCC e que essas medidas não estão surtindo o efeito que a população espera. É essa sensação que a população tem.

Alckmin – A melhor prova de que as medidas do Governo foram corretas, necessárias e imprescindíveis é a reação. Se o Governo não tivesse feito nada, como acontece em muitos estados brasileiros, estava tudo naquela paz do cemitério. Naquela paz de que não há, do faz de conta que eu não vejo. Exatamente porque o Governo tomou, está tomando e vai tomar medidas é que há a reação. E nós não temos que ter medo da reação, nós temos que enfrentar as reações.

Pergunta – O senhor não acha que tem que acabar com as reações? Porque as reações estão prejudicando…

Alckmin – Você tem que enfrentar a reação. Acabar com a reação não depende do Governo. Se dependesse do Governo, já tinha acabado. Se a reação existe, o Governo vai enfrentar.

Pergunta – Está difícil de enfrentar?

Alckmin – Claro que é difícil. Mas o importante é que não é pela dificuldade que o Governo não deve tomar medidas. Pelo contrário. São Paulo teve a coragem de tomar medidas firmes e duras. Nós podemos até conversar mais sobre esse tema, mas eu acho que quando há sequestro, uma vida em risco, essas questões não devem ser tratadas através da mídia.

Pergunta – O governo reconhece o PCC?

Alckmin – Olha, esse assunto PCC a gente trata em seguida.

Pergunta – O plano de proteção para as famílias está em estudo ou a criação de uma elite policial para acabar com o trabalho do PCC, ou de qualquer outra organização fora dos presídios?

Alckmin – Existem inúmeras medidas que já foram tomadas, estão sendo tomadas, vão ser tomadas. Nós transmitiremos à imprensa, mas acho que esse momento não é o adequado.

Pergunta – O Governo vê a atuação do PCC como terrorismo?

Alckmin – É crime organizado. Na realidade, o que acontece… Não é a única facção, não. Tem até mais crime organizado, verdadeiras quadrilhas que atuam, atuam fora, atuam dentro. E o que tem que se fazer é enfrentar e combater.

Pergunta – Essa é bem maior. Eles falam que têm dois mil homens armados do lado de fora. Quer dizer, um crime muito bem organizado, governador, e é isso que está causando o terror na população … O senhor acha que a família do secretário Nagashi Furukawa corre algum risco?

Alckmin – Eu acho que as medidas precisam ser tomadas independente de outras questões. E as medidas estão sendo tomadas pelo Governo. O secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, é um homem competente, está fazendo um trabalho sério. Não apenas enfrentando organizações criminosas, mas reformando o sistema penitenciário de São Paulo. Para se ter uma idéia, na história de São Paulo foram abertas 18 mil vagas no sistema penitenciário. O governador Mário Covas abriu 22 mil vagas e nós chegaremos, até dezembro do ano que vem, com 45 mil vagas. Preso trabalhando. Cada três dias de trabalho reduz um dia de pena, estudando através de telecursos, penitenciárias desde segurança máxima, passando por Centro de Progressão Penitenciária, CDPs. Ontem mesmo autorizamos mais um Centro de Detenção Provisória em Mogi das Cruzes para atender a região Leste de São Paulo para os presos provisórios. A desativação do Complexo da Casa de Detenção do Carandiru, que é o símbolo da falência do sistema penitenciário brasileiro, com unidades menores, com oficinas, com cozinhas onde o preso trabalha. Então está se fazendo um trabalho sério, um trabalho correto, não apenas circunstancial mas um trabalho de conteúdo, de fundo e que não vai parar por problemas que surgem. Problemas existem para a gente enfrentá-los e resolvê-los.

Pergunta – Governador, a medida tomada pelo secretário Petrelluzzi há algum tempo, para parar um pouco a violência, foi de que os policiais não podiam atirar em áreas letais dos bandidos e também teriam que preencher um questionário. Isso não favorece aos bandidos, aos presos, que estão atirando em qualquer lugar das pessoas?

Alckmin – Não. Não há nenhuma medida no sentido de que não pode atirar aqui ou ali. Se você tem um enfrentamento com o bandido, atira onde se faz necessário. Se há uma polícia que tem agido com firmeza e profissionalismo é a Polícia de São Paulo. Eu acho que qualquer pessoa por exemplo, entende que o Choque da Polícia Militar é uma polícia de elite. Então a Polícia tem trabalhado. Aliás, a prova disso é o número de presos. Por que tem tanto preso? Porque tinha 55 mil presos há seis anos atrás e hoje tem 95 mil. Em seis anos se prendeu 46 mil pessoas. Mais do que a população carcerária do Rio de Janeiro.

Leia também a última parte da entrevista