Tese de aluno da Unicamp estuda uso racional da água para a agricultura

Engenheiro agrícola desenvolve na Feagri protótipo de equipamento de baixo custo que monitora a umidade do solo

dom, 10/02/2008 - 12h47 | Do Portal do Governo

A agricultura irrigada tem sido apontada como uma das grandes vilãs do desperdício de água no Brasil. O manejo inadequado por parte de agricultores tem levado ao consumo exagerado desse recurso natural. Não por outra razão, alguns estados, entre eles São Paulo, criaram nos últimos anos legislações impondo a cobrança pelo uso da água na irrigação, bem como em outras atividades produtivas, como forma de combater abusos. Pesquisa desenvolvida para a tese de doutoramento de Márcio William Roque, apresentada na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, traz novas contribuições para o aproveitamento racional da água na agricultura. Ainda como conseqüência do estudo, o pesquisador criou o protótipo de um equipamento que monitora a umidade do solo, cujos similares comerciais são importados a preços elevados.

O estudo se refere ao campo que os especialistas classificam de agricultura de precisão. Como o nome sugere, a técnica consiste no desenvolvimento de métodos e tecnologias que assegurem maior exatidão às atividades do setor. No caso do trabalho executado pelo engenheiro agrícola, o objetivo foi avaliar a dependência espacial dos atributos físico-hídricos do solo e verificar que relações estes têm com o nível de produtividade. A cultura escolhida pelo autor da tese foi o feijão. “Optei por esse grão porque, além de ser bastante estudado, tem grande importância na dieta do brasileiro”, explica.

Manejo inadequado, consumo exagerado

O feijão selecionado para estudo foi semeado no campo experimental da Feagri, como cultura de inverno, durante as safras de 2005 e 2006. A área cultivada foi dividida em quatro parcelas, cada uma medindo 20 x 30 metros. O plantio foi realizado sob os sistemas direto irrigado e não-irrigado e convencional irrigado e não-irrigado. A estimativa do conteúdo de água e a amostragem do solo foram realizadas em uma malha amostral com 60 pontos por parcela, espaçadas de três em três metros. Ou seja, ao todo foram definidos 240 pontos amostrais. O passo seguinte foi aplicar a técnica chamada Reflectometria no Domínio do Tempo (TDR, na sigla em inglês), para monitorar a umidade no solo nos pontos definidos.

Como as sondas do equipamento de TDR são importadas e caras, o engenheiro agrícola decidiu desenvolver dispositivos similares que servissem às suas necessidades. A finalidade era chegar a um protótipo que tivesse baixo custo e pudesse, numa etapa posterior, vir a ser produzido em larga escala, de modo a tornar-se acessível aos agricultores. “Nós construímos as sondas a partir de fôrmas de silicone. O primeiro modelo não ficou bom, apresentava vazamento. Depois de alguns aperfeiçoamentos, chegamos a um modelo melhor, que serviu muito bem aos testes de campo”, conta Márcio.

Segundo o engenheiro, o método de construção mostrou-se operacional, porque  permitiu a produção de um grande número de sondas (cerca de 300) num curto espaço de tempo. “Penso que são uma alternativa às similares importadas de alto custo”, analisa. O desafio seguinte foi calibrar adequadamente os dispositivos de medição. A partir de cálculos e equações específicas, foi determinado o melhor ajuste possível do equipamento. Márcio revela que foram realizadas diversas calibrações, tanto em laboratório como no campo, para tornar as medições cada vez mais precisas. “Uma das conclusões a que chegamos foi que a curva de calibração sugerida pela literatura não se aplica ao solo estudado. Já a curva ajustada mostrou que pode ser usada para fazer a estimativa da umidade do solo”, afirma.

Por meio do acompanhamento apurado do nível de umidade do solo, esclarece Márcio, é possível usar a irrigação de modo mais racional, contribuindo, assim, para a redução do consumo de água e dos custos de produção. “Quando se usa água demais, aumenta-se o gasto com energia elétrica, visto que é preciso usar bombas para retirar o recurso dos rios e córregos. Além disso, a água em excesso, além de contribuir para a erosão do solo, tende a arrastar fertilizantes e defensivos agrícolas, ocasionando prejuízos aos agricultores. Uma segunda conseqüência desse problema é a contaminação do lençol freático e de cursos naturais de água”, adverte o pesquisador.

Da Assessoria de Imprensa da Unicamp / Agência Imprensa Oficial

(C.C.)