Teste visual de Cambridge é utilizado em crianças brasileiras

Experimentos foram feitos com crianças com idade entre 2 e 7 anos

dom, 23/11/2008 - 18h04 | Do Portal do Governo

No Laboratório da Visão, Psicofísica e Eletrofisiologia Visual Clínica, do Programa de Neurociências e Comportamento (NEC) do Instituto de Psicologia (IP) da USP, pesquisadores realizam experimentos para avaliação da visão de cores em crianças com idade entre 2 e 7 anos. Os cientistas adaptaram um teste visual usado em adultos, o Cambridge Colour Test, da Universidade de Cambridge, Inglaterra, e o aplicaram em quase 80 crianças. Os resultados dos experimentos foram publicados recentemente na revista internacional Vision Neuroscience.

Os testes de visão de cores em crianças ainda não são muito utilizados no Brasil. Segundo Márcio Leitão Bandeira, engenheiro químico e aluno de graduação do Instituto de Psicologia (IP) da USP, a obtenção de dados sobre a visão de crianças, da forma que foi feita, é um trabalho pioneiro. Sob a orientação da professora Dora Fix Ventura, do Departamento de Psicologia Experimental, Bandeira adaptou o Cambridge Colour Test em duas etapas. Na primeira delas, o teste foi aplicado em 25 crianças de 2 a 7 anos de uma escola particular. “Antes aplicamos o mesmo teste em 30 adultos. Os padrões estiveram de acordo com o esperado e foi semelhante nos dois grupos”, conta.

Numa segunda adaptação, outras 53 crianças, também entre 2 e 7 anos, passaram pelo teste na creche da USP. Os padrões de resposta continuaram os mesmo, mas desta vez mais rápidos. Segundo Bandeira, o teste adaptado está pronto para que sejam constituídas normas de uso.

Mudança gráfica Bandeira conta que o Cambridge Colour Test é um software utilizado principalmente por universidades. “Não é muito comum sua utilização em consultórios oftalmológicos, por exemplo.” No software original, é exibido na tela de um monitor um arranjo constituído de vários círculos com variações de cinzas e determinados círculos recebem um matiz diferente que formam uma letra “C”. “Percebemos que a utilização do teste original em crianças era pouco intuitivo devido ao uso de uma letra do alfabeto como estímulo. Além disso, a instrução do teste é indicar a abertura do “C”, exatamente onde não há cor”, conta Bandeira.

Numa das adaptações, ao invés da letra C, Bandeira usou arranjos quadrados em que as cores iam variando de tonalidade. Numa outra versão, ele utilizou cinco quadrados sobre a tela da primeira versão de modo que apenas as áreas onde o estímulo de cor pudesse aparecer ficassem visíveis. As adaptações permitiram que as crianças detectassem as diferenças de matiz com maior rapidez. As imagens eram exibidas na tela de um monitor e o experimentador registrava as respostas das crianças (toque na tela) numa caixa de resposta. “Para as crianças com idade entre 2 e 3 anos a aplicação foi um pouco mais difícil”, aponta.

Os testes foram realizados num clima de jogo e, mesmo com a maioria dos resultados estando dentro dos padrões normais, Bandeira conta que foram detectadas crianças com algumas dificuldades na discriminação de cores, baseando-se nas normas adultas.

Entre as doenças mais comuns que podem afetar visão de cores estão a diabetes mellitus tipo 2, a distrofia muscular de Duchenne, hipertensão arterial, neuropatia óptica de Leber, além de intoxicações por vapor de mercúrio e medicamentos como cloroquina ou hidróxi-cloroquina. “É comum as pessoas descobrirem suas dificuldades em relação à visão de cores somente na idade adulta”, lembra Bandeira.

Os estudos no Laboratório da Visão, Psicofísica e Eletrofisiologia Visual Clínica do IP tiveram início em 2006 e foram concluídos neste ano de 2008. Márcio Bandeira teve apoio do CNPq e seu trabalho foi um dos destaques da 14ª edição do Simpósio Internacional de Iniciação Científica da USP (SIICUSP), em 2006.

Mais informações:  (11) 3091-1915 , no Laboratório da Visão, Psicofísica e Eletrofisiologia Visual Clínica do IP; ou e-mail marciobandeira@gmail.com, com Márcio Bandeira

Por Antonio Carlos Quinto, da Agência USP de Notícias

(C.C.)