As causas mais freqüentes de morte encefálica são traumatismo craniano, acidente vascular cerebral (derrame) ou tumor no sistema nervoso central. Dois médicos não participantes da captação e do transplante fazem o diagnóstico de morte encefálica e um exame complementar. Com esses cuidados, Boni esclarece que não existe erro médico.
Constatada a morte encefálica, o profissional responsável pelo paciente precisa acionar rapidamente o serviço de captação ou OPO. Enfermeiros de uma dessas instituições vão àquele local e conversam com os familiares.
“Não convencemos a família enlutada a doar os órgãos e apoiamos sua decisão, independentemente de qual for”, frisa Boni. Em 1997, uma lei federal determinava a expressão “não doador de órgãos e tecidos” em carteiras de identidade e de habilitação das pessoas que não queriam ajudar o próximo após sua morte. Quem não se manifestava, subentendia-se que desejava. Mas essa regra deixou de valer há alguns anos.
Portanto, hoje a autorização ou negativa depende exclusivamente dos familiares do potencial doador, que indicam inclusive quais órgãos serão doados.
Coração pára
A entrevista deve ser realizada numa sala que ofereça bem-estar aos familiares. Se consentirem, assinam termo de doação e a OPO preenche ficha com todas as informações do doador e comunica à Central de Transplantes.
Assim que os dados clínicos do falecido chegam à Central, são cadastrados no sistema, que seleciona os possíveis receptores. Essa análise depende do tipo de órgão, sendo que cada caso tem critério específico de prioridade. Vencida essa etapa, a Central comunica à equipe médica do receptor, que se encarrega de retirar os órgãos e tecidos do doador. O processo todo – do preenchimento da ficha ao início da cirurgia para retirada dos órgãos – deve levar no máximo seis horas. “Essa etapa precisa ser rápida porque, se o coração parar de bater, todos os órgãos são perdidos”, informa Boni.
A morte encefálica significa a morte do paciente, apesar de o coração continuar batendo. “O coração tem ritmo próprio e continua a funcionar por algum tempo. Até chegar um momento que pára”, explica.
No esforço para aumentar o número de doações, desde agosto de 2006 a Central de Transplantes realiza cursos de aperfeiçoamento destinados a médicos e enfermeiros representantes das dez OPO do Estado de São Paulo. O treinamento teórico e prático aborda temas como identificação e diagnóstico de morte encefálica, como é feita a entrevista familiar e discussão de casos. Até hoje 300 profissionais de saúde já foram treinados.