Trecho da Mata Atlântica perto de rodovia abriga aves ameaçadas de extinção

Levantamento foi feito para mestrado, pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba

dom, 10/02/2008 - 19h09 | Do Portal do Governo

Em levantamento feito entre agosto de 2002 e janeiro de 2005, foram encontradas quatro espécies de aves consideradas em risco de extinção habitando o Núcleo Cubatão do parque estadual da Serra do Mar: um casal de papagaios de cara roxa (Amazonas brasiliensis), um gavião pomba (Leucopternis lacernulatus), uma mãe da lua (Nyctibius aethereus) e macucos (Tinamus solitarius). Os dois primeiros constam da lista oficial brasileira, ou seja, estão ameaçados de extinção no Brasil todo, e os outros dois estão na lista estadual de São Paulo. 

O levantamento foi feito pela bióloga Sandra Agnello para sua dissertação de mestrado Composição, estrutura e conservação da comunidade de aves da Mata Atlântica no parque estadual da Serra do Mar – Núcleo Cubatão, São Paulo, pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba. A pesquisadora admite que as descobertas foram muito além de suas expectativas. “Não esperávamos encontrar qualquer espécie indicadora de qualidade naquela região”, admite, “por ser uma área muito degradada devido a construção da rodovia Anchieta-Imigrantes”.

A descoberta mais surpreendente para ela foi encontrar espécimes de papagaio de cara roxa, do qual só havia indícios no Paraná e no extremo sudeste do litoral de São Paulo.

Mapeamento

Sandra encontrou 168 espécies de aves na área pesquisada, que corresponde a cerca de 10% do Núcleo Cubatão. Depois, classificou as aves de acordo com seu padrão social, hábito alimentar e habitats.

Quanto ao padrão social, a maioria eram aves solitárias – 43%. Apenas 24% delas apresentavam formações de bandos e o restante andava em casal ou em grupos pequenos.

Já o hábito alimentar também trouxe bons resultados. Enquanto mais da metade, 52%, se alimentam de insetos, e 23% são frugívoros (comem frutos), apenas 1% se alimenta de grãos. Segundo a bióloga, isso demonstra que a área é conservada porque a degradação propicia o desenvolvimento de plantas invasoras produtoras de grãos. Quanto menor a proporção de aves granívoras, mais conservado será o local.

Esperava-se, também, que a grande concentração de aves se desse no interior da mata. No entanto, constatou-se que 49% delas viviam na borda, inclusive perto da rodovia. “Nas bordas é onde se encontra maior distribuição de frutos e de bandos”, explica Sandra.

Comparações

A pesquisa comparou os resultados observados com outros estudos realizados no Sudeste do Brasil. Em termos de hábitos alimentares, localização em relação ao interior ou borda, as porcentagens foram muito semelhantes comparando com um estudo realizado em área de mata cortada pela Estrada da Petrobrás, em Salesópolis, interior de São Paulo, também se levando em conta que é uma mata que sofreu a interferência de rodovias.

Em relação à Juréia, no litoral Sul de São Paulo, que encontra-se em melhor estado de preservação, os resultados foram similares. No entanto, a pesquisa da Juréia abrangia uma área muito maior, tanto de encostas (como no caso da pesquisa de Sandra), como também de baixa e altas altitudes.

De Naila Okita, especial para a Agência USP de Notícias

(C.C.)