Trechos da coletiva do governador Mário Covas após anúncio dos avanços do Genoma Humano do Câncer

Parte final

sex, 21/07/2000 - 17h49 | Do Portal do Governo

Parte final

Repórter – Agora, se ele estiver no Brasil, o senhor entende ou dá a entender que a Polícia Federal está sendo lenta?

Covas – Não. Em primeiro lugar eu coloco nisso todas as polícias, não só a Polícia Federal. Em segundo lugar, o que eu digo é que é muito difícil alguém se esconder dentro do Brasil e a polícia não encontrar. Muito difícil. Se você fosse o Lalau, onde você se esconderia?

Repórter – Não consigo imaginar.

Covas – Imaginar tu consegue, tu não consegue é ser o Lalau. Consegue? Ia para a casa de algum amigo rico, na praia ou na montanha. Não tem tanto amigo rico assim. Ele tem parentes. Mais cedo ou mais tarde vai telefonar para um deles.

Repórter – Se ele está no Brasil, então por que não encontram?

Covas – Não sei por que não encontram. Eu não estou procurando. Não sei por que não encontram. O que eu acho difícil é por um tempo razoável você ficar desaparecido. É a tal história. O outro, como chama o outro que sumiu rapidamente? O tal de Cacciola. Estava preso, soltaram por 24 horas, aí quiseram prender de novo. Pumba, sumiu. Não é difícil sumir. Não é difícil nem sair do Brasil, nós temos fronteira com uma porção de países.

Repórter – O senhor acha que a Polícia Federal tem interesse que o juiz Nicolau seja encontrado?

Covas – O Nicolau teve CPI. Vocês não lembram mais como essa coisa começou? Essa história começou com um tiro numa coisa que acertou em outra. O PMDB resolveu apresentar uma CPI sobre o Banco Central, não foi? Aí, o presidente do Senado resolveu apresentar, em contrapartida, uma contra o Judiciário. Acabaram chegando lá e ainda pegaram um senador. Essa coisa vista à distância já ninguém lembra o que foi.

Repórter – Mas, o Governo tem interesse em que ele seja encontrado? O senhor acha que o Governo teme que quando ele for preso revele algum tipo de ligação?

Covas – (risos) Daqui a pouco, vocês vão dizer que ele vai aparecer igual ao PC. Não, o Governo não tem medo de coisa nenhuma, de que apareça coisa nenhuma. Pelo contrário, tem interesse em que apareça. Olha aqui, outro dia o meu amigo Walter Feldman, que era líder do Governo, chegou aqui com 12 pedidos de CPI. Disse: “Qual é o que o senhor tem preferência?”. Eu disse: “Nenhuma. Pode por as 12. Aprovar as doze’. Às vezes, a gente até erra fazendo uma porque, numa delas, a da Educação, que tinha sete emendas, acabaram votando com quatro e fazendo uma coisa que eu só vi acontecer no tempo da Arena. Ou seja, mudar o deputado na hora da votação. Votaram inteiramente errado porque o voto do presidente foi em separado e presidente não dá voto em separado. Ele só dá voto decisivo, de “Minerva”. E usaram aquele voto em separado para dizer que eu não usei o dinheiro na Educação. Duas deputadas do PT, aliás da minha cidade, mais um deputado do PL e mais o presidente da Comissão. Só votaram os quatro. E o que foi pior, o do PL foi trocado na hora da votação. Eu só vi fazer isso na votação da Comissão de Constituição de Justiça, no processo do Mário Moreira Alves, quando a Arena trocou todos os deputados da Arena.

Repórter – O senhor acha que a CPI é um bom caminho para investigar?

Covas – É um caminho de Congresso. É um caminho que os parlamentos usam. Sim, é um bom caminho. Eu nunca impedi nenhuma CPI. Mas, vou contar pela segunda vez a mesma história, na esperança de que um dia vocês publiquem. Nem todo mundo pensa assim. Eu assinei todas as CPIs que passaram na minha mão, mesmo não concordando com o que se dizia. Gente boa como o Suplicy não pensa assim. Um dia, eu assinei uma CPI, tal qual todas as outras, relativa à CUT. E ele veio falar comigo pedindo para eu tirar minha assinatura. Eu disse: “Mas eu assino todas”. E ele: “Eu também, mas essa aí é contra a CUT”. Nem todo mundo pensa igual.

Repórter – Se o senhor estivesse lá, assinaria a CPI para investigar o caso Eduardo Jorge?

Covas – Eu não tomaria a iniciativa, mas, se passasse pelas minhas mãos, eu não negaria a minha assinatura e aí eu ia contar com a assinatura do Suplicy.

Repórter – Governador, eu não entendi. O senhor disse que o deputado Walter Feldman quis aprovar na Assembléia apenas as CPIs que não fossem esbarrar no Governo?

Covas – Não, não, não. CPI sobre a Serra do Mar interessa ao Governo, por exemplo. Ele trouxe a relação. Você tem uma ordem naquilo. Eu disse que me interessavam as 12. Não pode fazer todas ao mesmo tempo. Como também qualquer coisa que vocês saibam do Governo, é só vir me contar. Se estiverem certos, pode saber que tomo providências porque quem tem mais interesse sou eu.

Repórter – Voltando ao metrô, o senhor vai dar alguma ordem específica ao secretário?

Covas – Uma ordem específica para o secretário é supor que a coisa está acontecendo por negligência do secretário. Evidente que o secretário é o mais interessado em que não haja esse problema.