Trechos da coletiva do governador Mário Covas após inauguração do Centro de Detenção Osasco II

Parte I

qui, 13/07/2000 - 17h25 | Do Portal do Governo

Parte I

Repórter – Qual a importância desse presídio em Osasco para o Estado de São Paulo?

Covas – Esse não é bem um presídio na sua concepção original. Este é um Centro de Detenção Provisória, ou seja, os que para aqui vierem são os que ainda não foram condenados. Vão liberar os distritos que hoje estão superlotados e acolher aqueles que ainda não foram condenados. Os que forem condenados, vão para a Penitenciária. Os que forem considerados inocentes serão libertados imediatamente.

Repórter – Essa é uma meta do seu governo?

Covas – É. Nós já entregamos quatro desses aqui e estamos entregando mais dois. Presídios nós construímos 22 e estamos construindo uma leva nova. Vinte e dois é uma quantidade grande. Mais do que se fez em 100 anos aqui em São Paulo. É que a polícia tem prendido muita gente, muito mais do que prendia antes. Das duas mil que se prendia antes passamos a prender nove mil. Por isso, a população carcerária cresce de uma maneira quase exponencial. Quando assumi tínhamos 55 mil presos e hoje temos 89 mil e do jeito que as coisas estão caminhando vamos chegar ao fim do ano com 100 mil presos. Entre pessoas que entram e pessoas que saem dá uma média de 1200 a 1500 a mais por mês.

Repórter – O resultado prático obtido nos Centros que já foram entregues pode ser observado?

Covas – Pode. Aqui perto tem um outro é só ir lá e ver. É igual. Está funcionando e funcionando bem. Em nenhum dos três tivemos qualquer problema depois que iniciamos.

Repórter – O que de prático eles ajudam a diminuir a violência?

Covas – Em primeiro lugar, você não carrega os distritos policiais e, consequentemente permite que a Polícia Civil desempenhe o trabalho dela que é o de carceragem. Se você for hoje nos distritos vai ver que todas as celas estão superlotadas a um nível insuportável. Tem salas de 40 pessoas com três vezes esse número. E o que é o pior, são todos misturados. O cidadão que foi encontrado bêbado na rua fica junto com criminosos de alta periculosidade. Os policiais não têm como tomar conta da carceragem fazer o seu trabalho que é investigação. Entre outras coisas, porque outro ponto é a tranquilidade da população, e o tratamento decente. Você olha essas instalações e vê que são dignas. Você na sua profissão (como repórter) já teve oportunidade de ver uma cela de delegacia de polícia? É uma coisa…porque não foi feita para prender mesmo. Aquilo foi feito para deixar a pessoa enquanto se faz o boletim de ocorrência ou coisa desse tipo. Tanto que quando mando tirar o pessoal já mando derrubar a cela que é para não voltar a ser usada.

Repórter – Esse modelo ajuda a recuperar presos?

Covas – É muito mais fácil. Você tem instalações educacionais, instalações para trabalho. Outro dia foi feita uma mostra, não sei se vocês tiveram a oportunidade de ver, do que se produz hoje nas prisões. É um erro pensar que nas prisões ninguém trabalha. Trabalha sim. Há um rol muito grande de coisas que eles fazem e que são vendidas. Por exemplo: carteira de escola quem faz são os presos. A Secretaria de Educação se abastece na Funap que é uma fundação de assistência ao preso.

Repórter – Governador, esta semana tivemos notícias de que mais de 500 presos teriam fugido de distritos policiais e de penitenciárias só nos primeiros meses deste ano. O que o senhor acha desse número?

Covas – De distritos policiais acredito, de penitenciárias acho difícil porque o número de pessoas que fogem de penitenciárias é extremamente pequeno em face da população que é de mais de 40 mil pessoas, nas penitenciárias. Tem cinco pessoas trabalhando lá (nos distritos policiais) entra um grupo de dez pessoas armadas com as mais modernas armas as quais a polícia não pode dispor porque são de uso exclusivo das Forças Armadas e soltam as pessoas. A fuga também é muito mais fácil porque as instalações do distrito não foram construídas para abrigar preso.

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